A simpática cidade de Diamantina
foi o cenário de uma das mais deliciosas histórias da História
do Brasil. Foi lá que Chica da Silva encantou o nobre contratador
de diamantes João Fernandes. Diz a lenda que até mesmo a torre
da Igreja do Carmo teve de ser mudada de lugar para não perturbar
o sono da beldade. Tudo por simples capricho, uma vez que Chica
da Silva não podia freqüentá-la. É a única Igreja Barroca
que tem a Torre atrás da nave central!
É
uma cidade musical. Há música por todos os cantos, becos e vielas.
Assim que chegamos fomos saudados pelos sons dos bares, de MPB
a saxofone, pelo axé que vibrava alto nos alto-falantes dos carros
(e eles são megalomaníacos: o aparato acústico é de fazer inveja
a trios-elétricos!), isso sem contar as famosas serestas que encantavam
o filho mais nobre da cidade, Juscelino Kubitschek.
Mais
uma vez, os monumentos históricos são belíssimos! Não perca a
Igreja do Rosário com sua cruz engolida pela árvore, o Passadiço
da Glória que liga as construções do colégio Nossa Senhora das
Dores, a casa de Chica da Silva e a de Juscelino, o mercado antigo,
a Igreja do Carmo e o museu de mineralogia. Passear pelas Ruas
de Diamantina é muito mais fácil que escalar as ladeira de Ouro
Preto, mas mesmo assim exige pernas! Outra vez, os olhos agradecem
o esforço dos membros inferiores e preste muita atenção às janelas.
São lindas! Dê especial atenção às que tem muxarabi, uma espécie
de grade para ver sem ser visto.
As belezas naturais são de arrebentar!
Não deixe de fazer o passeio pelas cachoeiras até chegar à cachoeira
do Cristal. O paredão rochoso é fantástico. Nesse mesmo trajeto,
você vai encontrar o povoado de Biribiri, que em tupi significa
buraco fundo . Uma antiga tecelagem, agora desativada, abriga
uma das mais charmosas vilas que visitamos. A Igreja construída
em 1879 é multicolorida e singela, e possui um belo relógio presenteado
pela família imperial. A fabrica impressiona e as casinhas do
vilarejo quase abandonado dão a impressão de ter se perdido no
tempo, tudo isso emoldurada pelas águas do rio. A antiga ponte
de acesso caiu com as chuvas e é outro belo cartão postal.
Caminhadas
relativamente curtas e fáceis são o caminho dos Escravos e o Mirante.
O caminho dos escravos foi parcialmente recuperado e agora chega
até o Bar Altitude onde podemos descansar e matar a sede. O local
é mágico, cercado de quartzos brancos e vegetação de cerrado que
faz a caminhada ainda mais especial. No pôr-do-sol é indiscritível.
Mas o mais belo pôr-de-sol de Diamantina está no Mirante. O sol
se esconde por trás da cidade, iluminado os arredores de tons
amarelos e vermelhos. Preciso dizer que a caminhada compensa?
A
região toda é muito bonita e não deixe de visitar Serro, São Gonçalo
das Pedras e Milho Verde. No Serro, além das Igrejas (não perca
a de Santa Rita que é o Postal da cidade), você ainda vai se encantar
com a Chácara do Barão e o Museu de Teofilo Otoni. Há na cidade
um artesão fantástico que está tentando resgatar a antiga arte
dos paneleiros como eram chamados os habitantes da região.
Zé Dias tem uma escultura chamada Santíssima Trindade que é impressionante,
pelo nonsense, bem na entrada de seu ateliê. Confira. A cachoeira
dos Malheiros também não pode deixar de ser visitada. O rio passa
por dentro de um montanha de pedras e desemboca numa queda belíssima.
Há quem diga que já passou pelo túnel de pedras para chegar até
a cachoeira.
São
Gonçalo do Rio das Pedras possui duas belíssimas cachoeiras, uma
delas, pasmem, no centro do vilarejo! Nem preciso dizer que é
imperdível. Milho Verde foi resgatada da estagnação por Milton
Nascimento que imortalizou a linda Igreja de Nossa Senhora do
Rosário na capa de um de seus discos. Mas não espere grandes monumentos
históricos. O show fica por conta da natureza. Visite as cachoeiras
do Piolho e do Moinho (toda cercado por moinhos de pau a pique),
dê um mergulho nos poços da cachoeira do Lageado, bem ao pé da
pedra da Tartaruga e encante seus olhos com as variedades de canelas-de-ema
(uma simpática flor da região dos cerrados da espécie Velloziaceae)
que é abundante por lá.
Cuide bem do horário de almoçar. Todos
os restaurantes fecham após as 15h00. Experimente a salada e a
suruba do restaurante Grupiara, em Diamantina. Divino! Em Biribiri,
experimente o frango ao molho pardo do Seu Francisco.
A
região é mais afastada, está já no início do Vale do Jequitinhonha,
mas visitar as cidades históricas e não passar por Diamantina
é como ir a Roma e não ver o Papa. Assim como Paraty, a região
foi feita para ser descoberta aos poucos. Um carro é fundamental.
A serra que leva até Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras
é de terra, mas super bem conservada e agradável.
Como
chegar, onde ficar e outras dicas:
Saia
de Belo Horizonte pela BR 040. Depois siga pela BR 135 e BR 259
- Surpresa das surpresas: Estão todas recém recapiadas e em ótimo
estado. A viagem é tranqüila, apenas tome cuidado com os animais
na pista.
Hotéis
e Pousadas:
Pousada
Flor da Pedra - Rua Burgalhau, 596. Tel.: (038) 531-3882 - Diamantina
- Diárias a R$ 15,00 por pessoa, com café da manhã
Pousada Vila do Príncipe - Rua Antônio Honório Pires, 38 - Tel.:
(038) 541-1485 - Serro - Diárias a partir de R$ 30,00 por pessoa.
Pousada Morais - Tel.: (038) 971-0280 - Milho Verde - Diárias
a R$ 20,00 por pessoa com pensão completa.
Pousada Refúgio dos Cinco Amigos - Tel.: (038) 531-2510 no posto
telefônico - São Gonçalo do Rio das Pedras.
Comidinhas:
Não
deixe de passar no Armazém de Milho Verde. Você vai delirar com
os petisquinhos de lá!
Restaurantes:
Restaurante
Grupiara - Rua do Contrato, s/n - Diamantina - Tel.: (038) 531-3887
Restaurante do Raimundo Sem Braço - Rua José Anacheto Alves, na
BR 367
Restaurante Itacolomi - Pça Dr. João Pinheiro, 20 Tel.: (038)
541-1227 - Serro
fotos:
João Alcará
1-
vista da janela da casa de Chica da Silva
2- antigo caminho dos escravos
3- igreja de N.S. do Rosário, em Milho Verde