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Trump chama primeiro-ministro canadense de "duas caras"

4 dez 2019 - 16h53
(atualizado às 17h09)
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Presidente dos EUA cancela participação em coletiva na cúpula da Otan após divulgação de vídeo em que Trudeau e outros líderes parecem rir dele. Em declaração final, países falam em solidariedade e união.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (04/12) que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, tem "duas caras" após a divulgação de um vídeo em que o canadense e outros líderes parecem debochar do americano, durante uma recepção que ocorreu na terça-feira à margem da reunião de cúpula da Otan.

Trudeau confirmou que Trump foi tema de diálogo entre os líderes, mas negou que tenha debochado do americano
Trudeau confirmou que Trump foi tema de diálogo entre os líderes, mas negou que tenha debochado do americano
Foto: DW / Deutsche Welle

Nas imagens divulgadas por uma TV canadense, gravadas no Palácio de Buckingham, em Londres, líderes do Canadá, França, Holanda e Reino Unido aparecem rindo. Não há nenhuma menção direta ao nome de Trump, mas o diálogo dá a entender que eles estavam zombando do americano por causa de uma longa entrevista coletiva que Trump concedeu durante a cúpula.

Nas imagens, pode-se escutar o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, perguntando ao presidente francês, Emmanuel Macron: "Foi por isso que chegou tarde?" O premiê canadense então diz: "Chegou tarde porque sua coletiva de imprensa durou 40 minutos."

Na terça-feira, uma reunião bilateral entre Macron e Trump foi precedida por uma longa coletiva de imprensa, na qual os dois líderes demonstraram publicamente suas divergências sobre o papel da Otan.

No vídeo, Macron ainda parece contar uma piada sobre o encontro, diante dos olhares da princesa britânica Anne, filha da rainha Elizabeth 2ª, e do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte - que dá uma longa risada. Mas o francês vira de costas para a câmera, e suas palavras não podem ser ouvidas claramente.

"Eu vi a equipe dele ficar boquiaberta", comenta Trudeau em seguida para os outros participantes da conversa, que não pareciam saber que o diálogo estava sendo gravado.

Mais tarde, após ser questionado sobre o vídeo antes de uma reunião bilateral com a chanceler federal alemã Angela Merkel, Trump voltou sua frustação contra Trudeau.

Segundo o americano, o premiê canadense é um "duas caras". "Eu acho que ele é um sujeito legal, mas a verdade é que eu chamei sua atenção para o fato de que ele não está pagando seus 2%. Acho que ele não ficou contente com isso", disse Trump, mencionando sua exigência de que os países-membros da Otan aumentem seus gastos de defesa em relação à porcentagem do PIB.

Logo depois de criticar Trudeau, Trump alegou que já falou muito com a mídia desde que chegou a Londres na segunda-feira, e anunciou que pretendia voltar "diretamente" a Washington ao final da cúpula, cancelando sua coletiva de imprensa final.

"Quando as reuniões acabarem hoje, vou voltar para Washington. Não vamos fazer a entrevista coletiva no final da Otan porque já fizemos muito nos últimos dois dias. Boa viagem a todos", tuitou o americano.

Após a repercussão do vídeo, Trudeau confirmou que Trump foi mesmo o tema do diálogo entre os líderes, mas negou que tenha debochado do presidente americano e sua longa coletiva de imprensa. Segundo o canadense, seus comentários abordaram um anúncio de Trump de que a próxima reunião do G7 vai ocorrer em Camp David, uma casa de campo que pertence ao governo americano.

De acordo com Trudeau, o anúncio de Trump surpreendeu os outros participantes do G7, e ele estava apenas "relatando" o momento para os outros líderes. "Tenho um relacionamento muito bom com Trump", completou o premiê.

Questionado sobre o vídeo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse a jornalistas: "Isso é um absurdo completo. Não sei de onde isso veio."

Cúpula

A cúpula da Otan reuniu por dois dias em Watford, nos arredores de Londres, líderes dos 29 países que compõem a aliança militar, que completa 70 anos.

Entre os temas abordados estavam o terrorismo, a China e a Rússia, a intervenção turca na Síria iniciada sem consulta dos outros membros da aliança e a insistência americana em compartilhar mais o financiamento da segurança coletiva.

Trump falou longamente em várias ocasiões durante suas reuniões bilaterais antes da cúpula. Ele deu o tom de uma cúpula difícil, chamando de "muito ofensivas" as declarações de Macron, que disse no mês passado que a Otan está em estado de "morte cerebral".

Ao chegar em Watford na terça-feira, o presidente francês "assumiu totalmente" seus comentários, muito criticados por seus aliados. "Eles ajudaram a levantar um debate que é essencial", insistiu. "Acho que nossa responsabilidade é superar ambiguidades que podem ser prejudiciais e assumir um verdadeiro debate estratégico."

Na declaração final adotada nesta quarta-feira, a organização reconheceu pela primeira vez a crescente influência e as políticas internacionais da China como "oportunidades e desafios".

Também denunciou as ações agressivas da Rússia e alertou que permanecerá uma aliança nuclear enquanto houver armas nucleares.

A alemã Angela Merkel, por sua vez, considerou a reunião "muito construtiva", apesar das dissensões: "Concordamos hoje que o terrorismo é o principal inimigo."

"É claro que existem diferenças, seria muito estranho de outra forma", reconheceu o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ao final da reunião, que se empenhou durante os dois dias em defender o papel da aliança.

"Sempre acabamos conseguindo superar essas diferenças e nos unir em torno do nosso principal objetivo, que é nos defendermos", ressaltou. Stoltenberg foi encarregado de uma missão de reflexão sobre os objetivos da Otan no final da reunião.

"Solidariedade, união e coesão são os princípios básicos da nossa aliança. Um ataque contra um aliado será considerado um ataque contra todos", enfatizaram os participantes em declaração aprovada ao término da cúpula.

Mas a declaração final por pouco não recebeu o apoio da Turquia, que ameaçou bloquear a adoção de novos planos de defesa para os Estados Bálticos e a Polônia caso os outros membros da Otan não reconhecessem a milícia curda YPG como "organização terrorista".

Segundo Stoltenberg, a reunião não abordou "especificamente" a exigência turca sobre o terrorismo curdo, uma questão sobre a qual é "bem sabido" que os aliados têm opiniões diferentes. Ao final, os líderes conseguiram negociar e aprovar o plano de defesa para os países Bálticos nesta quarta-feira

JPS/afp/efe/lusa

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