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No GP de Monza da F1, laranja foi a cor da vitória

Após nove anos, a McLaren voltou a vencer e mostra que pode sonhar com a volta ao grupo dos vencedores

14 set 2021 - 18h11
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A McLaren não comemorava uma vitoria desde 2012.
A McLaren não comemorava uma vitoria desde 2012.
Foto: McLaren / Divulgação

Podemos dizer que a alegria voltou um pouco mais à F1. Daniel Ricciardo e a McLaren reencontraram a vitória no último domingo, no GP da Itália, no mítico circuito de Monza. Ambos vinham de um considerável período de abstinência e, certa forma, em busca de uma afirmação. O australiano, ainda querendo mostrar que pode ser considerado um piloto de ponta e a equipe inglesa como um potencial vencedor no médio prazo.

Alguns maldosos disseram que esta vitória acabou por ser circunstancial. Claro que há um aspecto do imponderável aí. Mas analisando com cuidado, se vê que a conquista foi merecida e fruto de um belo trabalho de equipe.

Já se esperava um bom desempenho da McLaren em Monza. Em 2020, o MCL35 mostrou um potencial em circuitos de alta velocidade. Mesmo no GP da Itália, por muito pouco Carlos Sainz não venceu. Como a base foi mantida por força do regulamento e este ano houve o acréscimo do motor Mercedes, as esperanças aumentaram. E se concretizaram, com a equipe brigando efetivamente pela terceira posição no campeonato.

Ao longo deste ano, vimos a McLaren fazendo bons treinos, porém perdendo desempenho durante a prova, sem condições de brigar efetivamente com Mercedes e Red Bull. Mas em um circuito de alta velocidade, onde o DRS não tem tanta efetividade pelo uso geral de asas com perfil mais baixo e a turbulência prejudicando os carros em aproveitar o vácuo totalmente, alguma coisa de bom poderia acontecer.

Sorrisos e descontração voltaram aos boxes da McLaren.
Sorrisos e descontração voltaram aos boxes da McLaren.
Foto: McLaren / Divulgação

A prova de que a McLaren poderia fazer alguma fumaça foi na Sprint Race de sábado. Com a má largada de Hamilton, Norris e Ricciardo conseguiram pular bem e conseguiram se posicionar atrás de Bottas e Verstappen. E mais importante: conseguindo se manter à frente da Mercedes do heptacampeão. Os carros laranja conseguiam ter uma boa velocidade de reta e Norris se postou de maneira que conseguia um bom ritmo e se mantinha à salvo das investidas. No fim, terceiro lugar para Ricciardo e quarto para Norris. Mas com a decisão da Mercedes de trocar o motor de Bottas, o australiano largou na primeira fila.

Mesmo assim, os olhos ficavam em Verstappen e Hamilton. A McLaren era bem falada, porém não considerada para vencer a prova. Para os analistas, um pódio já seria um ótimo resultado e ajudaria a se manter próxima da Ferrari na briga pelo terceiro lugar nos Construtores. Mas em uma das catedrais do automobilismo, os deuses começaram a aprontar das suas.

Como a escolha de pneus para a prova do domingo era livre, os cinco primeiros optaram por largar com os médios, com exceção de Hamilton, que optou pelos duros. Sua expectativa, largando do quarto lugar, era se livrar logo das McLaren e tentar ficar próximo de Verstappen para tentar ganhar a corrida na estratégia, ficando mais tempo na pista e aproveitar a pista livre. Ao holandês da Red Bull, o objetivo era se manter na frente e imprimir um ritmo forte, torcendo que Hamilton perdesse tempo atrás das McLaren e conseguisse uma diferença confortável para que o inglês não conseguisse se aproveitar do maior tempo de pista.

Planejar é uma coisa, mas executar... Verstappen largou mal e Ricciardo assumiu a liderança. Hamilton conseguiu se livrar de Norris e foi para cima da Red Bull. Mas na segunda chicane, o holandês não deixou espaço e o inglês foi para fora da pista, perdendo a terceira posição para a McLaren número 4.

