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O que faz a Apple

Nesta quinta-feira, 2, a companhia se tornou a primeira a cruzar o valor de mercado do US$ 1 trilhão e o mérito é de Steve Jobs

2 ago 2018 - 17h35
(atualizado às 18h47)
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Há exatos 20 anos, em 1998, Steve Jobs estava recém-nomeado CEO interino da Apple. Ele voltara um ano antes para a empresa que fundou e da qual fora expulso, nos anos 80. Não era um cargo invejável e Jobs não era mito. Era, isto sim, o Bill Gates que não deu certo. O gênio que, pelo humor intratável, ataques de fúria e obsessão com detalhes irrelevantes, destruíra a própria carreira. E a Apple era uma empresa falimentar que fazia um computador outrora promissor, agora só usado por uma meia dúzia de fãs. Nesta quinta-feira, 2, a companhia se tornou a primeira empresa privada a cruzar o valor de mercado do US$ 1 trilhão. Jobs morreu faz sete anos. Que se ponha este número em sua conta. É mérito dele.

Não é difícil explicar o valor de US$ 207,05 por ação que levou ao tri. Nesta semana, a Apple deixou de ser a segunda maior vendedora de celulares do mundo. Caiu para terceiro por conta de a chinesa Huawei ultrapassá-la. (A Samsung é líder com folga.) Venda de unidades diz pouco: a Apple, afinal, lucra muito mais por iPhone vendido do que as concorrentes. E, no último trimestre, o valor médio pago por um celular da empresa atingiu US$ 724. O valor médio de um Samsung não chega a US$ 250 e está em queda. Da Huawei, US$ 300. A Apple só fabrica smartphone caro e os consumidores pagam.

Celulares são o centro de nossa vida digital hoje. Daqui a dez anos, com relógios, telas dobráveis, óculos, caixas de som, robôs, esta inteligência digital estará espalhada por toda parte. Uma empresa que depende tanto de um único aparelho que tem o tempo de vida contado estaria em risco. Só que não é o caso da Apple.

Neste último trimestre, ela alcançou a marca de 300 milhões de assinantes de serviços como AppleMusic ou iCloud. É 60% mais do que o mesmo período do ano passado. São clientes que já têm uma relação de pagamento mensal contínuo. Na maioria dos casos, só para backup. Mas ampliar uma relação já existente é mais fácil do que buscar clientes novos.

A Netflix tem 125 milhões de assinantes no mundo, dados do primeiro trimestre. O Spotify, 70 milhões. E a Apple, tendo contratado dois executivos da Sony Television, está trabalhando num projeto que pode se tornar concorrente da Netflix. Se alguém tem tamanho para fazê-lo, é ela. A Apple.

E, se smartphones podem ser transitórios, streaming não é. Aliás, a empresa tem em caixa US$ 243,7 bilhões. Se quisesse, poderia pagar o valor de mercado da Netflix e ainda guardar cem bi. Como poderia comprar a Tesla, caso quisesse ir para o mercado de carros autônomos, e guardaria quase duzentos bi de troco. Pagando o valor cheio de mercado, o que é irreal. Nenhuma empresa tem o poder de escolher que rumo tomar, em que mercado entrar, o que dominar, como a Apple.

Ela tem problemas. Google e Amazon têm notável vantagem em inteligência artificial, nuvem e big data. Este trio é o futuro do digital. Mas, com dinheiro farto e uma base de consumidores fiéis, a Apple tem como alcançar os concorrentes. Não virá sem esforço.

Porque a chave, no fim, está na cultura criada pela obsessão com detalhes irrelevantes que um dia foi vista como defeito. Qualquer smartphone de ponta das cinco maiores fabricantes, hoje, são peças impecáveis de design. Sólidos, com telas brilhantes, texturas de materiais surpreendentes e curvas sedutoras.

Este acabamento é o padrão de um aparelho tecnológico de ponta. Não era assim vinte anos atrás. Mas houve Jobs. Que surpreendente foi aquele primeiro iMac azul translúcido. Percepção de qualidade foi fundamental para tirar o digital do mercado profissional e leva-lo para a casa do consumidor comum. Gerou fidelidade. É isto que a Apple tem. Fidelidade por ter sido a primeira, por ser percebida pela qualidade.

Estadão
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