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F1 mostra seu calendário: realidade ou pensamento positivo?

No papel, 2021 está organizado e traz Interlagos de volta. Mas entre a teoria e a prática há obstáculos, como a segunda onda da pandemia

11 nov 2020 - 06h00
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Grande Prêmio do Brasil volta, teoricamente, ao calendário da F1 em 2021.
Grande Prêmio do Brasil volta, teoricamente, ao calendário da F1 em 2021.
Foto: Divulgação

Saiu o esboço do calendário da Fórmula 1 para 2021. Ele traz algumas surpresas, algumas positivas, outras nem tanto. Do primeiro grupo, o das boas novas, destaque para o retorno de Interlagos, previsto para o dia 14 de novembro, um sinal de que a promotora Liberty Media dá ao Grande Prêmio do Brasil o devido valor – mesmo tendo de voltar atrás em seu propósito de correr no ainda inexistente autódromo de Deodoro, no Rio de Janeiro.

Um dos aspectos que ela, a Liberty, não parece disposta a abrir mão é o da escolha da empresa promotora. Pelo que se sabe, não será mais a International Promotions, a quem coube até 2019 a realização do GP do Brasil, nem a Rio Motor Sports, que encabeçou as negociações para a frustrada realização do GP no autódromo de Deodoro. A sucessora só será conhecida após a aprovação do calendário pelo Conselho Esportivo da FIA, no início de dezembro. E não deve causar espanto se a escolhida for uma empresa estrangeira. 

GP dos EUA será disputado em Austin.
GP dos EUA será disputado em Austin.
Foto: Divulgação

Do outro grupo, das notícias não tão boas, fazem parte a enorme extensão do calendário, com nada menos de 23 etapas, e a ausência de circuitos que se provaram, neste ano de exceções, os mais emocionantes da temporada. É o caso de Mugello, Portimão e até mesmo o vetusto Nurburgring. Todos excluídos em benefício de Barcelona, Paul Ricard e Sochi, na Rússia, para citar apenas os casos mais clamorosos.

Essas pistas são palco de corridas modorrentas, monótonas, aborrecidas, que convidam o telespectador a pegar a coleira e levar o cachorro para um passeio dominical. Suas presenças só se explicam pelo lado financeiro. Mesmo não pagando tanto quanto as organizadoras dos países asiáticos, algumas pistas europeias se mantêm por tradição. Caso de Barcelona, na Espanha, e de Paul Ricard, na França. Inexplicavelmente, esse critério não se estende à Alemanha, onde se situam Nurburgring e Hockenheim.

Mugello é mais atraente que Monza, mas perde em poderio financeiro. A desculpa de já haver um Grande Prêmio da Itália mantém Monza, mesmo com este argumento sendo derrubado neste 2020, quando a necessidade de se completarem pelo menos 16 corridas impôs uma segunda e até uma terceira prova no mesmo país – caso da Áustria, Inglaterra e Itália.

GP da Rússia tem uma pista que costuma ser chata, mas foi mantido.
GP da Rússia tem uma pista que costuma ser chata, mas foi mantido.
Foto: Divulgação

Tudo somado e dividido, fica clara e nítida a orientação financeira deste novo/velho calendário – onde a inadaptação de Mônaco aos monstros que se tornaram os carros da Fórmula 1 sempre foi ofuscada pela pompa luxuosa do Principado da família Grimaldi. Pouco à vontade, espremidos nas alamedas da cidade-estado, pilotos e equipes devem se submeter à vontade dos mandatários para que contratos de patrocínio sejam assinados e/ou renovados.

Parece ser essa a sina da Fórmula 1, que já foi sabiamente definida como uma espécie de big business que se fantasia de esporte das 14 às 16 horas dos domingos – horário esse que já não é tão rígido quanto um dia foi, vem variando de acordo com as imposições da TV. Às vezes adiantado, às vezes retardado até o escurecer, tudo em busca de uma maior assistência.

O pior de tudo, porém, é que não há como agir de outra forma. As taxas pagas pelos organizadores para receberem a Fórmula 1 começam na faixa de 20 milhões de dólares e, dependendo do país, normalmente os não europeus, chegam a dobrar ou ir até mais longe. 

Elas respondem por uma parte significativa do bolo que é dividido, ao final de cada ano, para premiar as 10 equipes. E pelo novo contrato entre as equipes e a Liberty Media, os prêmios devem equivaler a uma parte significativa, bem maior do que a atual, do orçamento anual de cada escuderia. Isso, somado à limitação dos gastos a 145 milhões de dólares em 2021, é crucial para a sonhada equalização de forças entre os concorrentes, hoje profundamente distanciados pelo tamanho de suas verbas.

Nürburgring teve uma corrida interessante em 2020, fica de fora do mundial de 2021.
Nürburgring teve uma corrida interessante em 2020, fica de fora do mundial de 2021.
Foto: Divulgação

O calendário em si voltará a ser aberto na Austrália, no dia 21 de março e se estenderá até o dia cinco de dezembro, em Abu Dhabi. O primeiro desfalque já se fez sentir: a quarta data, reservada para a estreia do GP do Vietnam, hoje surge com uma lacuna. Isso porque esta prova, que deveria ter sido inaugurada neste complicado 2020, foi cancelada em consequência do aprisionamento de um de seu diretores, envolvido em corrupção não relacionada à corrida. 

