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Sucesso na China, códigos QR devem mudar pagamentos

Comércio eletrônico, startups e bancos têm se dedicado ao formato, muito mais barato que sistema tradicional e, hoje, acessível a todos

14 jul 2019 - 05h12
(atualizado em 15/7/2019 às 18h00)
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Às vezes, grandes apostas da tecnologia para revolucionar a vida das pessoas podem parecer simples. Que tal um conjunto de quadradinhos brancos e pretos, aparentemente dispostos ao acaso, mas que guardam consigo um mundo de informações? Surgidos nos anos 90, os códigos QR (ou QR Codes) não são exatamente novidade. Já tiveram ascensão e queda, chegando a ser considerados um ícone da inovação sem propósito. Mas isso mudou: impulsionados por ventos chineses, têm sido considerados como capazes de mudar a indústria de meios de pagamento.

No país asiático, os QR Codes deram poder de pagar e fazer transferências instantâneas a uma população equipada com smartphones. Até os modelos mais simples de celulares conectados à internet e com uma câmera decente podem realizá-los em qualquer lugar, até mesmo por meio de aplicativos de mensagem como o WeChat - uma espécie de WhatsApp chinês, do grupo Tencent. Lá, pagar sua parte no bar dos amigos como quem manda bom dia no grupo de família já é parte da realidade (leia mais abaixo). No Ano Novo chinês de 2017, quando as pessoas costumam trocar presentes entre si, mais de US$ 2 bilhões foram enviados no país dessa forma.

O exemplo inspira empresas por aqui: gigantes de tecnologia, como o Mercado Livre, e startups, como a Movile, já usam plataformas do tipo. Elas não estão sozinhas, já que os grandes bancos também estão acompanhando de perto essa tendência.

Evolução

Criados pela fabricante de autopeças japonesa Denso para rastrear seu sistema de produção, os códigos QR são uma evolução dos códigos de barra tradicionais. O funcionamento é simples: o sistema usado em boletos bancários usa apenas uma dimensão para guardar dados - a largura de cada barra determina um número específico. Já os QR Codes usam duas dimensões (largura e altura) para armazenar esses dados. No mesmo espaço físico, eles podem guardar centenas de vezes mais informações.

Para funcionar, no entanto, a tecnologia precisa de sistemas de leitura adequados, capazes de decodificar esses dados. Foi por isso que a primeira grande onda de uso dos QR Codes no Ocidente, há pouco mais de uma década, não deu certo: poucos celulares tinham câmeras boas e conexão à rede capazes de entregar as informações - uma propaganda, um texto de museu ou um vídeo online.

"A tecnologia vem em ondas", afirma a professora Pollyana Notargiacomo, especialista em tecnologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. "Às vezes são necessários períodos de maturação até que se entenda quais são os melhores usos para cada inovação."

Na China foi diferente: ao chegar lá alguns anos depois, os QR Codes encontraram um ecossistema pronto para suas necessidades: celulares massificados, internet móvel e a necessidade de mudar o sistema de pagamento, ainda muito calcado em papel-moeda. Além disso, gigantes de tecnologia, como Tencent e Alibaba, buscavam formas de lucrar com a busca do consumo pela crescente classe média. Hoje, segundo dados do governo chinês, mais de dois terços da população já usam os códigos QR para pagamentos.

Eles têm vantagens tecnológicas na comparação com sistemas atuais, como transferências bancárias e cartões de crédito: os pagamentos ocorrem em tempo real e não têm o custo para que redes diferentes se conectem no momento das transferências de recursos, como acontece atualmente. "Hoje, uma transferência bancária só é feita em horário comercial", diz Alexandre Pinto, diretor de novos negócios da empresa de tecnologia financeira Matera. "No novo sistema, isso será instantâneo e custará poucos centavos."

Adaptação

Mas será que o sucesso na China pode ser replicado no Brasil? "Aqui tem muita gente desbancarizada, mas todo mundo tem smartphones", afirma Pinto. "É o cenário perfeito." Para Álvaro Machado de Assis, especialista em redes de tecnologia da Unifesp, o consumidor brasileiro não terá dificuldades em fazer a transição, por ser entusiasta da tecnologia. Além disso, os principais programas de trocas de mensagens usados no País - WhatsApp e Telegram - já fazem experiências para adotar sistemas de pagamentos.

Haverá, porém, diferenças em relação ao país asiático. "A China partiu do zero, enquanto aqui há uma figura mais formal dos bancos", diz Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Também será preciso convencer as partes - incluindo os usuários, que não veem empecilhos no uso do cartão de crédito. "A adoção do QR Code só vai dar certo se as partes envolvidas virem benefícios nisso, como o cashback (retorno de parte do valor da compra)", diz Dan Faccio, diretor financeiro da Zoop, braço financeiro da Movile. / COLABOROU MARIANA LIMA

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas

Estadão
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