As mil fontes de Yerevan

Solly Boussidan, de Yerevan

Yerevan é um local especial. A cidade é provavelmente a capital mais tranquila do Cáucaso e possui atrações de sobra para manter o visitante entretido por vários dias. Mesmo assim, não é o tipo de cidade que apaixona à primeira vista.

Muito da arquitetura local data do período soviético, o que significa que as áreas residenciais são grandes blocos idênticos e que os prédios governamentais são colossos funcionais de fachada neo-clássica. Mesmo assim, a extensiva utilização de pedra-tufo nas construções resultou em uma cidade onde o tom predominante é o lilás e violeta, valendo o apelido carinhoso dos habitantes de capital cor-de-rosa.

O principal marco referencial de Yerevan é a Praça da República, onde se situam prédios governamentais, o hotel Marriott, a prefeitura e o Museu Histórico Nacional em uma grandiosa área oval que forma a segunda maior rotatória do mundo. Além da arquitetura impressionante, durante a primavera e o verão o local serve ainda de palco da maior fonte musical do Cáucaso – um espetáculo que ocorre diariamente das 20 às 23 horas e que merece ser admirado.

O grandioso prédio do Museu Histórico possui uma excelente coleção de artefatos das tribos proto-armênias, além de utensílios domésticos, joias, vestimentas, objetos religiosos e de guerra que contam 7 mil anos da história da região e suas populações. Nenhum item, no entanto, impressiona tanto quanto o sapato mais antigo já encontrado. O pequeno calçado de couro é exibido no segundo andar do museu e data de quase 6 mil anos, tendo inclusive cadarços intactos – o sapato foi encontrado em uma caverna no sul da Armênia há cerca de um ano por uma equipe de arqueólogos que realizavam pesquisas na região. O museu abriga ainda uma bela galeria de artes, que, entre outros, exibe relógios armênios e europeus de mais de cinco séculos. A entrada custa cerca de €2.

A partir da Praça da República, chega-se à Praça da Liberdade, também conhecida como Praça da Ópera. O local é palco frequente de manifestações de oposição ao governo, além do esplêndido teatro que abriga ótimas produções de nível internacional. Por todo o trajeto, cafés e bares ladeiam as ruas e alamedas – os habitantes locais costumam ir de café em café, para encontrar amigos, jogar conversa fora e tomar uma boa cerveja gelada.

Outro importante marco da cidade e próximo à Ópera é a construção conhecida como “Cascata” (Cascade). É difícil definir exatamente o local, que possui um parque com estátuas no melhor estilo Botero diante de si. O Cascata é na realidade uma gigantesca escadaria com balcões onde fontes e esculturas são iluminadas. Há também jardins espalhados ao longo da estrutura, que servem de local para encontros entre jovens namorados e adolescentes. Para quem não deseja “escalar” a Cascata, durante o dia é possível subir ao seu topo por escadas rolantes que funcionam no seu interior, aproveitando a oportunidade para ver o Museu de Arte Moderna que fica aí. Do alto da Cascata há uma bela vista panorâmica de Yerevan, com uma escultura em forma de vela, que celebra os mortos da Segunda Guerra Mundial.

Próximo ao topo da Cascata fica o Parque da Vitória, onde uma gigantesca estátua chamada de “Mãe da Armênia” figura em meio a uma exposição de artefatos militares utilizados nas guerras do país e um parque de diversões com uma roda gigante que permite uma das vistas mais belas da capital.

Outra visita emocionante e imperdível é o Memorial e Museu do Genocídio. Situado em meio a um amplo parque, o memorial celebra os cerca de 1,5 milhões de mortos pelo Império Otomano em 1915 e a perda de quase 80% do território da Armênia histórica. Uma grande chama eterna em meio a pedras tombadas relembra os mortos e as províncias perdidas, enquanto um gigantesco obelisco partido ao meio representa o grande e o pequeno Monte Ararat, símbolos da religiosidade armênia e onde supostamente a Arca de Noé parou após o dilúvio. O Ararat, lindo, é visível de diversos pontos de Yerevan, mas para a melancolia dos armênios, com as guerras, acabou ficando do lado turco da fronteira, a 60 quilômetros de distância da capital.

Para quem busca compras interessantes e lembrancinhas, uma passagem pela Avenida Mashtots e suas imediações é imprescindível. Além do Mercado Municipal, onde é possível comprar flores e diversas frutas cristalizadas recheadas com nozes e amêndoas, há também nos fins de semana um grande mercado de pulgas, conhecido como Vernissage. Aí é possível encontrar lembrancinhas, suvenires, artesanato e artigos de arte para todos os gostos e bolsos.

Para finalizar, Yerevan conta ainda com uma fortaleza-museu conhecida como Erebuni e datando de mais de 30 séculos, um museu dedicado à história do alfabeto armênio e visitas guiadas às famosas fábricas de conhaque.