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Um enigma na F1 2022: o que será a (Alfa) Sauber?

O time suíço até agora é o que tem mais dúvidas do que certezas para a temporada 2022 da F1. Entenda um pouco

12 jul 2021 - 19h40
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Sauber Alfa: a parceria continua para 2022?
Sauber Alfa: a parceria continua para 2022?
Foto: Sauber-group.com / Divulgação

29 de novembro de 2017. No museu da Alfa Romeo, em Milão, o anúncio do acordo de patrocínio pela montadora à Sauber soava como um novo bilhete premiado para a equipe suíça. Chase Carey e Jean Todt bateram ponto para ver Sergio Marchionne, então homem forte da Ferrari e da FCA, explicando um contrato “multianual” e um maior envolvimento com a Ferrari. Tanto que Charles Leclerc, piloto da Academia, foi confirmado como um dos titulares para 2018.

Era o prenúncio de dias melhores. Até alguns meses antes, era um time sem muitas perspectivas, com pouco dinheiro de investimento e um pré-acordo em gestão com a Honda, que estava em um processo de divórcio com a McLaren e a F1 queria de qualquer forma manter os japoneses na categoria. Mas Frederic Vasseur, dono da Art Racing e ex-homem forte da Renault, foi chamado pelos investidores da Longbow Finances (comandado por Pascal Picci, mas alegadamente patrocinadores de Marcus Ericsson) para comandar uma reestruturação do time.

A Sauber então passava por sua terceira grande mudança. Fundada em 1970 por Peter Sauber, a equipe teve um grande impulso na segunda metade dos anos 80 apoiada pela Mercedes e fez sua entrada nos Esporte-Protótipos e na F1 com um grande apoio alemão. Em 1994, quase fechou as portas e foi salvo pela Red Bull, até então uma empresa relativamente desconhecida produtora de uma bebida energética, e pela malaia Petronas. Tais apoios o fizeram se colocar no pelotão intermediário até 2005.

A partir daí, Peter Sauber se aliou à BMW, que assumiu a estrutura. Isso permitiu à Sauber fazer um grande investimento em instalações e equipamentos. Um exemplo? A Intel montou um moderníssimo sistema de computadores com a HP. Em uma escalada rumo ao topo, o time teve sua grande chance em 2008. Mas a crise veio e, em 2009, os alemães anunciaram que deixariam a F1.

Sauber reassumiu o time e teve um ano bancado pela BMW. E começou a também operar uma parte de engenharia, de modo a aproveitar a infra-estrutura deixada pelos bávaros. A situação foi sendo tocada através de força de vontade e dinheiro de pilotos. Mas a coisa chegou a um ponto em que, em 2016, vendeu o negócio e parecia que, desta vez, tudo ia para o vinagre.

Quase quatro anos depois, parece não haver muito para comemorar. O time se reestruturou sim, novos funcionários vieram, investimentos foram feitos, mas os resultados não foram tão satisfatórios. Olhando em retrospectiva, o futuro brilhante não veio.

Este quadro acaba por colocar a Sauber numa situação mais incerta aos olhos do público sobre o seu futuro. Até Williams e Haas, equipes que estão atrás no campeonato, aparentam ter uma perspectiva mais otimista em relação ao que virá. Para quem está de fora, o cenário é este:

TÉCNICO - a Sauber conta com uma estrutura extremamente avançada em sua sede, em Hinwill (Suíça). Sua divisão de engenharia presta serviços para grandes empresas. Para se ter ideia, a F1 usou o túnel de vento da equipe para desenvolver o conceito do carro que será usado a partir de 2022.

Neste período, a equipe também sofreu uma série de mudanças que acabaram por impactar o Departamento Técnico: em 4 anos, o time teve 3 Diretores Técnicos. Jorg Zander, Simone Resta e Jan Moncheaux. Agora, vai perder o seu desenhista chefe, Luca Furbatto, para a Aston Martin.

Ainda tem o aspecto prático da escolha por ser um cliente da Ferrari: a Sauber, por usar motor, eletrônica, câmbio e suspensões italianos, muitas opções acabam ficando vinculadas ao pacote técnico. Muita gente achava que a Alfa desenvolveria alguma coisa, mas ficou na intenção ( o máximo foi o apoio dado no desenvolvimento do Giulia GTA). Este foi um ponto em que o time se ressentiu em parte, limitado também pela parte financeira.

