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Nubank é a primeira startup brasileira a ser avaliada em cerca de US$ 10 bi

Empresa levantou rodada de investimentos de US$ 400 milhões liderada pelo fundo americano TCV, investidor de Netflix, Facebook e Airbnb; startup usará recursos para financiar sua expansão pela América Latina

26 jul 2019 - 10h36
(atualizado em 27/7/2019 às 16h06)
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O Nubank levantou mais uma rodada de investimentos: nesta sexta-feira, 26, a empresa de serviços financeiros confirmou que recebeu US$ 400 milhões em aportes, em movimentação liderada pelo fundo americano TCV, investidor de gigantes como Facebook, Netflix e Airbnb. A negociação foi confirmada ao Estado por Cristina Junqueira, cofundadora da startup. Segundo apurou a reportagem, com o novo acordo, a empresa brasileira está avaliada em "cerca de US$ 10 bilhões". Com a avaliação de mercado, o Nubank se torna a startup mais valiosa da América Latina e a primeira startup brasileira a se aproximar da marca de US$ 10 bilhões sem abrir seu capital.

É a primeira vez que o TCV, um dos fundos mais importantes do Vale do Silício, faz um aporte significativo em uma startup latina. Segundo Cristina, o novo parceiro ajudará o Nubank num momento de crescimento acelerado. Além do TCV, vão participar da rodada outros investidores prévios do Nubank, como a gigante chinesa Tencent e os fundos DST Global, Sequoia Capital, Dragoneer, Ribbit e Thrive Capital.

Ao anunciar o aporte, o Nubank disse ainda que tem 12 milhões de usuários em todo o País, distribuídos por produtos como cartão de crédito, conta bancária, empréstimo pessoal e investimentos. Recentemente, a empresa também lançou um serviço de conta para pessoas jurídicas.

Recursos serão usados para expansão latina

Os US$ 400 milhões recebidos nesta sexta-feira terão como principal meta financiar a expansão da companhia de David Vélez e Cristina Junqueira pela América Latina - nos últimos meses, o Nubank abriu escritórios no México e na Argentina. A previsão é de que a empresa comece a oferecer produtos no México até o final do ano; no país vizinho, a meta é de fazer o mesmo no primeiro semestre de 2020. "Em alguns países da América Latina, deveremos ter um papel ainda mais importante do que temos no Brasil, pois os bancos estão muito atrasados", disse Cristina ao Estado na manhã desta sexta-feira, 26.

O Nubank também fará contratações: a meta é chegar ao final do ano com 2,5 mil pessoas, contra os atuais 1,7 mil funcionários. As novas vagas serão abertas nos quatro escritórios que a startup possui - além da matriz em São Paulo e das filiais latinas, há um centro de engenharia em Berlim, aberto pelo Nubank no final de 2017. "Onde acharmos boas pessoas, vamos contratar", afirmou Cristina.

Ao Estado, a executiva descartou categoricamente a possibilidade de venda do Nubank para um banco tradicional - como fez, por exemplo, a gestora de investimentos XP há alguns anos. "Não seremos vendidos", disse. Cristina, porém, não deixou de lado a hipótese de abertura de capital, embora reconheça que este seja um plano a longo prazo. "Eventualmente, é algo que está no nosso caminho, mas não faz sentido para nós hoje nos submetermos à regulação que uma empresa aberta necessita."

A notícia do aporte havia sido adiantada pelo jornal americano Wall Street Journal na noite da última quinta-feira, 25 - a publicação chamou o Nubank de "decacórnio", nova gíria do Vale do Silício para startups cotadas acima de US$ 10 bilhões. O jornal ainda comenta que o aporte enterra de vez as negociações do Nubank com a japonesa SoftBank, que tinham sido aventadas em junho deste ano.

Sobre o assunto, Cristina disse ao Estado apenas que "conversamos com vários fundos todos os dias". Segundo apurou a reportagem, ela chegou a participar, em abril, de um jantar com Marcelo Claure, líder do fundo latino do SoftBank, junto a outros empreendedores brasileiros.

Para especialistas, investimento prova força do Brasil

O Nubank está no mercado há seis anos. Com o novo aporte, a empresa chega à marca de US$ 820 milhões em aportes, ao longo de sete rodadas de investimento. No ano passado, recebeu US$ 180 milhões da chinesa Tencent, em movimentação que a avaliou a startup brasileira em cerca de US$ 4 bilhões.

"É um investimento que demonstra que eles seguem em ritmo de crescimento forte", diz Felipe Matos, autor do livro 10 Mil Startups. "Acredito que a próxima onda de crescimento por aqui será puxada pela expansão de novos serviços financeiros para a base de clientes já existentes, como crédito, investimentos, seguros e outros serviços bancários", diz ele.

Para Vinicius Machado, da consultoria de inovação Startadora, o aporte no Nubank prova que o Brasil tem espaço para mais investimentos em negócios que trazem valor real para o cliente. "É um sinal de que precisamos de soluções financeiras inovadoras e ágeis para atender a demanda de um público cada vez mais conectado", afirma.

Na visão de Rafael Ribeiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), competir na América Latina é um primeiro passo do Nubank para se tornar uma empresa global, mas haverá desafios. "É um mercado que ainda tem uma cultura de uso do cartão muito forte. Por outro lado, entender a língua e a legislação de cada país será um entrave para essa expansão", acredita Ribeiro. Na visão do especialista, a empresa foi bastante cuidadosa ao escolher o momento de crescer para outros países. "Eles souberam se consolidar e fincar alicerces no País antes de seguir em frente."

Matos aponta ainda que o processo de contratação será uma pedra no sapato da startup brasileira. "Há um déficit de vagas na área de tecnologia no Brasil. Para quem quer crescer rápido, há uma segunda dificuldade: achar gente com a cultura da startup, de forma a não perder agilidade", avalia ele.

No entanto, o autor do livro 10 Mil Startups vê grande potencial no mercado latino para a brasileira. "O mercado brasileiro bancário é bem mais adiantado que o resto da região. É uma grande oportunidade de entrada", diz. Para o empreendedor, o Nubank ainda tem espaço para crescer no País - em especial, com serviços como a recém-lançada conta para pessoas jurídicas, de olho em microempreendedores individuais (MEIs) e pequenas empresas.

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas

Estadão
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