Um estudo preliminar sugere que exercer uma profissão ou ter habilidade na área de artes ou desenho está associado a um risco maior de desenvolver distúrbio dismórfico corporal, obsessão com imperfeições pequenas ou imaginárias na aparência.Um especialista em saúde mental que não participou da pesquisa lembrou, no entanto, que essa ligação pode não ser válida. Por isso, mais pesquisas são necessárias para confirmar os resultados.
"Esse resultado é muito preliminar", disse David Veale, coordenador da equipe do Hospital Priory North London, na Grã-Bretanha. "É necessário pesquisar mais para verificar se esse é um fator de risco real para o desenvolvimento do distúrbio dismórfico corporal."
De acordo com a hipótese formulada pela equipe de Veale, as pessoas que "desenvolvem um olhar mais crítico e apreciam a estética" poderiam aplicar esses valores à própria aparência.
No estudo, os pesquisadores avaliaram 100 pessoas com distúrbio dismórfico -- também conhecido como dismorfofobia (medo de se tornar deformado) -- atendidas em um hospital psiquiátrico particular. Como parâmetro de comparação, analisaram ainda 100 pacientes com depressão, 100 com distúrbio bipolar e 100 pessoas com distúrbio por estresse pós-traumático.
A equipe de Veale constatou que um em cada cinco pacientes (20 por cento) com distúrbio dismórfico corporal trabalhava ou tinha formação em algum campo das artes ou do desenho, como arquitetura ou desenho gráfico, segundo artigo publicado na edição de outubro do American Journal of Psychiatry.
Em comparação, apenas 4 por cento dos pacientes com depressão grave, 3 por cento dos portadores de distúrbio bipolar e nenhum paciente do grupo com estresse pós-traumático trabalhou ou teve formação similar, indicaram os resultados.
Não ficou claro, porém, se os pacientes afetados pelo distúrbio dismórfico corporal eram mais propensos a procurar formação e profissões relacionadas à arte e desenho ou se as pessoas que trabalhavam nesse campo tinham tendência maior a desenvolver a enfermidade, comentaram os autores da pesquisa.
Estudos anteriores já haviam associado outras profissões a um risco mais elevado de desenvolver determinados distúrbios mentais, apontaram os cientistas. Os bombeiros, por exemplo, são conhecidos por ter um risco maior de sofrer de distúrbio por estresse pós-traumático, enquanto os bailarinos apresentam uma tendência maior a desenvolver distúrbios alimentares.
Em comentário sobre a pesquisa atual, Kathy HoganBruen, diretora do departamento de prevenção da Associação Nacional de Saúde Mental, em Alexandria (Virgínia), afirmou considerar as descobertas "interessantes". No entanto, ela discordou da idéia inicial dos pesquisadores de que possa existir uma associação entre o distúrbio dismórfico corporal e a profissão ou a formação em artes ou desenho.
"Acho que a premissa e a hipótese inicial são falhas. Eles estão dando um salto um pouco grande" para mostrar a conexão entre uma apreciação estética e uma preocupação com defeitos imaginários, disse a especialista.
Mesmo assim, "informações importantes podem ser obtidas por meio de conexões entre determinados problemas de saúde mental e algumas carreiras, especialmente quando se leva em consideração a prevenção de doenças mentais e a promoção da saúde mental", afirmou HoganBruen.