Outro ponto que preocupa é a permanência de Frederic Vasseur. O francês é o arquiteto da Sauber/Alfa atual e é tido no meio como um grande operador. Não à toa, é dono da ART Racing, uma das equipes de ponta nas categorias de base, e um dos sócios da Spark, empresa que produz os atuais chassis da Fórmula-E. O contrato dele com a equipe estaria em discussão e diversos rumores circulam sobre uma possível mudança de time.

FINANCEIRO/COMERCIAL - como dito no tópico anterior, inicialmente se pensou que o acordo Sauber/Alfa englobaria parte técnica. Entretanto, a situação previa o uso do nome da montadora como patrocinadora principal e a Sauber como operadora do time. O valor nunca foi divulgado oficialmente, mas se estima em US$ 30 milhões por ano. Neste pacote estaria envolvido o fornecimento do pacote Ferrari (piloto incluso e o desconto da dívida de fornecimento de motores). Além da montadora, um apoio forte vem da petroleira polonesa PKN Orlen. Este garante um valor de 10 a 15 milhões de dólares e Robert Kubica ser o piloto reserva oficial do time, com direito a participar de alguns treinos livres.

Os dois acordos garantem boa parte do orçamento. Até agora, os controladores (inicialmente o fundo de investimento Longbow e hoje, a Islero. São os mesmos nomes, mas com outra estrutura) garantem o complemento dos valores. Estima-se que o orçamento do time esteja na casa dos US$ 120 milhões.

A permanência da Alfa Romeo é algo que hoje não se pode cravar. As conversas estão acontecendo, mas a marca encontra-se no meio de um grande redirecionamento. Na última semana, a Stellantis, dona da montadora, anunciou seus planos para os próximos anos. A estimativa é ter cerca de 70% das vendas no mercado europeu composta por carros elétricos. Tanto que se espera que em 2024, a montadora seja apelidada de “Alfa e-Romeo”.

Na esteira da nova administração, foi dado um prazo de dez anos para que a marca se mostrasse viável. Um novo comandante foi nomeado: o francês Jean Philippe Imparato. Tal como o CEO da holding, é um apaixonado por carros e corridas. Mas também é um aficionado por cortes de custos. Seu último posto foi capitanear a Peugeot e só deu o sinal verde para o novo programa de hipercarros para Le Mans após conseguir parceiros para custear o projeto.

Quando o acordo Sauber/Alfa foi firmado, a visão era posicionar a marca italiana dentro do mercado premium para brigar com marcas como Mercedes-Benz, BMW e Audi. Um investimento na gama de produtos, mas não deu os resultados esperados. Tanto que, em 2019, a Alfa vendeu menos na Europa do que a Lancia somente na Itália.

Imparato já deu a direção de que a intenção é insistir no posicionamento da marca no mercado premium. Agora, investindo pesadamente em modelos híbridos e elétricos até 2025. Entretanto, abriu a porta para a colocação de “modelos mais simples” e que o investimento na F1 é positivo. Mas que sua continuidade depende do “retorno dado”. Quem advoga pela continuidade diz que um anúncio será feito em Monza.

A permanência da Orlen também depende da permanência de Kubica no time, o que não está claro até o momento. Neste quadro, também circulam conversas de que a equipe estaria à venda. Alguns dizem que seria o controle total ou somente uma parte, como a McLaren fez. Tem gente que jura que existe um prospecto circulando junto a investidores asiáticos. O fato é que tem algo no ar.

PILOTOS - este é o ponto mais nebuloso. Giovinazzi entra pelo lado Ferrari. E, caso a Alfa fique, a chance é grande que permaneça. Afinal, como disse o diretor esportivo Beat Zehnder, temos um patrocinador italiano e nada mais normal que tenhamos um piloto italiano. E a Alfa pretende reforçar este DNA.

Mas se cogita também a vinda de Callum Ilott, outro piloto da Academia Ferrari, além de uma possível promoção de Mick Schumacher. Não podendo esquecer de uma aposentadoria de Kimi Raikkonen, o que abriria mais uma vaga. Nos últimos tempos, surgiu uma conversa de que Valtteri Bottas atenderia este posto. Mas seria benéfica a troca de um finlandês por outro? Bottas seria uma boa escolha para o time. Mas e para o piloto?

Ficou mais longo do que se esperava, mas este é o quadro da Sauber. Não é uma prova de matemática, mas tem problemas bem difíceis para serem resolvidos.

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