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Vice brasileiro em bem-sucedida missão de controle de danos na China

25 mai 2019 - 09h26
(atualizado às 11h44)
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Recebido com honras de chefe de Estado, Hamilton Mourão reativou mecanismos bilaterais e consolidou laços adormecidos. Contudo Bolsonaro e seu círculo encaram China como inimigo, e um tuíte pode colocar tudo a perder.O ponto alto ficou para o fim: nesta sexta-feira (24/05), o presidente chinês, Xi Jinping, recebeu Hamilton Mourão, ao fim da visita oficial de cinco dias do vice-presidente brasileiro à China. Xi o saudou com todas as honras de chefe de Estado no Grande Salão do Povo, em Pequim, lembrando que as relações entre os dois países atravessam um "momento decisivo".

Vice Hamilton Mourão (esq.) confirmou-se como interlocutor fidedigno para presidente Xi Jinping
Vice Hamilton Mourão (esq.) confirmou-se como interlocutor fidedigno para presidente Xi Jinping
Foto: DW / Deutsche Welle

"Ambos os Estados devem seguir discutindo, como parceiros, as possibilidades de desenvolvimento conjunto": é preciso respeitar, confiar e apoiar-se mutuamente, enfatizou Xi.

Com a grande recepção para o general de quatro estrelas brasileiro, o dirigente chinês deixou claro que o aprecia como representante fidedigno do governo de Jair Bolsonaro. Isso é plenamente compreensível, pois o presidente tem se se colocado incondicionalmente como aliado a serviço dos Estados Unidos, e durante a campanha presidencial criticou o papel chinês na economia nacional ("A China não compra no Brasil, a China compra o Brasil").

Mourão, por sua vez, adota uma abordagem pragmática diante do mais importante parceiro comercial e investidor do país. Nessa visita, ele se concentrou no controle de danos e normalização das relações bilaterais. Pois, antes mesmo dos ataques de Bolsonaro, as relações políticas entre os dois Estados estavam basicamente adormecidas, devido à crise brasileira.

Mourão revitaliza agora os fóruns e canais de cooperação existentes. Juntamente com o vice-presidente da China, Wang Qishan, pela primeira vez em quatro anos a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação voltou a se reunir. Na bolsa de valores de Xangai, que há muito já coopera com a de São Paulo, ele lançou um fundo baseado no índice de ações brasileiro.

Houve, ainda, uma sessão do New Development Bank dos países do Brics, onde se discutiu a abertura de uma filial em São Paulo. Mourão visitou a Academia de Viagens Espaciais chinesa, com promessas recíprocas de reativar o acordo para desenvolvimento de engenharia aeroespacial, existente há 30 anos, em cujo contexto os dois países construíram juntos seis satélites.

Mourão evitou intencionalmente inaugurar novos capítulos nas relações bilaterais. Mantendo-se diplomaticamente vago, sobretudo em temas delicados, ele declarou que o Brasil saúda a Belt and Road Initiative da China, ou seja, a Nova Rota da Seda, com seus maciços investimentos em infraestrutura. Porém não é necessário o país se associar a ela, ressalvou, já que todos os muito bem-vindos investimentos chineses podem ser realizados no âmbito de programas existentes e da comissão bilateral.

Quanto ao tema Huawei e a participação do conglomerado chinês na expansão da rede celular 5G brasileira, observou que não se deve demonizar a tecnologia chinesa, num momento em que os EUA e também a Austrália proibiram as empresas nacionais de utilizarem a tecnologia da operadora chinesa. A Europa, até o momento, mantém-se neutra na questão.

Hamilton Mourão reservou palavras claras para a unilateralidade das relações comerciais entre os dois países: não está certo que a China se sirva à vontade no Brasil, como se fosse uma loja, disse. A maior parte das exportações brasileiras para a China é de soja, minério de ferro e petróleo. No entanto, os brasileiros querem passar a exportar bens de maior valor.

O momento escolhido para tais exigências é favorável: em meio às crescentes disputas comerciais com os EUA, a China busca, por todo o mundo, fornecedores confiáveis para sua indústria, assim como novos mercados. Também as empresas americanas que não querem mais produzir na China, devido às sobretaxas para o mercado dos EUA, podem agora considerar a transferência de suas unidades para o Brasil.

No entanto está totalmente em aberto como a visita de Mourão será interpretada pelo presidente Bolsonaro. Antes, este enfatizara que seu vice viajava para a China com pleno poder decisório. Contudo é possível que, com um de seus tuítes, ele destrua de um golpe só os resultados positivos alcançados. Pois seu círculo mais próximo - seus filhos, o ministro do Exterior Ernesto Araújo, seu guru ideológico de tendência ultradireitista Olavo de Carvalho - vê a China como o grande mal da humanidade, uma inimiga do Ocidente cristão.

Apesar de tudo, em breve o presidente terá que se decidir por uma linha de conduta em relação a Pequim, e não pode delegar a tarefa a seu vice: no segundo semestre de 2019, está prevista uma visita oficial de Bolsonaro à China; e em novembro Xi Jinping participa do encontro do Brics em Brasília.

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