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"Brasil precisa de mais heróis da tecnologia", diz futurista

8 dez 2012 - 15h11
(atualizado em 31/3/2013 às 16h59)
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O Brasil é a promessa das startups. Além de projetos do governo de aproximação com o Vale do Silício, nomes como Erik Qualman, autor de "Socialnomics: como as mídias sociais transformaram o jeito que vivemos e fazemos negócios (tradução livre)", e Donald Norman, ex-vice-presidente do Grupo de Tecnologia Avançada da Apple, já declararam que o País está à frente no desenvolvimento de novas tecnologias e pode ser o berço do "novo Facebook".

Para Dhaval Chadha, o Brasil já está com um ecossistema de empreendedorismo encaminhado
Para Dhaval Chadha, o Brasil já está com um ecossistema de empreendedorismo encaminhado
Foto: Divulgação

Alinhado com as expectativas, Dhaval Chadha, cientista social formado pela Harvard e futurista pela Singularity University (programa exclusivo da Google e NASA), e que hoje mora no Rio de Janeiro, vai além da aposta e aponta o que falta para o Brasil bombar no empreendedorismo de tecnologia.

"Precisamos de mais heróis, de mais ídolos desse meio. Hoje já temos alguns cases, mas não em número suficiente para inspirar o espírito de aventura necessário para essas empreitadas. Mais cinco casos de sucesso .... e vai bombar", disse Chadha em entrevista concedida ao Terra na semana passada, durante o evento Conexão KingHost, realizado em Porto Alegre.

Na conversa, além de falar sobre o ecossistema para empresas no Brasil, Chadha comentou suas preocupações com o descompasso entre a evolução da tecnologia e a consciência humana, e disse que a religião pode ajudar a equilibrar as coisas. Como? Leia abaixo trechos da entrevista.

Terra - Muito se fala que o próximo Facebook poderá vir do Brasil. Mas quais são as chances reais de isso acontecer?

Chadha -

A primeira questão é analisar o que faz um Facebook surgir. Quais as condições que ajudam esse tipo de coisa brotar e florescer. Para mim, são algumas. Uma é o tal do ecossistema, que é ter uma cultura de abertura. Eu já morei em Moutain View, no Vale do Silício (região da Califórnia conhecida como lar de grandes empresas de tecnologia como Google, Apple e Facebook). Lá alguém tem uma ideia e sai falando sobre ela com várias pessoas no mesmo dia. O pensamento é: 'se copiou, copiou, tudo bem, vou ter outra ideia'. Mas vale o risco porque o valor que se tem de retorno que as pessoas te dão sem esperar nada em toca é maior que esse risco. Então todo mundo lá é pró colaboração, troca e experiência. Além disso, é importante ter uma cadeia de mentores que ajuda com ideias de produtos, modelos de negócios, canais, operação e renda. A outra coisa é capital. Tem que se ter dinheiro com garantias para os diferentes estágios de desenvolvimento das empresas. No início, os anjos e o capital semente. Logo, do venture capital até o private equity para cima.

Terra - Essas condições já existem no Brasil?

Chadha - Então... isso no Brasil está crescendo. Muita gente que se envolveu cedo nessa área é hoje muito bom. Na questão do investimento, o private equity tem uma indústria desenvolvida. Mas de venture capital para baixo é uma coisa nova no Brasil. Estão surgindo cada vez mais investidores por aqui nesse nível, com investimentos de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões. Aceleradoras também estão surgindo muito rápido, especialmente no Rio e em São Paulo. Então tá tudo melhorando.

Terra - Falta algo mais?

Chadha -

A última coisa são os empreendedores. Quando a gente fala em empreendedor isso significa a capacidade intelectual, atitude, capacidade de pôr a mão na massa e a criatividade. Para mim o brasileiro é, de forma geral, muito capaz de ser empreendedor. O que tem acontecido aqui durante muito tempo é que vários dos melhores talentos acabam indo ou para concurso público ou para o mercado corporativo, ser funcionário ou executivo. E só agora o empreendedorismo como carreira está surgindo no Brasil. E falta ter cases. Isso muda muito. Hoje você olha e fala Mercado Livre, Buscapé, Peixe Urbano e... que mais? Quando tem uns 20 caras desses, tá feito o ecossistema porque aí se atrai capital e se tem o ídolo, porque o empreendedor brasileiro acha que pode ser bem sucedido uma vez que tem outros que já foram. As condições estão prontas mas falta tempo e mais uns cinco cases de sucesso.

Terra - Como futurista, o que você diria que podemos esperar da tecnologia no panorama futuro Qual o ramo da indústria que deve trazer as maiores revoluções?

Chadha -

A gente já está num universo de ficção científica. Nós já voamos para o espaço, já temos rins impressos em 3D que com o tempo são funcionais e temos produtos que regeneram células. Mas a indústria que mais vai crescer e 'quebrar tudo' é a biotecnologia. A gente já sintetizou vida. Há dois anos, um maluco sintetizou uma bactéria em laboratório. Falta algum tempo, mas eventualmente a gente vai fazer formas de vida mais complexas do que uma bactéria. Outra área é a robótica e a inteligência artificial. Até hoje não se identificou um computador com alma, mas o fundador da Singularity University Ray Kurzweil diz que a partir do momento em que um sistema atinge um determinado nível de complexidade, a consciência é uma propriedade emergente. Então basta fazer um computador que tem tantas sinapses quanto um cérebro humano na mesma densidade que consciência vai surgir dali? (Silêncio) Talvez... (risos) e o que é louco é que isso evolui exponencialmente e o nosso cérebro não, ele é o mesmo de 40 mil anos atrás. A gente coloca mais conteúdo, mas o hardware e o software são o mesmo. No caso do computador não. Um vai superando o outro cada vez mais. Em processamento de dados o Watson (da IBM) já nos supera, por exemplo.

Terra - E o homem consegue acompanhar o passo da tecnologia?

Chadha -

Eu acredito muito que a psicologia e o nível de consciência, os nossos valores, são algo que se desenvolve ao longo do tempo. Nós não somos mais apenas instintivos nem supersticiosos, nem egocêntricos como na pré-história, no mundo feudal ou colonial. Existe uma certa mudança de valores e consciência no ser humano, mas as tecnologias que a gente cria às vezes estão além do nosso nível de amadurecimento como espécie. Por exemplo, se inventou o nível da tecnologia da bomba atômica, mas a gente não tinha maturidade para lidar com ela e se acabou fazendo o que se fez no Japão. Isso me preocupa. Como acelerar o avanço e o aumento do nível de consciência da massa para saber lidar com o que está surgindo nessa onda tecnológica... Essa evolução está sendo um problema. No mínimo um risco.

Terra - E é possível acelerar a evolução da consciência humana?

Chadha -

A tecnologia, de forma geral, é linear. O crescimento da consciência humana não é assim. Tem formas de acelerar, desde Yoga à meditação, até educação. Mas eu estou curioso para ver coisas interessantes que façam isso em grande escala. Quem faz isso é a igreja evangélica, ela é mestre nisso. Ela tira as pessoas do fundo do poço e leva para um estado de tranquilidade paz. Mas a igreja faz isso do nível X para o X mais 1. O problema é que ela não vai além disso. Não chega no X mais 10.

Fonte: Terra
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