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F1 Opinião: Não houve só um culpado em Spa-Francorchamps

O GP da Bélgica precisa ser um divisor de águas para a Fórmula 1. Michael Masi pode ter culpa, mas ele não é o único

30 ago 2021 - 20h54
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Michael Masi tem responsabilidade sobre o que aconteceu domingo, mas ele não é o único culpado.
Michael Masi tem responsabilidade sobre o que aconteceu domingo, mas ele não é o único culpado.
Foto: Divulgação

Ficou um gosto amargo na boca. Após várias horas de espera, a F1 botou os carros na pista para tão somente completar o número mínimo de voltas para que valesse a pontuação e o evento. As redes sociais fervilharam e os dedos logo foram apontados.

Nessas horas, a responsabilidade acaba repousando sobre o diretor de prova. Ele acaba sendo o grande gestor da situação e tem uma série de ações para administrar. Mesmo se questionando até onde vai o papel da FIA para definir os rumos diante do poderio da Liberty Media, a última palavra é dele, sempre buscando o apoio nas diversas páginas que regem os rumos do esporte.

O que aconteceu na Bélgica neste final de semana foi mais um caso do gigantismo da F1. E a coisa mais difícil que se tem é fazer um elefante dançar. Diante de tantos atores para serem atendidos e um cronograma estritamente planejado, que qualquer desvio acaba por causar um efeito dominó, levando a um caos.

É fácil jogar pedras em Michael Masi. Do ponto de vista do procedimento, podemos louvar a opção pela segurança. Afinal de contas, tanto a categoria quanto o público não aceitam tantos riscos. Se a pista fosse liberada e um acidente acontecesse, agora estaríamos falando da omissão dos responsáveis por largar os pilotos para correr.

Agora se fala que ele poderia ter liberado antes os carros para andar ou até mesmo tentado adiantar o horário da prova tendo as condições climáticas à disposição. Não seria algo inédito. Mas justamente pelo rigor dos acordos de TV, tal mudança tem que ser extremamente negociada.

Alguns fatores ajudaram a engrossar o caldo. Primeiro, o acidente de Norris no sábado, quando as condições de tempo pioraram; segundo, a aparente postura de Masi. O australiano não caiu de paraquedas ali, ele foi por anos diretor de prova do SuperTurismo local, participou dos GPs locais e vinha sendo preparado para assumir o lugar de Charlie Whiting. Sua morte às vésperas do primeiro GP da temporada de 2019 antecipou o processo.

Em sua terceira temporada como diretor de prova (segunda como efetivo), Masi foi buscando se afastar da linha de Whiting, uma velha raposa da categoria, e adotar uma postura mais permissiva, acomodada diante de pilotos, equipes e os responsáveis. Isto acarreta uma série de críticas em relação às decisões. Um exemplo é a questão dos limites de pista: algumas vezes são mais restritos, outras são mais liberais, e não se chega à decisão alguma.

Depois da chiadeira, pilotos e equipes fizeram coro com o clamor popular sobre o “não-GP”. A Alfa Romeo foi até mais longe ao não concordar com a distribuição de pontos e Lewis Hamilton defendeu a restituição de valores aos torcedores que compraram ingressos. Este tipo de declaração acaba por soar bem, mas não deixa de soar hipócrita, pois estes acabaram por não serem incisivos em uma posição de não ter prova ou até mesmo mudar a data. Não pode passar em branco a fala de Beat Zeander, diretor esportivo da Alfa Romeo, sendo taxativo que a prova não poderia ser feita na segunda pelo fato de todo material estar agendado para envio à Zandvoort (distante 307 km de Spa).

Até mesmo as regras acabam por prejudicar na questão. Embora o Código Esportivo Mundial da FIA dê muitos poderes aos comissários, simplesmente o Regulamento Desportivo da categoria não prevê condições para cancelar uma prova.

Diante de tudo o que aconteceu agora se discute a possibilidade de rever os procedimentos para evitar a repetição dos fatos. Entretanto, o estrago na imagem foi feito. Agora, é administrar os danos. É uma pena, pois estamos vendo a melhor temporada da F1 em anos. Talvez a melhor da era híbrida.

Masi tem culpa? Tem, mas ele não pode levar a culpa sozinho. O sistema foi testado mais uma vez e falhou em dar uma resposta certeira. Por isso, agora o importante não é matar o pianista, mas sim ajustar a partitura e corrigir algumas técnicas para que a música saia melhor e agrade ao público.

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