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Após incidentes no Azerbaijão, Pirelli está sob pressão

Fornecedora de pneus emitiu comunicado após as investigações, mas ainda não convenceu. O que pode acontecer na França?

16 jun 2021 - 19h10
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Pirelli comunicou, mas não explicou o que aconteceu em Baku.
Pirelli comunicou, mas não explicou o que aconteceu em Baku.
Foto: Pirelli / Divulgação

Os acidentes provocados pelos problemas de pneus no GP do Azerbaijão deixaram o mundo da F1 preocupado. Afinal de contas, Lance Stroll e Max Verstappen bateram de modo perigoso, sem nenhum aparente detrito na pista e dentro da janela de utilização prevista pela própria fabricante. Não foi a primeira vez que algo semelhante aconteceu e deixou a Pirelli mais uma vez no meio do tablado, aos olhos de todos.

A primeira coisa que se fiou era a promessa da Pirelli de que haveria uma grande investigação sobre tudo. Afinal de contas, é de interesse da fabricante acabar com qualquer dúvida sobre o seu produto, e que os seus usuários tenham total confiança no que estejam usando. Afinal, são milhões de dólares envolvidos e carros que andam a mais de 300 km/h. Qualquer descuido pode ser fatal.

A questão que apareceu principalmente foi que a Pirelli fez um grande trabalho na estrutura dos pneus para esta temporada. Já que foi decidido manter o mesmo tipo de composto usado anteriormente e com foco do desenvolvimento nas novas unidades de 18” por conta do novo regulamento técnico, a intenção era diminuir os riscos de estouros e delaminações (como  ocorrido com Hamilton em Silverstone, no ano passado). Uma solução foi a redução da carga aerodinâmica, outra foi o reforço da estrutura dos pneus.

Pneu não é feito só de borracha (ainda mais um de F1). Ele também possui aço e kevlar em sua construção, e só o reforço dessa armação provocou o aumento de 3 kg no peso mínimo da F1. Em comum com os pneus usados nos automóveis convencionais, só existe o “recheio”: ar ou nitrogênio. A mudança na estrutura teve um lado bom e outro ruim: o bom é que se pode utilizar pressões mais baixas, o que permite aquecer os pneus mais depressa, em virtudeda maior área de contato com o solo. A ruim, é que eles não cedem tanto nas curvas e na pressão aerodinâmica. Com isso, os carros ficam mais lentos.

Pirelli mais uma vez sob pressão na F1.
Pirelli mais uma vez sob pressão na F1.
Foto: Pirelli / Divulgação

Esta mudança deu mais confiança à Pirelli, que esperava ter deixado para trás os problemas de delaminação. Afinal de contas, isso vai além da degradação da borracha, que é algo – até certo ponto – solicitado pela F1, e que faz alguns fornecedores como Michelin e Bridgestone torcerem o nariz. Mas veio Baku e seus acidentes.

A primeira versão da Pirelli foi se eximir de culpa e justificar os incidentes por possíveis detritos. Mas a situação acabou por lançar atenção em um assunto que já se falava, porém não se abria: a dificuldade de garantir que as equipes utilizem o tempo todo as configurações transmitidas pela fornecedora. Esta solução foi tomada alguns anos atrás justamente quando houve uma “epidemia” de estouros e delaminações. Um dos motivos foi que as equipes usavam pressões e geometrias mais “ousadas”. Já não é de hoje que a Pirelli tem técnicos em cada equipe e verificam os dados. Mas e durante as provas e as paradas? Ainda mais que hoje é liberado que cada time tenha seus próprios sensores (para a próxima temporada, todos usarão os mesmos sensores e a FIA terá acesso direto aos dados).

O fato é que muito se falou e, quando a Pirelli divulgou, no último dia 15, o resultado das investigações, a explicação foi de que houve uma “ruptura circunferencial na parede lateral interna por condições de funcionamento do pneu”, embora reconheça que as equipes tenham obedecido às recomendações transmitidas. Este comunicado motivou um jocoso comentário de Jenson Button, dizendo que, se não houve falha do pneu, as equipes obedeceram às normas e não existiram detritos, então foi vodu.

O que chamou mais a atenção foi a decisão por parte da FIA e da Pirelli de que novos protocolos serão adotados para aumentar o monitoramento durante o fim de semana de prova e mais ações de controle. Ou seja: a Pirelli reconheceu que não garante que as condições recomendadas são obedecidas. E a FIA não tem como controlar totalmente. Tudo aumenta mais ainda a pressão da situação (sem trocadilho).

Entretanto, as equipes também terão suas ações colocadas na berlinda. Afinal, todos tentam aproveitar as “áreas cinzentas” das regras e usar de modo a ganhar desempenho. Ao menos por enquanto, as recomendações serão seguidas. Mas novas formas de ir ao limite serão pesquisadas. Nesta F1, a busca por milésimos é incessante e os times estão longe de serem “carneirinhos”. Eles são parte ativa do problema.

Mais uma vez, a relação foi estremecida e a Pirelli deverá ser mais conservadora nas próximas etapas. E certamente as equipes irão reclamar bastante, embora haja a desculpa altamente defensável de garantir a segurança dos pilotos e dos carros. Mas como foi explicado antes, o que uma fornecedora de pneus menos deseja é que seus produtos sejam considerados inseguros. Já não basta ter de fazer pneus que se degradam mais rapidamente, embora seja exigência do cliente.

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