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"Photoshop Simples": como um falsificador do Paquistão pode ter ajudado agentes russos nos EUA

16 abr 2021 - 17h27
(atualizado às 17h33)
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Em meio a diversas sanções dos Estados Unidos impostas na quinta-feira a empresas russas especializadas em segurança digital e funcionários que supostamente trabalham para os serviços de inteligência do Kremlin, uma empresa se destacou: a "Fresh Air Farm House", em Karachi, cidade mais populosa do Paquistão.

13/05/2017. REUTERS/Kacper Pempel
13/05/2017. REUTERS/Kacper Pempel
Foto: Reuters

A empresa, cuja página no Facebook mostra um parque aquático disponível para aluguel, é administrada por Mohsin Raza, de 34 anos, um dos dois fundadores de um negócio online de identidade falsa que, segundo promotores, ajudou agentes russos a se instalarem nos Estados Unidos.

De acordo com um comunicado do Tesouro dos EUA e uma acusação emitida esta semana por promotores federais em Nova Jersey, Raza comandava uma fábrica de identidades digitais falsas, produzindo imagens de carteiras de motorista, passaportes e faturas de serviços falsificadas, para ajudar clientes a passarem em verificações de empresas de pagamento e tecnologia dos EUA. Seis acusações judiciais culpam Raza por roubo de identidade e produção de documentos falsos.

A Reuters entrou em contato com Raza, no Paquistão, por meio de um número de telefone fornecido pela lista de sanções do Tesouro dos EUA. Ele confirmou sua identidade e reconheceu ser um falsificador digital, dizendo que usou um "Photoshop simples" para alterar carteiras de identidade, contas e outros documentos sob encomenda.

Raza - que disse também se interessar por design gráfico, e-commerce e criptomoedas - negou qualquer irregularidade, dizendo que estava apenas ajudando as pessoas a acessarem contas das quais foram bloqueadas.

Entre os clientes de Raza, alega a acusação de Nova Jersey, estava um funcionário da russa "Internet Research Agency" (IRA) - uma infame "fazenda de trolls" (empresa especializada em disseminar informações e notícias falsas) acusada por investigadores dos EUA de relatos falsos na mídia, documentos vazados e interferência nas eleições dos EUA. O funcionário da IRA usou os serviços de Raza em 2017, para obter carteiras de motorista falsificadas e comprovar a identidade para abrir contas falsas no Facebook, de acordo com a acusação.

O Facebook não comentou o caso imediatamente. Raza disse que não rastreou quem usou seu serviço.

Ele disse que a inspiração para seu negócio veio vários anos atrás, quando uma conta do PayPal que ele abriu com um pseudônimo foi bloqueada, impedindo o acesso dele a centenas de dólares que havia recebido por otimizar resultados de pesquisas online.

Recusando-se a desistir do que descreveu como "dinheiro real ganho com muito esforço", ele usou Photoshop para por seu pseudônimo em um documento de identidade online. Assim que o PayPal descongelou sua conta, ele percebeu que havia tropeçado em uma boa ideia e o negócio decolou a partir daí. Seu site, Second Eye Solutions, ostentava "mais de 6.000 clientes satisfeitos" antes de Raza retirá-lo do ar na quinta-feira de manhã.

O dinheiro ganho com o negócio de identidade falsa foi investido na construção da "Fresh Air Farm House", disse Raza. A instalação, que possui três quartos, um campo para jogos, um toboágua e uma área para churrasco, agora está na lista de entidades sancionadas dos EUA ao lado de oligarcas russos e empreiteiros da área de equipamentos militares.

O alegado uso por agentes russos de um produtor de identidades falsas do Paquistão para contornar os controles das redes sociais norte-americanas "destaca por que essa economia do cibercrime globalizado, que atinge tantas áreas, pode ser um lugar perfeito para se esconder - até mesmo para Estados-nação", disse Tom Holt, que dirige a Escola de Justiça Criminal da Universidade Estadual de Michigan.

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