O quadro mostra que as voltas 24 e 25 foram cruciais para a McLaren.
O quadro mostra que as voltas 24 e 25 foram cruciais para a McLaren.
Foto: FIA / Divulgação

Aí a corrida começou a tomar um contorno interessante: A McLaren conseguia ter um bom ritmo, aproveitando a pista livre, mas claramente segurava o ritmo do pelotão. Verstappen conseguia acompanhar Ricciardo sem problemas, porém não conseguia se colocar em posição de ultrapassá-lo. Além da eficiência da McLaren em reta, havia também o motor Mercedes ajudando. Junte isso a uma gestão de pneus, a opção foi tentar se manter a uma distância razoável, de modo a preservar os calçados e aproveitar alguma oportunidade.

Só que esta situação também era boa para Hamilton. O inglês ficava em uma diferença razoável e, com os pneus duros, ia também fazendo a gestão, embora o calor estivesse forte e levando os pneus a se degradarem mais rapidamente. Ficou claro que a corrida se decidiria nos boxes, mesmo com todos jogando com a estratégia de uma única parada.

Para ter uma ideia de como Ricciardo segurava o pelotão, Charles Leclerc, quinto lugar com uma Ferrari que pouco poderia fazer por conta da falta de motor e do excesso de arrasto, vinha cerca de 10 segundos atrás em 21 voltas.

Na volta 22, a McLaren chamou Ricciardo para a parada, um pouco antes do previsto, mas fazendo um bom trabalho. A Red Bull olhou e até considerou também chamar Verstappen, mas preferiu deixá-lo mais uma volta na pista. Este acabou sendo o segundo erro do holandês na prova: não conseguiu aproveitar a pista livre. E Ricciardo conseguiu fazer uma boa volta de retorno, não permitindo a retirada da diferença. Aí veio o erro da Red Bull, perdendo tempo na troca do pneu traseiro esquerdo, levando um total de 11 segundos.

Mas como mostra o quadro de tempos na volta 25, Verstappen voltou quase 11 segundos atrás de Ricciardo. Ou seja, mesmo que tivesse feito uma parada no padrão da Red Bull, ele se manteria na mesma situação de antes. Restaria a ele forçar o ritmo, sob risco de acabar com seus pneus. Diante do quadro, a Mercedes decidiu antecipar a parada de Hamilton.

Os alemães apostaram em colocar os pneus médios, enquanto todos estavam de duros. Naquele momento, fazer um bom trabalho devolveria Hamilton à frente de Verstappen e o colocaria em condições de ir para a segunda posição. Com pneus diferentes, poderia ter uma chance de atacar Ricciardo e vencer. Mas a Mercedes também perdeu um pouco de tempo e Hamilton voltou atrás de Norris, na frente de Verstappen e o resto vocês já sabem como terminou.

A McLaren havia conseguido ditar o ritmo e conseguiu fazer a estratégia funcionar. Ficou uma situação muito parecida com a de Cingapura 2019, quando as Ferrari seguraram o trem de corrida de propósito para bater as Mercedes e conseguiram. Só que com Vettel à frente.

Naquele momento, a maior ameaça às McLarens eram Perez e Bottas. Mas os carros laranja mantiveram o bom andamento e contaram com a turbulência para manter a liderança. Norris chegou a reclamar do ritmo de Ricciardo logo após à relargada, mas o australiano conseguiu reagir e levou seu carro até o fim para a vitória.

Uma marca importante para o time que vem ano após ano, desde 2018, se reconstruindo. Mesmo com as dificuldades financeiras, conseguiu estabelecer objetivos, trouxe gente competente (principalmente o chefe de equipe Andreas Seidl) e os resultados aparecem. Da equipe séria da época de Ron Dennis, agora tem uma imagem descontraída e bem-humorada. Os mais antigos torcem pela retomada, relembrando os tempos matadores da década de 1980 e os anos 2000. Os mais novos abraçam a jovialidade de Lando Norris e o carisma de Daniel Ricciardo. História e juventude se reúnem e fazem este grande nome da F1 surgir com força.

Em tempos de novas regras, é possível sim pensar em uma McLaren vencedora novamente. Monza mostrou que, se a oportunidade aparecer, eles não desperdiçarão. Afinal, laranja foi a cor da (merecidíssima) vitória.

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