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Solução para F1 é fazer de conta que a pandemia continua

Havia um calendário para 2020, veio a Covid-19 e alterou tudo, criando corridas interessantes com situações improváveis. Dá para repetir?

19 nov 2020 - 19h22
(atualizado às 19h25)
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Largada no GP da Turquia: chuva e asfalto novo embaralharam as posições.
Largada no GP da Turquia: chuva e asfalto novo embaralharam as posições.
Foto: F1 / Twitter

O domínio da Mercedes foi incontestável, o desempenho de Lewis Hamilton, também. Olhando para os resultados, 2020 foi mais do mesmo. No entanto, quem acompanhou a Fórmula 1 neste ano assistiu a uma série de eventos inesperados, muitos deles gerados pelo improviso necessário em um ano tão peculiar. Criticada pela falta de competitividade e pela previsibilidade de suas corridas, a F1 poderia repetir algumas dessas situações nos próximos anos.

Uma delas tem a ver com o clima. Habitualmente, o calendário foge do frio no Hemisfério Norte e, tanto quanto possível, das épocas de chuvas em outras regiões. Foi por conta das chuvas, inclusive, que o GP do Brasil deixou de ser realizado em março, a partir de 2004, e passou para novembro. De fato, era penoso acomodar um evento das dimensões de um Grande Prêmio de Fórmula 1 em uma cidade que costuma literalmente parar com as “águas de março”.

Ainda assim, a troca no calendário não deixou Interlagos totalmente impermeável, e quem estava na pista durante a classificação de 2010 levou não apenas muita água na cabeça como a lembrança de uma improvável pole position para o alemão Nico Hulkenberg, então na Williams. Dois anos depois, foi com pista molhada que Sebastian Vettel conquistou seu terceiro título em Interlagos, terminando em sexto lugar depois de cair para último em função de um toque com Bruno Senna na largada.

Água na pista, quase sempre, é presságio de boa corrida. São mais possibilidades de rodadas e saídas de pista, menos aderência, mais dificuldade com a temperatura dos pneus. Água, em geral, premia experiência, tanto que o molhado GP da Turquia teve três veteranos – Hamilton, Vettel e Sergio Perez – no pódio. Corridas com piso molhado são tão festejadas na Fórmula 1 que, em certa ocasião, o ex-chefão Bernie Ecclestone chegou a sugerir, jocosamente ou não, que as pistas fossem molhadas artificialmente para garantir esse espetáculo.

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Nunca se levou essa ideia a sério, mas o calendário remendado de 2020 forçou a realização de Grandes Prêmios em situações meteorológicas bem adversas. A chuva na Turquia foi um fator externo a mais em um autódromo cujas condições já estavam altamente comprometidas pelo recapeamento muito recente. A Áustria, que recebeu duas corridas em semanas seguidas, teve o terceiro treino livre cancelado durante o GP da Estíria por causa da chuva. Houve também um toró considerável em Nurburgring, inutilizando a sexta-feira de treinos livres e jogando pilotos e equipes na pista apenas no sábado, para um único treino livre e prova de classificação. 

Nurburgring, aliás, além de chuva teve muito mais frio do que se costuma enfrentar na pista alemã em tempos “normais”. Faz sentido: habitualmente, a Alemanha recebe seu GP de Fórmula 1 no mês de julho, verão na Europa. Desta vez, no calendário bruscamente alterado, a corrida disputada no lendário circuito da região de Eifel aconteceu em outubro, já no outono alemão. Por outro lado, situação oposta aconteceu com a Espanha, que sempre realizava suas corridas em maio, primavera em Barcelona, e desta vez recebeu o circo em julho, pleno verão.

Não são apenas as condições adversas na pista que podem embaralhar a ordem das forças na Fórmula 1. Essa mexida no calendário, trocando primaveras por verões e verões por outonos, também complica a vida de engenheiros e estrategistas nas equipes, já que os parâmetros de anos anteriores podem simplesmente não servir mais.

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Outra circunstância bastante relevante neste 2020 inesquecível foi a entrada no calendário de pistas inéditas (Mugello e Portimão) ou que não recebiam a categoria havia muito tempo (Imola e Turquia, por exemplo). Os traçados mais antigos, sem enormes áreas de escape asfaltadas e com caixas de brita, resgataram a empolgação com corridas imprevisíveis e, ainda que a temporada se encaminhe para mais um massacre da Mercedes, resultados inesperados foram colhidos aqui e ali. A vitória de Pierre Gasly, a bordo de uma Alpha Tauri em Monza, com certeza foi o mais significativo, mas também teve pódio para a McLaren (duas vezes), assim como para a Racing Point, além do aguardado pódio da Renault (duas vezes, com Daniel Ricciardo).

Seja pelo clima, seja pelas pistas, o fato é que o caótico ano de 2020 trouxe lições para a F1. Mexer com a previsibilidade da categoria pode ser um grande negócio para forçar competitividade, ainda que de forma tímida. No entanto, o calendário anunciado para 2021 retoma a mesma fórmula de sempre, ditada por interesses econômicos e de logística. A pandemia, quem diria, teve um lado bom para a Fórmula 1.

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