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Política

União Brasil, o partido PSL-DEM, tenta atrair Sérgio Moro

Líderes da fusão entre as duas legendas mantêm conversas para filiar ex-ministro com foco em 2022

8 out 2021 - 08h35
(atualizado às 09h16)
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Ex-ministro Sérgio Moro
24/04/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ex-ministro Sérgio Moro 24/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

O União Brasil, partido que vai sair da fusão PSL-DEM, iniciou uma ofensiva para ter o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro como candidato em 2022. Um dos interlocutores da nova sigla com o ex-juiz da Lava Jato é o vice-presidente do PSL, deputado Júnior Bozzella (SP). "Excelente nome. Não podemos descartar nenhuma possibilidade. Estamos conversando", afirmou o parlamentar ao Estadão. Moro também mantém conversas com o Podemos.

De acordo com o deputado do PSL, uma definição sobre a filiação de Moro deve ocorrer em novembro. "Acredito que no mês que vem, quando ele voltar dos Estados Unidos. Dentro do nosso partido ele terá muitos apoios", disse Bozzella, que integra a comissão organizadora da fusão DEM-PSL. A união dos dois partidos foi aprovada nesta quarta-feira (6) pelos diretórios das legendas e, agora, depende de aprovação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A nova sigla pretende ter candidatura própria a presidente da República. Atualmente, já são três pré-candidatos: o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o apresentador José Luiz Datena (PSL). Pacheco também negocia uma filiação ao PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

Moro tem conversado com Mandetta, de quem foi colega quando eram ministros do governo de Jair Bolsonaro. Hoje, os dois estão rompidos com o ex-chefe. O ex-ministro da Saúde elogiou a atuação de Moro no combate à corrupção. "Ele tem uma visão de combate à corrupção, uma parte da vida dele totalmente dedicada a esse tema, tem muita gente que o apoia e que quer uma clareza", afirmou Mandetta.

O político do DEM também declarou que Moro pode ser uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Temos aí esses dois polos extremos, e nesse tema (combate à corrupção), que é muito importante para ele, claramente não avançaram (Lula e Bolsonaro), muito pelo contrário, foi só retrocesso. É pertinente a discussão dele", disse o ex-titular da Saúde.

No entanto, Mandetta ressalta que ainda não há clareza se Moro pretende se filiar a algum partido e disputar a Presidência. Os dois e o governador de São Paulo, João Doria, que tenta ser candidato ao Planalto pelo PSDB, estiveram juntos na semana passada para conversar sobre o cenário eleitoral.

"A candidatura você faz alargando o maior número possível de caminhos. Vamos ver se ele vai decidir entrar na vida pública através de conversa eleitoral, isso é uma decisão pessoal dele", afirmou Mandetta. "Na hora certa a gente vai fazer isso (discutir 2022), hoje a gente ainda está administrando esse processo de fusão."

Comando

O União Brasil, caso seja aprovado pela Justiça Eleitoral, terá a maior bancada da Câmara, com 82 deputados, além de quatro governadores, oito senadores e as maiores fatias dos fundos eleitoral e Partidário. A legenda será comandada pelo atual presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), e a secretaria-geral ficará com ACM Neto, que hoje comanda o DEM. A tesouraria do novo partido ficará com Maria Emília Rueda, irmã de Antonio Rueda, hoje vice-presidente do PSL e futuro vice-presidente do União Brasil.

Bivar não descartou apoiar um candidato a presidente de outra legenda. "O que nós vamos discutir no momento oportuno é se vamos ter uma candidatura própria do partido ou uma candidatura de um partido que se aglutine a nós." A expectativa dos articuladores da fusão é de que a Justiça Eleitoral dê o aval até fevereiro, antes da abertura da janela partidária para as eleições de 2022.

Apesar de ter um discurso de terceira via alternativa a Bolsonaro e Lula na eleição de 2022, o evento que selou a fusão contou com a presença de quatro ministros de Bolsonaro: Tereza Cristina (DEM), da Agricultura, Onyx Lorenzoni (DEM), do Trabalho e Previdência, Anderson Torres (PSL), da Justiça e Segurança Pública, e Flávia Arruda (PL), da Secretaria de Governo.

