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Novo Matrix traz dilema que pode acontecer no nosso Metaverso

Sem spoiler: veja o que pode acontecer na vida real.

23 dez 2021 - 11h59
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O universo de Matrix está mais próximo do que você supõe
O universo de Matrix está mais próximo do que você supõe
Foto: Warner / Divulgação

Em 1999, quando o primeiro Matrix foi lançado, fomos surpreendidos com uma história peculiar, única e inédita naqueles tempos.

Não foram apenas os efeitos especiais que chamaram a atenção, mas o teor do conceito que está por trás do filme: A humanidade vive confinada em uma simulação e o papel de Neo (Keanu Reeves) tem a oportunidade de conhecer de fato a realidade como ela é.

Aquela ideia parecia tão “surreal” e “surpreendente” que foi o grande motivo para a obra atingir o sucesso de bilheterias e de críticas na época. Mas, 22 anos depois, o que parecia inconcebível parece muito próximo da gente!

O conceito de termos uma experiência super imersiva em um “universo 3D”, uma evolução da internet como conhecemos hoje já está sendo difundida massivamente pelo mundo. A ideia do Metaverso não é mais um sonho distante extraído de Matrix, mas um primeiro passo para o nosso futuro real e tangível.

E talvez o recado principal que Matrix: Resurrections traz, seja justamente o cuidado que temos que ter com a entrada da humanidade nessa nova Era: a fuga da realidade! Um tema pouco explorado nos filmes anteriores e que aparece sutilmente nesta sequência.

Até então, vimos pessoas buscando a liberdade da prisão irreal e simulada, tendo a possibilidade de exercer seu livre arbítrio, mas e se dentre milhares de pessoas presas à Matrix, um grupo delas simplesmente quisesse se manter lá? Na zona de conforto?

O Metaverso pode virar uma fuga da realidade?

Não podemos condenar (ainda) um conceito que pode mudar para melhor a vida das pessoas. A promessa do Metaverso pode nos colocar em um novo momento de evolução tecnológica, isso é evidente, mas a qual custo?

Hoje sabemos que a falta de equilíbrio entre a vida offline e online em smartphones já assola a maioria dos jovens. Um estudo publicado em março de 2021 no periódico Frontiers in Psychiatry revelou que quase 40% dos universitários apresentam vício em celular.

Logo, o problema de ruptura entre a realidade e o mundo virtual existe hoje, mesmo sem a imersão que vamos vivenciar com o Metaverso, o que pode ajudar na potencialização dessa atração.

Ferramenta ou novo “estilo de vida”?

Eu tive a oportunidade de vivenciar na prática o que vamos ter no Metaverso algumas semanas atrás, quando realizei uma reunião pelo Horizon Workrooms, um aplicativo da Meta (antigo Facebook) com os óculos de realidade mista Quest 2.

A experiência foi simplesmente fantástica, a imersão provida ainda de maneira rudimentar (com avatares parecidos com videogames ultrapassados) já deu um grande salto na qualidade do que vimos por aí via Zoom e outras ferramentas de videoconferência.

Acontece que, na minha concepção, de um executivo da Geração Y que aprendeu a conviver com a tecnologia a partir da adolescência, o Metaverso ainda é visto como ferramenta e não um “estilo de vida” como o que de fato vai virar. Não acredito que seja uma questão de “se”, mas “quando”.

Para este cenário de imersão como uma “segunda vida”, algo semelhante explorado no primeiro game com essa pegada: Second Life de 2003, os cuidados, não apenas com a saúde física e mental, mas os sociais e econômicos no mundo REAL devem ser REDOBRADOS!

A fuga da realidade não será a solução para a desigualdade social

Não é apenas em Matrix que o assunto é abordado, no filme Jogador Número 1 (2018) de Steven Spielberg, fica clara a preferência da sociedade em permanecer na realidade virtual simulada por ser muito mais encantadora do que a vida real, retratada cheia de pobreza e injustiças sociais. Nada muito diferente do nosso atual momento mundial.

Com o abismo social que enfrentamos hoje, o Metaverso pode ao mesmo tempo ser um avanço tecnológico revolucionário para a vida humana, como também ser uma ferramenta ainda maior de segregação: Entre os que podem adquirir os equipamentos de imersão (como os óculos de realidade mista) e permanecerem em um conto de fadas e aqueles acordados na realidade, dura e sem perspectiva.

E mesmo que tenhamos uma democratização do acesso ao Metaverso no futuro, isso não satisfaz condições básicas de vida como a fome, que assola quase 20 milhões de brasileiros, como aponta a pesquisa sobre insegurança alimentar do estudo “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil” da Rede Pessan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).

Portanto, o movimento do “prometido” Metaverso que estamos vendo se aproximar cada vez mais de nossas casas, deve passar por uma profunda reflexão para não encobrir os atuais gaps sociais existentes, mascarando e nos fazendo esquecer o que temos de pior na realidade física, ao invés de tratarmos o problema de frente!

Enquanto engatinhamos para o futuro, rumo ao Metaverso, ainda temos tempo para tais reflexões, mas se perdermos o bonde, poderemos cair em uma armadilha digna de filme distópico!

(*) Eberson Terra é autor do livro ‘Carreiras Exponenciais’, executivo da área da Educação e LinkedIn Top Voice.

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