Brasil pode ter 12 dias sem água por ano até 2050, aponta estudo
Regiões mais secas do Nordeste e Centro-Oeste podem ter situação mais severa, com previsão de mais de 30 dias do ano sem abastecimento
Estudo alerta para uma redução anual de 3,4% na disponibilidade hídrica no Brasil até 2050, prevendo 12 dias de racionamento por ano, com impactos mais graves no Nordeste e Centro-Oeste, podendo superar 30 dias sem água.
Um estudo do Instituto Trata Brasil projeta que a disponibilidade de água nas cidades brasileiras terá uma queda média de 3,4% ao ano até 2050 — o equivalente a cerca de 12 dias de racionamento anuais. Nas regiões mais secas do Nordeste e Centro-Oeste, a situação é mais severa, com previsão de mais de 30 dias do ano sem abastecimento.
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Conforme o estudo “Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”, divulgado nesta terça-feira, 28, em parceria com a consultoria Ex Ante, a demanda por água tratada no País deve saltar 59,3% nas próximas duas décadas. O crescimento será impulsionado pelo aumento das temperaturas, expansão urbana e desenvolvimento econômico.
Diante desse cenário, a pesquisa alerta para os desafios no abastecimento, já que o aumento da demanda, se não acompanhado pela redução de perdas, elevará o risco de desabastecimento e pressionará os recursos hídricos com a necessidade de maior captação. As mudanças climáticas, em aceleração constante, representam ainda mais uma camada de complexidade ao problema.
“Os dados apresentados reforçam a tendência de aumento no consumo de água, vindos com a maior oferta dos serviços, a expansão demográfica e o crescimento da economia. As tendências climáticas indicam restrição de oferta de água de 3,4% na média do ano por escassez de recursos hídricos em nossos mananciais", afirma Luana Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil.
Para a executiva, o caminho a um 2050 com água para todos passa pela priorização do tema e aumento do investimento. "Estes dois fatores combinados trazem a urgência de adotarmos medidas imediatas e efetivas para reduzir as perdas no sistema de distribuição de água e planejarmos de forma sustentável a gestão e uso dos nossos recursos hídricos. Onde já enfrentamos escassez, como em partes do Nordeste e Centro-Oeste, a falta de água pode se prolongar por mais de 30 dias, o que traz impactos severos na saúde e na qualidade de vida das pessoas. É fundamental agir agora para promover eficiência, e preparar o país para enfrentar os desafios que as mudanças climáticas trarão nos próximos anos", acrescenta.
Ainda de acordo com o estudo, até 2050 as cidades brasileiras devem ficar mais quentes e com um padrão de chuvas mais irregular. As projeções indicam aumento de cerca de 1°C na temperatura máxima e 0,47°C na mínima, com menos dias chuvosos no geral, mas eventos de precipitação intensa mais frequentes.
Essa mudança no clima reduz a reposição dos mananciais, agrava a aridez em regiões críticas e eleva o risco de desertificação. Como consequência, cada 1°C a mais na temperatura pode aumentar o consumo de água em 24,9% por pessoa, pressionando a demanda total em 12,4% além do previsto pelo crescimento econômico e populacional.
Desperdício de água poderia suprir demanda
O Brasil consumiu 10,725 bilhões de metros cúbicos de água em 2023, volume que equivale a uma média diária de 175,38 litros por pessoa — valor que já inclui as perdas do sistema. Os dados são do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SNIS), compilados pelo Instituto Trata Brasil.
No mesmo ano, o desperdício de água tratada ultrapassou 7 bilhões de m³, volume superior à demanda adicional projetada de 6,414 bilhões de m³. Esse montante seria suficiente para atender às necessidades futuras sem pressionar ainda mais os mananciais. Caso o índice de perdas fosse reduzido de 40,3% para 25%, a necessidade de produção de água cairia em 2,138 bilhões de m³.
As mudanças climáticas representam outro desafio: estima-se que o clima mais quente demande 3,5 bilhões de m³ adicionais por ano, já que o calor eleva o consumo doméstico, com mais banhos e hidratação, especialmente em períodos de baixa umidade.
Enquanto isso, a redução no desperdício avança a passos lentos. De acordo com o Trata Brasil, as cidades brasileiras vêm reduzindo as perdas em 0,6% ao ano, ritmo insuficiente para atender à demanda futura ou reverter o cenário atual de desperdício.