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Mazepin roda de novo em Ímola… Freud explica suas atitudes

Mazepin rodou mais uma vez em Ímola e justificou o apelido de MazeSPIN. Freud explica o comportamento dele dentro e fora das pistas

16 abr 2021 - 13h41
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Nikita Mazepin roda e deixa seu Haas Ferrari atravessado na pista de Ímola.
Nikita Mazepin roda e deixa seu Haas Ferrari atravessado na pista de Ímola.
Foto: F1 / Twitter

Conhecido pelas atitudes reprováveis fora da pista (que incluem assédio a mulheres em live do Instagram, bem como uma atitude “blasé” no paddock) bem como pelo fato de ser um dos pilotos que mais rodaram em sua estreia na Fórmula 1 (levando o genial apelido “MazeSPIN” por usuários do Twitter usando a palavra “spin”, “rodar na pista” em inglês), o russo Nikita Mazepin está tendo uma vida difícil em sua primeira temporada na Fórmula 1.

Além de rodar em sua estreia no Bahrein nos primeiros metros do Grande Prêmio (bem como nos treinos e na preparação para a temporada de 2021), o piloto da Haas iniciou os treinos livres em Ímola, para o Grande Prêmio da Emilia Romagna de Fórmula 1 com mais uma rodada na pista seguida de acidente nesta sexta (16). Isso só leva a uma pergunta tradicional: Freud explica o “MazeSPIN”?

Psicanálise e Esporte

A ideia da Psicanálise sempre esteve mais concentrada na constituição do indivíduo, mais do que a um amplo campo interdisciplinar. No entanto, desde os primórdios, a Psicanálise buscou um diálogo com outros saberes. Isso é visto nos próprios escritos de Sigmund Freud, o “pai da Psicanálise” que comemora 165 anos de nascimento em maio de 2021.

Freud era um apaixonado por literatura e por outras atividades científicas, nas quais se destaca a arqueologia. Em cartas, Freud declara seu amor pela profissão celebrada século mais tarde nos filmes do Indiana Jones. Além disso, o psicanalista austríaco defendia que a Psicanálise não deveria ser apenas um adendo a médicos ou psicólogos. Ele defendia a chamada “análise leiga” e que outros profissionais pensassem com a Psicanálise e, até mesmo, pudessem ter a possibilidade de se formar psicanalistas.

Pedido de desculpas de Mazepin no Instagram: raciocínio tortuoso pelo qual o russo encontra lógica em se desculpar por ser piloto de Fórmula 1, não porque este é um comportamento condenável para qualquer ser humano.
Pedido de desculpas de Mazepin no Instagram: raciocínio tortuoso pelo qual o russo encontra lógica em se desculpar por ser piloto de Fórmula 1, não porque este é um comportamento condenável para qualquer ser humano.
Foto: Instagram

Isso possibilitou, na caminhada do movimento psicanalítico, o uso da Psicanálise para diversos campos do saber, acompanhando os estudos por exemplo de Psicologia do Esporte. Um dos mais importantes é aqueles desenvolvidos pelo croata Mihaly Csikszentmihalyi, se concentrado na ideia de “flow” onde o fluxo mental do atleta entre ansiedade e foco é crucial para um bom desempenho. Há diversos estudiosos, de matriz britânica, que analisam isso com o automobilismo, sendo Ross Bentley o mais célebre deles.

O Automóvel e o Édipo

No entanto, não é só em termos de “flow” que podemos pensar a Psicanálise do Automobilismo. O automóvel, o objeto esportivo do automobilismo, pode entrar nas relações de objeto que são analisadas pela Psicanálise. Em poucas palavras, o automóvel pode representar um objeto de desejo que vem suplantar alguma questão psíquica não resolvida no processo de amadurecimento do indivíduo. Amadurecimento esse que, para Freud, está vinculado com a sua ideia célebre do Complexo de Édipo.

Assim, o automóvel pode significar essa “completude primeira” que tínhamos com nossa mãe e que o “Pai” nos tirou (não só o pai em si, mas a sociedade e outros fatores que estão sendo discutidos por psicanalistas). Esse “tirar da completude” recebe o nome psicanalítico de “castração” e ele causa angústia psíquica e ansiedade se não estiver bem equacionada na mente do indivíduo. Assim, uma das relações possíveis com os objetos de desejo é essa “angústia da castração”.

MazeSPIN no divã

Fazendo um exercício interpretativo livre, é possível ver algumas dessas questões de “angústia da castração” em Mazepin em suas atitudes fora e dentro da pista. O ato de ser um piloto de certo é algo que o completa em sua identidade, mas ela não parece bem equacionada.

Afinal, todas as suas polêmicas - assédio a mulheres em live do Instagram, atitude “blasé” no paddock, o fato de não parar de rodar com o carro da Haas na pista - parecem “atos falhos”, gritos do seu inconsciente de que há alguma angústia envolvida. O ato de correr com velocidade é um bom exemplo de completar o desejo na lógica psicanalítica das pulsões de prazer e de morte. "Nada me faz me sentir tão vivo e tão perto da morte quanto correr a 300 quilômetros por hora no carro mais perfeito do mundo”, poderíamos dizer.

Assim, parece que Mazepin tem muita angústia de ter essa oportunidade de ser piloto de Fórmula 1, por isso erra demais e, até mesmo, comete atitudes reprováveis e passíveis de atribuição legal. Se eu tivesse um conselho a dar ao jovem piloto russo da Haas, com apenas 22 anos de idade, seria: “Mazepin, você precisa de um psicanalista!”

Mazepin: piloto da Haas  já ganhou o apelido de MazeSPIN pelas rodadas.
Mazepin: piloto da Haas já ganhou o apelido de MazeSPIN pelas rodadas.
Foto: Haas F1 Team / Twitter

*Rafael Duarte Oliveira Venancio é escritor, dramaturgo, psicanalista e professor. Twitter: @rdovenancio. Instagram: @rafaeldovenancio

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