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Quem são os novos Jobs e Gates?

Vivemos no mundo que estes dois homens imaginaram e construíram

22 jun 2018 - 05h04
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Há uma disputa em curso no Vale do Silício: quem será o próximo Steve Jobs, ou o próximo Bill Gates? Nos anos 1980 e 1990, enquanto construíam empresas extraordinárias com culturas muito distintas, Jobs e Gates representavam visões muito claras. Pois neste momento de 2018, ninguém parece lembrar um dos dois.

No mundo ideal de Steve Jobs, computadores poderiam ser usados por qualquer um para deslanchar seu potencial criativo. A tecnologia por trás deveria desaparecer para que as máquinas fossem simples que só. E a única forma de atingir este resultado era produzindo tanto hardware quanto software, com olhar muito atento para o design. O produto final poderia ser mais caro, porém num tempo em que o digital era difícil, qualquer um o usaria. A filosofia da Apple continua um bocado a mesma.

Bill Gates via doutro jeito: computadores em todas as casas, em todas as empresas. Para que ficassem baratos, muita competição. Computadores caros e sólidos - IBMs, HPs, Compaqs -, computadores mais baratos - Dells -, e até computadores baratíssimos, montados pelo técnico da esquina. Todos com algo em comum: Windows. A consequência de tantas máquinas diferentes fabricadas com critérios os mais diversos era que o sistema da Microsoft tinha lá sempre seus probleminhas. Em compensação, o preço baixo permitiu a popularização do digital.

Vivemos no mundo que estes dois homens imaginaram e construíram. O digital se tornou acessível, como apontava a visão de Gates. E ficou fácil, como sugeria a de Jobs.

Os fundadores do Google, Sergei Brin e Larry Page, se tornaram líderes discretos. No comando da holding Alphabet, manifestam-se uma ou outra vez por ano para então desaparecer novamente. Não estão interessados em holofotes, e o Google aos poucos se torna um conglomerado regido pelo time de executivos.

Há um ou dois anos, os candidatos mais óbvios, homens com visão, eram Mark Zuckerberg, do Facebook, e Elon Musk, da Tesla. Este primeiro semestre foi inclemente com ambos.

A visão de Zuckerberg passava por interligar todas as pessoas do mundo. Daí, construir um banco de dados que lhe permitisse compreender quem são as gentes da rede social para lhes apresentar propaganda. Com as suspeitas de que este sistema tenha permitido manipular as eleições americanas, vive um pesadelo. Para reconstruir sua imagem como visionário do digital, o caminho será longo.

Com Elon Musk é mais complicado. Tendo sido um dos fundadores do PayPal, fez fortuna cedo. E decidiu botar o dinheiro num projeto ousado, mas coerente: levar pessoas a Marte. Ao redor deste projeto, construiu uma rede de empresas. Para desenvolver a tecnologia necessária às baterias e motores, criou a Tesla, uma fábrica de carros elétricos. Tendo de recriar também a captação e conservação desta energia, investiu pesado em baterias domésticas que operassem em conjunto com energia solar. E, com o objetivo de tornar o negócio eficiente, apostou numa fábrica que fosse autônoma como nunca se viu antes.

Musk não parou aí. No afã de sair criando empresas e produtos, pôs no mercado um lança-chamas, começou a construir um túnel para o transporte via cápsulas impulsionadas em Los Angeles, e faz um mês inaugurou uma fábrica de tijolos com material reciclado. Enquanto isto, a fábrica relevante, da Tesla, empacou. Com encomendas de centenas de milhares de carros, não consegue produzir mais do que quatro mil por mês. Teve de demitir três mil funcionários. As ações despencam.

Musk perdeu o foco e enfrenta seu pior ano.

Jobs e Gates não há mais.

Estadão
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