Instituto dedicado à harmonia muda a vida de 20 mil pessoas
É possível ensinar algo abstrato como a harmonia? Sim, garante o arquiteto José Roberto Marinho Bueno, 54 anos, fundador do Instituto Harmonia, que desde 2010 oferece espaços de convivência e aprendizagem a crianças, jovens, adultos e idosos, por meio de teatro social, jogos, terapia corporal, oficinas para pais e filhos de desenho, canto, histórias, música, dança e até a milenar arte marcial do Aikido, em São Paulo.
O instituto objetiva trabalhar no encantamento do ser humano, a partir de pequenos gestos coletivos que transformem os sonhos em realidade, ressaltando que “a sociedade funciona de maneira colaborativa e não apenas competitiva”. Desenvolvem as atividades cerca de 30 profissionais.
As experiências co-criativas em educação, liderança, sustentabilidade e convivência já foram vivenciadas por 20 mil pessoas nos últimos quatro anos. “A expressão do carinho como uma forma de poder, na gentileza, na atenção, e no cuidado pode ser percebida na interação entre diferentes gerações”, diz Bueno, que também ministra workshops, palestras e cursos em diversos locais, que envolvem desde os executivos mais graduados do País até jovens egressos de abrigos.
Filosofia harmônica vem de 1994
Durante as palestras e atividades do Harmonia, os participantes aprendem ensinamentos do Aikido como elemento de ajuda no enfrentamento das dificuldades e resistências, com elegância e efetividade. (O Aikido foi criado como uma resposta aos efeitos da 2ª Guerra Mundial para relembrar e fortalecer a vocação amorosa da natureza humana.)
“Quero assegurar um legado que possa servir para outras pessoas, em qualquer lugar do País e do mundo, e isso passa pelo Instituto ser organizado para que o pensamento e as ações sejam visíveis e replicadas, independente da minha presença”, diz Bueno.
O embrião do Instituto foi o “Dojo Harmonia”, que completa 20 anos de atividades em 2014, e agora está sendo implantado em rede, isto é, sem a necessidade de ocorrer em local fixo. Segundo Bueno, o Dojo é um ambiente propício para criar condições para o encantamento e a expressão da potencialidade do ser humano. Um espaço onde as pessoas podem não apenas conversar, mas desenvolverem, juntas, uma experiência transformadora.
“A experiência pode acontecer em um café, ou durante um bate-papo despretensioso, como foi com um geógrafo em São Paulo, no qual descobri que a cidade possui mais de 400 riachos. Isto originou a iniciativa ‘Rios e Ruas’, em que as pessoas descobrem a existência de água por todas as partes da capital paulista”, diz Bueno. “Harmonizar é ter um olhar para a cidade, a apropriação do lugar em que vivemos em uma reconexão afetiva com o local onde moramos.”
Em relação ao futuro, o criador do Harmonia orgulha-se em dizer que o Instituto não tem um plano de negócios definido e que “tudo caminha conforme o imprevisto, e não como o planejado”.
“Não irei conseguir resolver os problemas de guerras no mundo ou a distribuição desigual de recursos no País, mas trabalho por justiça social, de acordo com a forma com que interagimos e expressamos nossas convicções”, conclui.