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Só uma coisa poderia tirar Hamilton da Fórmula 1 este ano

Lewis Hamilton deixou o circo da F1 com a pulga atrás da orelha ao declarar que não sabe se correrá na temporada de 2021

2 nov 2020 - 12h20
(atualizado às 12h43)
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Lewis, supercampeão aos 35 anos, tem mais mais desafios fora das pistas do que dentro delas.
Lewis, supercampeão aos 35 anos, tem mais mais desafios fora das pistas do que dentro delas.
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação

Shakespeare escreveu e Hamlet disse: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a sua vã filosofia”. Lewis Hamilton, 420 anos depois, descobriu que há mais coisas na vida do que ganhar corridas de Fórmula 1. Este é o motivo que levou o piloto inglês de 35 anos a declarar em Ímola, após sua 93ª vitória, que não sabe se estará na F1 no ano que vem.

A uma corrida de ganhar seu sétimo campeonato mundial, Hamilton ainda não renovou contrato com a equipe Mercedes para as próximas temporadas. Com as mesmas regras deste ano, todo mundo “sabe” que Lewis será campeão novamente em 2021, quebrando todos os recordes possíveis. Talvez até ele saiba disso. Mas, na real, não quer ficar além do ano que vem. Por isso, deixa sua permanência no ar porque não quer outro contrato longo.

Lewis Hamilton vence seu 93º Grand Prix no tradicional circuito de Ímola, na Emilia Romagna.
Lewis Hamilton vence seu 93º Grand Prix no tradicional circuito de Ímola, na Emilia Romagna.
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação

Lewis Hamilton não é mais apenas um piloto de Fórmula 1. Ele é um ativista da causa “Vidas Pretas Importam”. Mas sabe que, fora do automobilismo, não terá a mesma exposição de mídia. Por outro lado, viu nas ações e no compromisso público da Mercedes-Benz em 2020 uma chance rara de mudar o mundo. Qual é o limite para um campeão como Hamilton tendo a parceria de uma Mercedes e um mundo de desigualdades a ser transformado?

Hamilton poderia criar uma espécie de academia para pilotos pretos e/ou pobres? Poderia levar a Fórmula 1 para a África negra? Lembremos que todas as vezes que a F1 correu na África do Sul foi sob o regime do apartheid, de discriminação branca. Foram 23 Grand Prix em Kyalami, todos sob governos racistas.

Hamilton e Bottas não tiveram adversários tão resistentes na corrida de Ímola.
Hamilton e Bottas não tiveram adversários tão resistentes na corrida de Ímola.
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação

É muito difícil para um ídolo esportivo parar no auge. Pelé parou de jogar em 1973, no Santos Futebol Clube, mas acabou voltando para encerrar a carreira no New York Cosmos. Michael Schumacher ficou três anos fora e acabou voltando à Fórmula 1 para desenvolver o carro da nova equipe Mercedes. Michael mandou uma banana para as estatísticas (que pioraram), mas ele precisava da adrenalina das corridas.

O abraço entre Toto Wolff e Lewis Hamilton: sétimo título mundial para a Mercedes.
O abraço entre Toto Wolff e Lewis Hamilton: sétimo título mundial para a Mercedes.
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação

Lewis já teve sua cota de temporadas discretas na F1. Por isso, quer deixar o nome Hamilton no olimpo, não apenas por orgulho próprio, mas para mostrar ao mundo que, sim, os pretos podem ser tão bons ou melhores em qualquer coisa desde que tenham oportunidade. Esperar que surja outro Ron Dennis na vida de um menino preto? É quase como esperar outro asteróide que destrua a vida na Terra. Por isso, este ano, Hamilton iniciou um trabalho com a Royal Academy of Engineering da Inglaterra para envolver mais jovens negros com ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Lewis Hamilton com o Mercedes W11 no GP de Portugal: recorde de vitórias.
Lewis Hamilton com o Mercedes W11 no GP de Portugal: recorde de vitórias.
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação

Lewis teve a sorte de ser adotado esportivamente por Ron aos 13 anos e, como confirmou o talento que se esperava dele, estreou na então poderosa McLaren de 2007. O resto é história. Quase 14 anos depois, para o supercampeão Lewis Hamilton o único desafio que resta na F1 é vencer seu oitavo campeonato (considerando que o sétimo já está ganho). Começar tudo de novo, com novas regras em 2022, seria interessante somente para um homem egoísta. Não parece ser o caso de Lewis.

Lewis é mais do que piloto de Fórmula 1 em 2020: "Vidas Pretas Importam".
Lewis é mais do que piloto de Fórmula 1 em 2020: "Vidas Pretas Importam".
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação

Está chegando o momento em que Lewis Hamilton poderá fazer mais fora das pistas do que dentro delas, para ter uma vida ainda mais significativa. É possível que o atual chefe da equipe Mercedes AMG Petronas, Toto Wolff, também saia em 2022. Um motivo a mais para Hamilton não querer ficar. Quem sabe a Mercedes não dê a eles a única coisa que tiraria Hamilton da F1 ainda este ano: um projeto imediato de aumentar a diversidade no automobilismo.

Lewis provavelmente sonha com isso. Talvez até já esteja planejando algo assim. Mas ele sabe que não deverá ocorrer imediatamente, por isso tenta negociar pelo período de um ano: 2021. Há mais coisas entre um supercampeão como Hamilton e uma equipe transformadora como a Mercedes do que supõe nossa vã filosofia.

Valtteri, Toto e Lewis na festa do título: só falta um título para o piloto finlandês.
Valtteri, Toto e Lewis na festa do título: só falta um título para o piloto finlandês.
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação
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