COP-30 tem nova manifestação de indígenas contra projetos na Amazônia
Protesto ocorre um dia após o secretário da ONU cobrar o governo brasileiro sobre reforço na segurança
ENVIADAS ESPECIAIS A BELÉM - Uma manifestação dos indígenas Mundurukus bloqueou o acesso principal da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), em Belém, no início da manhã desta sexta-feira, 14. Eles protestam contra o plano de hidrovias nos rios Tapajós, Madeira e Tocantins, além de projetos de créditos de carbono. A entrada para a conferência da ONU foi feita por uma entrada lateral.
Como o Estadão mostrou, há uma série de megaprojetos previstos pelo governo federal na Amazônia, que podem ser acelerados com o novo licenciamento ambiental. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem afirmado buscar a qualidade técnica e segurança ambiental desses empreendimentos.
Os manifestantes também protestam contra projetos de crédito de carbono, considerados por eles como uma "venda da floresta".
O presidente da COP-30, embaixador André Corrêa do Lago, falou com as lideranças indígenas e disse serem "legítimas" as reinvindicações do grupo. "Vamos conversar, vamos dialogar", afirmou à imprensa logo após ir até o protesto, junto da CEO da conferência, Ana Toni.
Corrêa do Lago deixou a entrada da Zona Azul de mãos dadas com as lideranças indígenas e foi para um prédio vizinho, onde uma reunião com as lideranças foi realizada.
Questionada sobre se a manifestação interfere os trabalhos da COP-30, a CEO, Ana Toni, disse que "de jeito nenhum". Conforme o Estadão apurou, "algumas coordenações tiveram de ser adiadas ou não aconteceram com todos os grupos presentes".
Após o protesto, Corrêa do Lago e as ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) se reuniram com os manifestantes.
Durante a reunião, Guajajara diferenciou o movimento desta sexta-feira da manifestação que ocorreu na terça-feira, quando houve a invasão da Zona Azul.
"Vocês chegaram hoje pacíficos, com documento, chamando para falar e a gente feio falar. É diferente do outro que chegou quebrando tudo sem pedir para falar com ninguém. Eles não estavam pedindo diálogo, eles chegaram já destruindo", disse.
Na noite de terça-feira, 11, um grupo de indígenas e integrantes do Coletivo Juntos, ligados ao PSOL, tentou acessar a área restrita a credenciados e foram contidos pela segurança.
Os manifestantes conseguiram ultrapassar o sistema de raio X, mas foram parados por um bloqueio antes de acessarem o local. Dois seguranças ficaram feridos e portas da entrada foram quebradas.
Ao final da reunião com as lideranças indígenas, Corrêa do Lago, Marina Silva e Guajajara falaram com a imprensa. A ministra dos Povos Indígenas afirmou que o protesto é legítimo e disse que informou os indígenas sobre o processo demarcatório de terras de interesse dos Munduruku. "Vamos seguir providenciando para que a gente avance nesses processos até o final ainda deste ano", disse.
Já a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o Ibama fará uma nova ação de fiscalização no território dos indígenas Munduruku, após denúncias de novos invasores. Sobre a Ferrogrão, Marina disse que "não existe um pedido de licenciamento dentro do Ibama, esse processo está judicializado", afirmou.
A ministra disse ainda que vai encaminhar as denúncias e reivindicações ao Ministério de Minas e Energia e ao ministério dos Transportes.
André Corrêa do Lago afirmou que a presidência da COP vai tentar "levar adiante todas as preocupações que eles têm", disse.
Na saída da reunião, a líder Alessandra Munduruku afirmou que não considera que o objetivo do grupo tenha sido alcançado. "A gente quer falar com o presidente Lula", disse.