Flávia disse ao Estadão que não pensa em se filiar ao União Brasil e que participou do evento por conta do papel dela de intermediar diálogo entre o governo e as forças do Congresso Nacional. "Sou ministra da articulação política. Converso com todos (os partidos)", disse.

Em entrevista ao Estadão na semana passada, o presidente nacional do DEM, ACM Neto, reforçou que a nova legenda tem como objetivo ter candidatura própria a presidente da República, mas afirmou que a tendência é liberar os filiados para apoiarem outros candidatos ao Palácio do Planalto, inclusive Bolsonaro, se a realidade estadual for diferente da nacional.

Antes da decisão final dos dois partidos, as direções do DEM e do PSL se reuniram separadamente para aprovar a fusão. O diretório do DEM do Rio Grande do Sul foi o único a votar contra a fusão. No PSL, a decisão foi unânime.

Mesmo com a possível liberdade e autonomia para os membros do partido apoiarem outro candidato que não o decidido nacionalmente, a decisão não satisfez uma ala do DEM, que quer que o comando nacional da nova legenda embarque na reeleição de Bolsonaro. Na reunião do DEM, o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, que é pré-candidato ao governo gaúcho, apresentou dois requerimentos. Um deles para deliberar sobre o apoio do novo partido à reeleição do presidente Jair Bolsonaro e outro para dar direito a voto no diretório nacional a todos os deputados federais e senadores. Os dois pedidos foram rejeitados.

No Twitter, Onyx criticou a decisão da legenda em não analisar neste momento o apoio ao presidente Jair Bolsonaro. "Nem com o meu voto e nem com o da delegação do RS. Sabemos muito bem de que lado estamos e o que queremos para o Brasil e o Rio Grande. Só faria sentido um novo partido se fosse para reforçar a direita brasileira. Eu sou do velho e bom PFL", afirmou na rede social.

Bivar minimizou a discordância. "Esses questionamentos fazem parte da vida política, da vida parlamentar e todos têm direito de requerer as coisas mesmo que em tempo não legal", afirmou.

Ala bolsonarista do PSL deve se desfiliar da nova sigla

É esperada a desfiliação de deputados do PSL ligados ideologicamente ao presidente Jair Bolsonaro. O grupo bolsonarista do PSL tem sido deixado de fora das conversas sobre a fusão. Apesar disso, uma parte dos bolsonaristas prefere ficar na legenda, que é o caso do deputado Filipe Barros (PSL-PR), que estava no evento e disse que pretende embarcar no projeto da fusão, descartando desconforto com o fato de ele apoiar o presidente da República e o novo partido querer candidatura própria.

Ainda não há consenso entre a ala bolsonarista do PSL. Uma parte pretende seguir no partido oriundo da fusão, outra planeja se filiar ao Progressistas caso Bolsonaro decida se filiar a legenda e outros consideram partidos como PTB e PSC.

Sem partido desde que rompeu com o PSL no fim de 2019, Bolsonaro tem conversado com dirigentes do Progressistas e do PTB em busca de definir a legenda pela qual vai concorrer à reeleição.

O presidente tem aliados de peso dentro do Progressistas, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, e já foi filiado por mais de dez anos ao partido. Apesar disso, diretórios estaduais da legenda, como os da Bahia, Pernambuco e Paraíba são resistentes à entrada de Bolsonaro e inclusive planejam apoiar Lula em 2022, o maior adversário da reeleição do atual presidente.

O deputado André Fufuca, que comanda interinamente o Progressistas desde que Ciro Nogueira se afastou para assumir a Casa Civil, minimizou as divergências internas sobre filiar Bolsonaro. De acordo com Fufuca, as negociações para trazer o presidente para dentro do partido "estão avançando bem" e "90% do partido está ok".

O PTB abriu as portas e dá apoio incondicional a Bolsonaro mesmo se ele não se filiar ao partido, mas o chefe do Poder Executivo ainda não respondeu aos convites. O partido vive uma guerra interna por disputa de poder após a prisão do presidente da sigla, Roberto Jefferson. A ex-deputada Cristiane Brasil, filha de Jefferson, trava uma queda de braço por influência na legenda com a presidente interina do partido, Graciela Nienov, que move um processo de expulsão de Cristiane do PTB.

Estadão
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