Menos mal que esta seria a última corrida da fase inicial, longe da Europa. Caso não surja uma candidatura de outro país asiático (o que hoje parece pouco provável), se poderia sonhar com a reinclusão de Portimão. A favor há o fato de a corrida seguinte, no dia 9 de abril, ser na vizinha Espanha. Contra, a taxa de hospedagem, obstáculo quase intransponível para os organizadores portugueses. 

A segunda metade deste próximo campeonato começará no fim das férias de agosto, mais exatamente no dia 29, na Bélgica. Para recuperar o mês de inatividade, se seguirão etapas nos dia 5 e 12 de setembro, na Holanda e na Itália. Depois de um fim de semana de descanso, mais três seguidas: Rússia, 26 de setembro, Cingapura e Japão, 3 e 10 de outubro. Um exercício de isolamento para os membros das equipes, que ficarão longe de casa por oito semanas. 

A seguir, um fim de semana livre antes da viagem para os Estados Unidos e o Brasil. Mais um descanso antes das duas corridas finais, a estreante Arábia Saudita e Abu Dhabi, onde as equipes permanecerão mais um pouco para trabalhar nos dois dias de teste para os jovens pilotos que sucede o encerramento do campeonato. 

GP de Portugal, em Portimão, é outra ausência sentida no calendário de 2021.
GP de Portugal, em Portimão, é outra ausência sentida no calendário de 2021.
Foto: Mercedes-AMG / Divulgação

Para terminar, uma palavra sobre a polêmica etapa da Arábia Saudita. Assim que veio à tona a notícia de que a Liberty estava negociando a realização dessa corrida, a Anistia Internacional, uma das mais prestigiosas organizações não governamentais do mundo moderno, condenou a iniciativa. Isso porque a Arábia Saudita é classificada como contumaz desrespeitadora dos direitos humanos. E estaria recorrendo à “lavagem esportiva”, termo cunhado para definir o uso de esportes de elite para melhorar sua imagem internacional.

De fato, desde o assassinato por agentes do governo saudita do jornalista Jamal Khashoggi na embaixada de Istambul, se intensificou a grita contra essa movimentação no mundo esportivo. Recentemente, o Fundo de Investimentos Público da Arábia Saudita, comandado pelo príncipe-herdeiro e homem forte do país Mohammad bin Salman, tentou comprar o Newcastle, clube inglês de futebol. A Premiere League, organizadora do campeonato, arrastou a negociação até ela caducar – ao que consta, com total apoio dos outros clubes.

Mundial de 2020 teve provas interessantes em autódromos ignorados para 2021.
Mundial de 2020 teve provas interessantes em autódromos ignorados para 2021.
Foto: Divulgação

Para a Liberty, rejeitar a inclusão é inviável. Seu principal patrocinador atual é a petroquímica Aramco, a mais poderosa do mundo, capaz de, recentemente, colocar de joelhos seus opositores na Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) e comandar uma redução da produção petrolífera para aumentar o preço do barril.

Tudo pronto para 2021, pelo que indica o calendário. Mas é sempre importante lembrar que, no momento, ele é pouco mais do que um exercício de organização. Para transformar este esboço em realidade, a Liberty, a FIA e a Fórmula 1 como um todo dependem da força e da duração da segunda onda da pandemia, ou de uma terceira.

Enquanto não se resolverem os problemas de vacinação em massa, uma atividade como a Fórmula 1, que roda o mundo para realizar seus eventos, não pode contar com nenhuma certeza quanto a seu futuro. E nada garante que tudo isso estará resolvido no dia 21 de março.

Calendário provisório da F1

  • 21 Mar – Austrália (Melbourne)
  • 28 Mar – Bahrain (Sakhir)
  • 11 Abr – China (Shanghai)
  • 25 Abr – não definido
  • 9 Mai – Espanha (Barcelona)*
  • 23 Mai – Mônaco (Mônaco)
  • 6 Jun – Azerbaijão (Baku)
  • 13 Jun – Canadá (Montreal)
  • 27 Jun – França (Le Castellet)
  • 4 Jul – Áustria (Spielberg)
  • 18 Jul – Grã-Bretanha (Silverstone)
  • 1 Ago – Hungria (Budapeste)
  • 29 Ago – Bélgica (Spa)
  • 5 Set – Holanda (Zandvoort)
  • 12 Set – Itália (Monza)
  • 26 Set – Rússia (Sochi)
  • 3 Out – Cingapura (Cingapura)
  • 10 Out – Japão (Suzuka)
  • 24 Out  – EUA (Austin)
  • 31 Out – México (Cidade do México)
  • 14 Nov – Brasil (São Paulo)*
  • 28 Nov – Arábia Saudita (Jeddah)
  • 5 Dez – Abu Dhabi (Abu Dhabi)

*GP sujeito à assinatura de contrato.

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