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A insustentável elasticidade dos limites das regras

A manobra tentada por Lucas Di Grassi e Audi na 13ª etapa da Fórmula E traz de volta a discussão sobre o que é válido numa disputa

26 jul 2021 - 11h42
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Chegou, mas não levou: Di Grassi tentou, mas foi punido.
Chegou, mas não levou: Di Grassi tentou, mas foi punido.
Foto: Formula E / Divulgação

Uma boa parte do público ligado no esporte a motor tirou o dia para discutir a manobra tentada pelo brasileiro Lucas Di Grassi na prova deste domingo (25) em Londres para tentar subir na classificação. Relembrando: o piloto do time Audi Sport Abt Schaeffler entrou nos boxes em bandeira amarela na 8ª posição. Reduziu o ritmo sem parar totalmente e voltou à pista. Como a velocidade no pit lane era maior que a do Safety Car e a pista era ligeiramente menor, Di Grassi retornou na liderança da prova.

A partir daí, uma enorme confusão se criou: afinal de contas, aquilo era possível ou não? O regulamento previa ou não? Logo lembrou-se que a Mahindra havia tentado algo do tipo na temporada anterior em uma das etapas de Berlim e não deu certo. O fato é que, após muitas idas e vindas, com direito a uma corrida desesperada do chefe da Audi, Allan McNish, pelo paddock para reverter a  desclassificação de Di Grassi (dada naquele momento alegando que não havia cumprido um drive through pelos boxes, que formalmente não apareceu na lista de decisões oficiais dos comissários), que acabou mantida.

Mesmo com a corrida terminada, a discussão seguiu, com direito até à lembrança da famosa passagem de Senna pelos boxes em Donington 1993, onde fez a volta mais rápida da prova. Mas a questão que se levanta é: até onde se pode ir para obter vantagem?

A velha máxima do direito se aplica aqui: o que não é declarado ilegal está valendo. E o esporte a motor é mestre em explorar as brechas da letra fria da lei. Eu poderia listar vários exemplos aqui, vários deles acabaram até regularizados (DRS, a introdução do reabastecimento em 1982, efeito solo etc.), mas outros acabaram por ser extremamente questionáveis.

No caso específico deste domingo, a grande questão foi Di Grassi não ter parado totalmente o seu carro. Caso contrário, não haveria burla ao regulamento, que não é claro neste aspecto e o resultado teria sido mantido. O piloto da Audi postou em seu Twitter que foi algo pensado e que reconheceu a punição, mas reforçando o ponto anterior. Entretanto, o que se alega é que haveria uma quebra do espírito da lei e, caso os comissários quisessem, poderiam lançar este caso.

Esta ação, embora calçada no Código Internacional da FIA, daria margem a recursos e levaria mais uma vez o resultado a ser definido mais à frente. O fato é que mais um caso “estranho” para a Fórmula E, que, na temporada que recebe a chancela de “mundial”, tem mais uma mancha no currículo, especialmente após Valência.

E para vencer, vale tudo? Entra sim a questão ética. Caso não fosse punido, a vitória seria validada, mas a mancha seguiria. Com o tempo, talvez ficasse. Porém, não sumiria. A repercussão acaba sendo maior, pois o principal envolvido é um piloto que não conta com a extrema simpatia de parte do público e já teve outros pontos levantados na própria Fórmula E e na Stock Car. Por conta do histórico, alguns se levantaram imediatamente contra.

Tal discussão sempre vai existir. E por mais que os regulamentos procurem ser cuidadosos, as brechas existirão e o limite será testado. A organização da Fórmula E vai mexer neste ponto para que não haja a repetição. Mas haverá outro ponto e a discussão seguirá. Não só no esporte a motor. Um jogador que simula um pênalti? Um atleta que se dopa para obter melhor desempenho? O limite resiste.

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