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Erro de Leclerc: se culpar em público ajuda ou atrapalha?

Charles Leclerc afirmou que seus erros não o fazem merecer ganhar o campeonato. Qual o peso desse tipo de declaração?

25 jul 2022 - 16h17
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Leclerc cabisbaixo após o erro na França
Leclerc cabisbaixo após o erro na França
Foto: Ferrari / Twitter

O GP da França ficou marcado pelo abandono de Charles Leclerc, da Ferrari, enquanto liderava a prova. Sem Leclerc, Max Verstappen teve caminho livre para vencer sem dificuldades e abrir uma confortabilíssima vantagem de 63 pontos no campeonato de pilotos.

Ainda no carro logo após a batida, Leclerc falava pelo rádio, bastante nervoso, que o acelerador estava com problemas. Logo veio à mente a situação que ele próprio encarou na corrida anterior, na Áustria, quando justamente o pedal do acelerador apresentou um problema nas voltas finais e mantinha a borboleta de aceleração parcialmente aberta mesmo sem carga no pedal. Naquela ocasião, Leclerc conseguiu adaptar sua pilotagem e levar o carro até o final para vencer. Teria o mesmo problema no pedal da direita causado um abandono já na prova seguinte?

Depois da corrida, tanto Leclerc quanto a Ferrari esclareceram que o carro não apresentou problemas, mas sim que Leclerc foi quem cometeu um pequeno erro ao tangenciar a curva 11. A reclamação sobre o acelerador era porque o piloto não estava conseguindo sair da barreira de marcha à ré e voltar à pista. Nada anormal naquela situação, segundo a equipe.

Leclerc bate enquanto lidera o GP da França
Leclerc bate enquanto lidera o GP da França
Foto: F1 / Reprodução

Cobrança e exposição

Nas entrevistas pós-corrida, Leclerc mostrou mais uma vez uma vertente pela qual tem se tornado conhecido: a de um grande crítico de si mesmo. “Foi um erro. Eu tentei ir muito pelo lado de fora, provavelmente coloquei a roda em algum lugar sujo. Foi minha culpa, e se eu continuar cometendo erros assim, então eu não mereço vencer o campeonato.”

E seguiu: “Estou perdendo muitos pontos, acho que foram sete em Ímola e 25 aqui [na França], porque, honestamente, nós tínhamos o melhor carro hoje [domingo]. Então, sim, se perdermos o campeonato por 32 pontos ao final da temporada, acho que sei de onde isso veio. E é inaceitável.”

Não há dúvidas que Leclerc tem sua razão no que fala. Metade da (enorme) diferença entre ele e o líder do campeonato pode, sim, ser creditada a ele próprio, assim como algumas dezenas desses pontos foram por problemas da Ferrari. Mas até que ponto é interessante para Leclerc expor a si mesmo dessa forma?

Se culpar e falar, ainda na metade da temporada, que não merece ser campeão pode ser visto de duas maneiras. Por um lado, ele demonstra uma sinceridade nem sempre comum nesse tipo de situação, sem medo de admitir sua parcela de culpa em frente ao mundo. Pode ser visto como humildade e como uma forma de se desculpar publicamente perante a equipe. A cobrança que faz sobre si mesmo é uma forma de sempre evoluir e buscar melhorar.

Por outro lado, declarações como a dessa semana podem ser interpretadas por opositores como uma demonstração de fraqueza. A admissão de culpa e de reincidência pode fazer como que os adversários tentem “entrar na mente” de Leclerc sempre que o encontrarem na pista. Pressioná-lo até que cometa outro erro. Aconteceu em 2022 e já aconteceu outras vezes antes. É quando a autocobrança em público vira munição contra ele próprio.

Leclerc é o maior crítico de si mesmo.
Leclerc é o maior crítico de si mesmo.
Foto: Ferrari / Twitter

Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima

Para que entre de vez na prateleira de cima, tão importante quanto buscar a recuperação deveria ser se blindar dessa exposição e margem para ofensivas adversárias. Para dar esse passo além na carreira, ele precisa se tornar uma fortaleza, à prova de erros e resistente à pressão. A velocidade e a técnica estão lá, como já demonstrado em diversas oportunidades. Mas, enquanto continuar errando e falando publicamente que não merece ser campeão, ele dificilmente o será.

Agora, a melhor forma de mostrar força é reagir o mais rápido possível a um erro de consequências graves, como foi o caso. E nada melhor que uma corrida já na semana seguinte. A etapa do dia 31 de julho, na Hungria, é a chance perfeita para uma redenção. O cenário de calor e desgaste de pneus não deve diferir muito do encontrado na França, e a Ferrari, em teoria, deve vir forte para essa etapa. A chance ouro para Leclerc sepultar o erro e retomar a confiança.

Quanto antes a situação for superada, melhor. Enquanto for lembrada, poderá se tornar um peso nos ombros do monegasco. E, pelo bem de suas pretensões, é fundamental que o peso de seus erros fique num passado cada vez mais distante. Se deixar levar pelo mau momento pode ser um caminho sem volta. E é isso que a declaração pode sugerir, mesmo que indiretamente.

A fase complicada de Sebastian Vettel na própria Ferrari, a partir de 2018, pode servir de lição. A sequência de erros maiores e menores foi minando a confiança do alemão pouco a pouco, até que a situação ficou insustentável, mesmo para um piloto experimentado como ele. A chave é evitar que os erros se repitam e impeçam a confiança de crescer novamente.

Por isso, como o próprio Leclerc bem pontuou, será difícil ser campeão enquanto cometer erros assim. Mas ele pode deixar essa parte das críticas em público para o pessoal implicante da imprensa (olá!). Agora, melhor que se martirizar, é virar a página e focar em trabalhar internamente, no carro e no psicológico. O talento está aí. Faltam apenas ajustes para que todo o potencial se materialize.

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