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F1 precisa decidir se quer salvar o mundo ou petroleiras

Passos tímidos em relação a motores mais ecológicos colocam a F1 em xeque e irritam até Sebastian Vettel

29 dez 2020 - 09h34
(atualizado às 13h26)
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Sebastian Vettel criticou os rumos da F1 em entrevista ao Frankfurter Allgemeine.
Sebastian Vettel criticou os rumos da F1 em entrevista ao Frankfurter Allgemeine.
Foto: Divulgação

Helmut Marko e Sebastian Vettel são duas figuras importantes na Fórmula 1 de hoje, porém com ideias muito diferentes. Marko está preocupado apenas em salvar o futuro da equipe Red Bull, que deixará de ter o apoio técnico da Honda em 2022. Vettel parece estar preocupado em salvar a própria categoria. Entre eles está a Fórmula 1, que precisa decidir se quer salvar o mundo ou as petroleiras.

Marko e Vettel falaram à imprensa europeia logo após o fim de semana de Natal. O consultor da Red Bull insiste na ideia de um congelamento no desenvolvimento de motores a partir de 2022 e anima-se com a possibilidade de a próxima geração de motores ser mais simples -- algo que a própria Red Bull pudesse criar e desenvolver em sua fábrica de Milton Keynes, na Inglaterra.

Vettel, ao contrário, meteu a boca no trombone ao criticar a Fórmula 1 por andar a passos de tartaruga rumo a uma decisão mais enfática em direção a motores mais ecológicos. Para o piloto da Aston Martin, ter apenas 10% de biocombustível a partir de 2022 é muito pouco. Sebastian, assim como Helmut, mandam recados a quem decide.

Helmut e Sebastian juntos na Red Bull: agora, parecem querer coisas diferentes.
Helmut e Sebastian juntos na Red Bull: agora, parecem querer coisas diferentes.
Foto: Divulgação

Depois de brigar feio com a Renault (que lhe proporcionou quatro títulos mundiais) e de perder a Honda (que vai sair da F1 porque a categoria não acrescenta absolutamente nada ao futuro próximo dos carros de rua, que serão elétricos), a Red Bull quer apenas resolver seu problema. Com as regras atuais mantidas até 2026, as chances de uma nova montadora entrar na Fórmula 1 como fornecedora de motores são nulas.

Seb quer mais inovação na F1 e acredita que só um passo decisivo rumo ao meio-ambiente manterá a categoria relevante perante a indústria automobilística. “Temos o motor de combustão interna mais eficiente do mundo, mas não serve de nada para o mundo, porque a forma como usamos jamais vai servir para produção em série”, disse Vettel ao jornal Frankfurter Allgemeine.

Vettel está certo. A Fórmula 1 precisa se decidir se quer ajudar a salvar o mundo da poluição ambiental ou se quer salvar as petroleiras, suas velhas parceiras na queima de combustível fóssil e fonte daquele cheirinho de óleo característico das corridas, que milhões adoram, mas a indústria automobilística não quer mais. “A seriedade da situação não está sendo compreendida”, criticou Vettel. “Isso é frustrante. Sabemos de tudo isso, mas não agimos. É assim que vamos selar nosso desaparecimento até a irrelevância.”

Petronas, uma das petroleiras presentes na F1, é uma das forças da Mercedes.
Petronas, uma das petroleiras presentes na F1, é uma das forças da Mercedes.
Foto: Divulgação

Partindo de um tetracampeão do mundo, essa crítica tem muito peso. Até porque Sebastian não é mais apenas um piloto de Fórmula 1. Ele agora também tem participação na equipe Aston Martin. E, como tal, vai usar sua força na mídia para abrir portas para a equipe. Vettel sabe que o modelo atual está condenado -- e provavelmente vai permitir à Mercedes ganhar mais três ou quatro títulos na F1.

Assim como Lewis Hamilton encontrou na luta contra o racismo um ideal que extrapola a Fórmula 1, parece que Sebastian Vettel está disposto a comprar a briga em defesa do meio-ambiente. Se isso se confirmar, vai ser excelente. Tanto para o próprio Seb, em termos de liderança pessoal, como para aproximar a F1 (e a Aston Martin) de projetos mais ecológicos.

Helmut Marko e Niki Lauda no início dos anos 70: época de grandes pilotos austríacos.
Helmut Marko e Niki Lauda no início dos anos 70: época de grandes pilotos austríacos.
Foto: Divulgação

Quanto a Helmut Marko, uma infelicidade o impediu de brilhar como piloto. Fruto da mesma escola austríaca que tinha dado ao mundo pilotos como Jochen Rindt e Niki Lauda, Helmut Marko era um piloto promissor. Já havia vencido as 24 Horas de Le Mans e estava fazendo sua melhor corrida na Fórmula 1, em sua nona participação: corria em 6º lugar no GP da França de 1972, atrás de Emerson Fittipaldi, quando o Lotus do brasileiro jogou uma pedra que foi direto em seu capacete e o deixou cego do olho esquerdo. Uma pena.

Passados 48 anos desde aquela tragédia pessoal em Clermont-Ferrand, Helmut Marko parece não ter muitas ambições na Fórmula 1, a não ser manter o poder da Red Bull na categoria e, claro, o dele próprio. Sebastian Vettel, ao contrário, ainda pretende ganhar mais corridas e, se possível, ganhar pelo menos mais um título mundial. Marko aposta no passado; Vettel aposta no futuro. De que lado ficará a Fórmula 1?

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