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Mercedes em estado de alerta, mas sem pânico (por enquanto)

Desempenho em Mônaco e no Azerbaijão causam preocupação, mas ainda há tempo para recuperação

9 jun 2021 - 22h02
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As Mercedes se veem ameaçadas de perder o reinado.
As Mercedes se veem ameaçadas de perder o reinado.
Foto: Twitter Mercedes-AMG F1 / Divulgação

É dura a vida de vencedor. Já diz o velho chavão que o mais difícil de chegar ao topo é manter-se nele. Dominadora da fase híbrida da F1, a Mercedes se vê pressionada neste momento de uma forma que poucas vezes se viu. Alguns dirão que já vimos este filme antes (em 2018 e em 2019) e que o final foi favorável ao time germânico. Então, é hora de analisar o quadro no momento.

O fato é que, após duas corridas em circuitos de rua, as luzes de alerta começaram a piscar com força na sede da equipe de Toto Wolff. Se analisarmos de modo histórico, estas são pistas nas quais os carros não tinham um bom desempenho. Isso vai também da filosofia de projeto: embora os atuais F1 já tenham grandes dimensões, a Mercedes optou por adotar uma distância entreeixos ainda maior que a da concorrência. Isso ajuda em pistas de média/alta velocidade, pois, em tese, a área maior de contato gera mais pressão aerodinâmica. Em compensação, acaba prejudicando a condução em pistas mais sinuosas.

Para entender melhor a questão: entre um automóvel comum e um ônibus, qual fará curvas com mais agilidade? Um veículo menor vai ter mais facilidade para contornar curvas por ter uma massa e um tamanho menor.

Muita análise para recuperar a liderança perdida.
Muita análise para recuperar a liderança perdida.
Foto: Twitter Mercedes-AMG F1 / Divulgação

Mas não é somente isso. Uma coisa que chamou a atenção foi a tremenda dificuldade que Hamilton e Bottas (principalmente) tiveram nos dois últimos GPs para fazerem os pneus funcionarem a contento. No ano passado, essa característica apareceu no W11, mas o carro contava com uma bela eficiência aerodinâmica e o famoso DAS, que ajudava no aquecimento dos pneus (embora a equipe tenha aberto mão do recurso em algumas etapas).

Mas na (curta) pré-temporada e nas corridas disputadas até agora, o quadro não está se mostrando tão favorável para o time alemão: com a mudança no regulamento e o novo assoalho e a respectiva perda de carga aerodinâmica, a dificuldade de gestão de pneus se tornou maior, junto com um carro mais difícil de conduzir. No Bahrein, isso ficou claro e foi trabalhado posteriormente, embora ainda presente. Coincidentemente, outro carro que sofreu demais foi o Aston Martin, cujo carro é “livremente inspirado” no W10.

Não se pode dizer simplesmente que a culpa é de um “momento ruim” da Mercedes. A Red Bull se preparou bem para 2021. Como até escrevi anteriormente, algumas das grandes vantagens que os taurinos tiveram para esta temporada foram a manutenção do carro de 2020 e as restrições de atualização. Normalmente, a equipe técnica capitaneada por Adrian Newey testa soluções extremas e o entendimento dos resultados demora um pouco a acontecer. Com a obrigação de usar o mesmo carro, o espaço de “invenção” ficou menor. Junte isso a uma Honda sedenta por sair por cima da F1 e a receita ideal está feita.

Hamilton e os engenheiros precisam conversar muito para reencontrar as vitórias.
Hamilton e os engenheiros precisam conversar muito para reencontrar as vitórias.
Foto: Twitter Mercedes-AMG F1 / Divulgação

Mercedes e Red Bull estão afinando seus pacotes. Com as restrições orçamentárias e de uso de ferramentas de desenvolvimento, os times têm que balancear entre o carro deste ano com o de 2022, quando um regulamento técnico novo virá. Nas últimas temporadas, a Mercedes se deu ao luxo de abrir mão do ano corrente para focar no próximo. Este ano, a escolha é difícil.

A Red Bull tem apresentado novidades a cada prova. A Mercedes tem optado por ser mais conservadora, embora tenha trazido uma suspensão dianteira e dutos de freio específicos para Mônaco. O fato é que seus técnicos têm trabalhado bastante em Brackley e já se fala que, novidades que apareceriam somente no GP da Áustria poderão surgir já no GP da França, no próximo fim de semana.

Com um quarto da temporada disputada, ainda é cedo para dizer se a Mercedes está passando por turbulências ou se já é o caso de um pouso forçado. O fato é que a perspectiva das próximas etapas é mais animadora: são pistas permanentes (em tese, temos mais cinco circuitos travados, ou “de rua”: Hungria, Holanda, Rússia, Austrália e Arábia Saudita) e que serão disputadas sob temperaturas mais altas, o que deve minimizar o problema de aquecimento dos pneus. Mas é preciso ainda mais: voltar a ter paradas de box mais eficientes (antes, a vantagem era tanta que poderia até se negligenciar este aspecto) e fazer o carro trabalhar melhor.

Atrás das Red Bull: esta é a visão da Mercedes no campeonato no momento.
Atrás das Red Bull: esta é a visão da Mercedes no campeonato no momento.
Foto: Twitter Mercedes-AMG F1 / Divulgação

Isso não quer dizer que o W11 seja um carro ruim, longe disso. A Mercedes ainda conta com a unidade de potência mais forte da F1 e tem totais condições de manter a liderança. Embora seja reconhecido que a Mercedes ainda está à frente em termos de conjunto em relação à Red Bull, é preciso reagir. A temporada não está perdida, mas pode começar a ficar. Afinal, o foco não pode ser só em Hamilton, Bottas tem sua importância e a equipe precisa dos dois pilotos para garantir a liderança no Campeonato de Construtores – de onde vem boa parte do dinheiro do orçamento da equipe.

Toto Wolff & cia. estão vendo o nível da água subir rapidamente, mas ele tem competência e recursos para garantir a liderança. Provocar uma fera ferida pode ser perigoso, e a Mercedes sabe que tem um adversário à altura, onde ser estratégico é o ponto-chave. Este é mais um tempero nesta temporada, que vem se desenhando como a melhor da era híbrida. E nós, fãs, adoramos.

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