'Brasil precisa de mais educação', diz Pedro Lourenço
O estilista lança coleção de maquiagem em parceria com a M.A.C e é o primeiro brasileiro a trabalhar com a grife
O estilista Pedro Lourenço acaba de lançar, em parceria com a M.A.C, sua primeira coleção de maquiagem, composta por 11 produtos e que chega às lojas da marca nesta sexta-feira (29), nos 38 pontos de venda no Brasil e em outras lojas do mundo. Os preços variam de R$ 66 (esmaltes em dois tons, nude e vermelho) a R$ 156 (estojo Nude Quad, com quatro tons de sombras nude).
Esta é a primeira parceria que a M.A.C faz com um criador brasileiro. "Me sinto muito honrado de ter sido o escolhido. Quando vieram conversar comigo, me disseram que havia outro nome do País, que não trabalha com moda, concorrendo comigo", afirmou o jovem estilista, de 23 anos, filho de Reinaldo Lourenço e Glória Coelho. O lançamento da coleção, que começou a ser desenvolvida há dois anos, foi no showroom do estilista em São Paulo, no bairro de Pinheiros, ao lado do espaço de sua mãe.
Simpático e respondendo a todas perguntas dos jornalistas, em entrevistas que durarão o dia todo, Pedro falou da Copa, do Brasil, de seus desfiles aqui e em Paris, de como desenvolveu a coleção de maquiagem e de sua nova estratégia em vender as roupas desfiladas. "O maior problema do Brasil é a falta de incentivo à educação", disse.
Inspiração
"Desenvolvi a linha junto com a coleção de inverno que apresentei no Brasil ano passado, inspirada em Carmen Miranda e em fotos de Marisa Berenson nos anos 70. Para roupa, pensei em muito nude e em texturas, volumes e transparências que lembravam a pele e por consequência a maquiagem. Por isso, o nude também nos produtos.É um tom sensual, com transparência ou com opacidade. É fascinante porque qualquer elemento diferente sobre ele se destaca. Coloquei cores, como o vermelho e o roxo nos batons. Tem dourado, brilho e mate. Usar o batom, com o gloss por cima fica chique."
Apesar de ter venda mundial, Pedro pensou em produtos que atendessem a todos os tipos de pele das brasileiras. Daí a variedade de nude, que também atende a mulheres do mundo todo, já que no Brasil há muita miscigenação "A M.A.C me deu total liberdade para criar. Poderia ter feito qualquer loucura, mas desde o começo sabia o que queria. É sempre assim com minhas criações. Então não foi difícil." Pedro disse que pensou em uma mulher moderna, que respeite sua individualidade.
Desfiles
"Os desfiles em Paris são um sonho realizado. Em Nova York, lançava as pré-coleções, mas preferi reduzir isso e reestruturar a empresa para realmente poder atender aos clientes com eficiência. Agora, as roupas desfiladas em Paris serão encontradas apenas em um ponto de venda em todo o mundo, que mudará a cada coleção. A última coleção apresentada será vendida numa loja da Itália. A próxima, será encontrada numa outra loja que tem três unidades. Ainda não posso falar os nomes. Mas haverá também venda online. As peças serão numeradas e a cliente escolhe o modelo que ser feito para ela."
Desfile no Brasil
Cada semana de moda aqui é uma caixa de pandora para mim. Não quero perder a ligação com o Brasil, onde tenho 40 pontos de venda. Minha última apresentação assim foi uma coleção cápsula apenas para o Brasil. Não sei como será o próximo, se vou desfilar ou não. Cada vez faço um formato diferente. Não sei como será."
Copa
Perguntado sobre o que acha da Copa do Mudno do Brasil, Pedro disse que não tem nada contra, mas não tem acompanhado muito o noticiário sobre como foi feito o planejamento da competição. "Acho que ficaria com raiva. O Brasil pode ter Copa, outras competições ou o que for. Não é isso que fará o País crescer. Se nada for feito em relação à educação básica, nada muda." Pedro vai aproveitar a onda futebolística para lançar algo relacionado à Copa. "Vocês terão notícia semana que vem"
"Há muitos talentos criadores no Brasil, um país com muitos jovens estilistas. Mas não é possível crescer aqui se não houver um incentivo do governo na indústria têxtil. Temos uma fonte rica em história, em possibilidade, em natureza. Uma gente fonte de inspiração, mas ainda há muitos problemas na indústria e há barreiras alfandegárias."
Estereótipo
"O Brasil é muito conhecido lá fora pelo futebol e Carnaval, mas há um lado moderno e urbano que os criadores aqui estão explorando. Temos uma arquitetura moderna maravilhosa, temos metrópoles. Isso está começando a mudar também lá fora. Eu me inspirei na Carmen Miranda, mas sem o estereótipo tropical. Isso, porém, não me impede de fazer uma coisa mais explícita alguma outra vez. Mas é possível estabelecer códigos que não sejam óbvios e folclóricos."
Influência
"Claro que meus pais me influenciaram e eu herdei alguns de seus talentos. Já minha relação com a beleza veio com minha mãe e a M.A.C sempre a acompanhou, assim como a Yves Saint Laurent. Ela tinha apenas essas duas marcas na gaveta. Alguns eram batons bem escuros. Um dia me comprou um linha de purpurina da M.A.C para eu brincar."
Futuro
"Acredito muito nas possibilidades tecnológicas para a moda. No meu último desfile no Brasil, fiz bijoux em impressoras 3D. Acredito que, em pouco tempo, poderemos produzir roupas dessa forma. Estou muito interessado nestas possibilidades", afirmou Pedro, que tem como objetivo manter sua saúde mental e, para isso, estuda cabala, lê muito e começa a se interessar por fotografia. "Mas como gosto de fazer tudo de forma completa, isso não passa apenas de um interesse, por enquanto."
Criação
"Engraçado que só consigo criar em movimento. Tenho as ideias quando estou andando, correndo, na bicicleta. Imagino os looks completos, tudo. Depois, a parte mais trabalhosa é passar tudo para a prancheta."
Modelo
Tahirine Garcia, de 16 anos, é modelo que ilustra a coleção limitada de maquiagem de Pedro Lourenço para a M.A.C. "Trabalho com ela desde que ela tinha 12 anos. Ela se trasnforma, muda, incorpora um personagem. É isso que queria passar para a maquiagem." A modelo estreou no último São Paulo Fashion Week, já que antes não tinha idade para pisar na passarela, apenas para fotos.
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