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Venezuela vive entre a miséria e a morte, diz Guaidó em Brasília

1 mar 2019 - 00h17
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Líder da oposição a Maduro se reúne com Bolsonaro, saúda novos laços com o Brasil e afirma que voltará à Venezuela mesmo diante de ameaças. Presidente brasileiro promete esforços para restabelecer democracia no país.Em visita a Brasília, o líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecido por mais de 50 países como presidente interino da Venezuela, se reuniu nesta quinta-feira (28/02) com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, para discutir a crise no país vizinho.

Em pronunciamento após o encontro, o venezuelano agradeceu ao mandatário brasileiro pelo apoio político e disse que a reunião marca um "momento importante na história" sul-americana. "Um novo começo de relacionamento positivo entre Venezuela, Brasil e a região", afirmou.

Guaidó acrescentou que, após a desejada transição de governo em Caracas, o Brasil poderá contar com uma Venezuela próspera, de forma a recuperarem os laços econômicos. Segundo ele, a relação comercial entre os dois países, que já chegou a 5 bilhões de dólares, hoje é de 200 milhões de dólares.

Contudo, para que a Venezuela consiga se recuperar economicamente, é preciso que seja restaurada a democracia no país por meio de "eleições livres e democráticas, no marco da Constituição", afirmou o autoproclamado presidente interino.

Guaidó, principal opositor ao regime de Nicolás Maduro, ainda lamentou a situação política, econômica e humanitária que enfrenta a Venezuela e disse que o país vive hoje um regime de ditadura que "massacra o povo".

"Não é certo dizer que há um dilema na Venezuela entre guerra e paz, na Venezuela há um dilema entre a democracia e a ditadura, entre a miséria e a morte da nossa gente", afirmou o líder oposicionista em seu breve discurso ao lado de Bolsonaro.

Ele lembrou também os 300 mil venezuelanos em situação de "emergência de morte" e outros 3 milhões em risco humanitário em decorrência da profunda crise que afeta o país.

Assim, prometeu continuar seus esforços para a chegada de ajuda humanitária à Venezuela, numa operação que conta com o apoio de países como Brasil, Colômbia e Estados Unidos - no fim de semana, a tentativa de entrar no país com caminhões carregados de mantimentos foi duramente reprimida pelo regime de Maduro, com confrontos que deixaram mortos e feridos.

Bolsonaro, por sua vez, afirmou que o governo brasileiro fará de tudo que esteja dentro da lei para ajudar a restabelecer a democracia na Venezuela. Ele reforça, assim, a declaração do vice-presidente Hamilton Mourão de que o Brasil descarta apoiar uma intervenção militar no país.

"Nós não pouparemos esforços dentro da legalidade, da nossa Constituição e das nossas tradições para que a democracia seja restabelecida na Venezuela. E isso só será possível com eleições limpas e confiáveis. Nos interessa uma Venezuela livre, próspera e economicamente pujante", disse o presidente em seu pronunciamento.

Bolsonaro ainda pediu permissão para chamar Guaidó de "irmão", disse que ele representa "esperança" para a Venezuela e afirmou que o Brasil continuará apoiando as decisões do Grupo de Lima em favor da mudança política no país vizinho, "por liberdade e democracia". "Obrigado por confiar no povo brasileiro. Conte conosco. Deus é brasileiro e venezuelano."

O presidente aproveitou o discurso para fazer críticas aos governos petistas anteriores, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, por terem apoiado o regime de Maduro.

"Faço uma mea culpa aqui, porque dois ex-presidentes do Brasil fizeram parte do que está acontecendo na Venezuela hoje. Essa esquerda gosta tanto de pobre que acabou multiplicando-os, e a igualdade buscada por eles foi por baixo. Queremos uma igualdade para cima, na prosperidade", afirmou.

Guaidó no Brasil

Guaidó chegou a Brasília na madrugada desta quinta-feira num voo da Força Aérea da Colômbia, onde estava desde a sexta-feira passada. Em seu perfil no Twitter, disse que veio ao Brasil em busca de apoio para a transição de governo na Venezuela.

Antes do encontro com Bolsonaro, ele participou de uma reunião com representantes diplomáticos de países da União Europeia (UE). Segundo a imprensa brasileira, o líder oposicionista teria apresentado demandas que serão encaminhadas aos líderes europeus.

"Em nosso encontro com os embaixadores dos países da União Europeia, continuamos a fortalecer as relações com nações que reconheceram nossos esforços para recuperar a democracia na Venezuela e obter eleições livres", escreveu ele no Twitter.

Entre os países do bloco europeu que já reconheceram Guaidó como presidente legítimo da Venezuela estão Alemanha, Áustria, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Portugal, Reino Unido e Suécia.

O venezuelano chegou ao Palácio do Planalto por volta das 14h (hora local), acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e passou pelo tapete vermelho estendido em uma das portarias laterais do edifício principal.

Apesar de o Brasil reconhecer Guaidó como presidente interino, o governo informou que o encontro não foi considerado uma visita de Estado. Após a reunião no gabinete de Bolsonaro, ele foi recebido pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Retorno à Venezuela

Guaidó deixará o Brasil nesta sexta-feira para uma visita ao Paraguai. Em entrevista à imprensa após o pronunciamento, ele afirmou que pretende voltar à Venezuela nos próximos dias, apesar das ameaças que tem recebido.

"Como todos sabem, recebi ameaças pessoais, familiares e também ameaças de encarceramento por parte do regime de Maduro. Mesmo assim isso não vai evitar o nosso retorno à Venezuela, neste fim de semana, no mais tardar na segunda-feira", disse o líder opositor.

Guaidó viajou à Colômbia na semana passada para participar da tentativa de entrega de assistência a seu país por vias terrestres. Contudo, ele estava impedido de deixar a Venezuela pelo regime de Nicolás Maduro, e as circunstâncias e consequências de seu retorno são uma incógnita.

Guaidó é presidente da Assembleia Nacional, órgão legislativo da Venezuela de maioria opositora e cujos poderes foram suprimidos pelo regime de Maduro. Ele se autoproclamou presidente interino do país no fim de janeiro, sendo reconhecido por mais de 50 países, entre eles os Estados Unidos, o Brasil e vários outros da região.

EK/abr/afp/efe/lusa/ots

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