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"Não vamos aceitar alegações de concorrência desleal", diz executivo do Airbnb

Leonardo Tristão, presidente da companhia no País, não aceitará ofensiva do setor hoteleiro e diz que atividade do Airbnb é legal

21 jul 2019 - 05h12
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Leonardo Tristão é um veterano das gigantes de tecnologia no Brasil: já passou pelo Google e liderou o Facebook. Há quatro anos, comanda o serviço de turismo Airbnb - foi sob sua batuta que a empresa se tornou, por exemplo, parceira dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. No ano passado, a empresa registrou 3,7 milhões de hospedagens no País, crescimento de 640% na comparação com a temporada das Olimpíadas.

Além disso, o Airbnb tem ajudado a gerar impacto econômico por aqui: no ano passado, a "economia" do serviço movimentou R$ 7,7 bilhões, em alta de 92% na comparação com o ano anterior. Na entrevista a seguir, Tristão faz um balanço dos quatro anos e discute temas como crise econômica, ameaças de regulamentação e a preparação da empresa para abrir capital. "Não vamos aceitar alegações de concorrência desleal nem de que não pagamos impostos", diz o executivo.

O sr. costuma entrar em empresas para ajudá-las a crescer no Brasil. Foi o caso de Google e Facebook. Como é a trajetória nesses quatro anos de Airbnb?

Quando entrei, em 2015, o objetivo era colocar o Airbnb no mapa do Brasil. Sempre acreditei no potencial do brasileiro para experimentar novos modelos de negócios e tecnologias. Aqui, tivemos marcos importantes: nos Jogos Olímpicos, conseguimos que 80 mil pessoas tivessem hospedagem num evento supercomplexo. Ali, os anfitriões entenderam que podiam gerar riquezas com seus imóveis ou quartos fechados. Hoje, 69% dos anfitriões no Brasil dizem que a renda do Airbnb os ajuda a se manter no mesmo imóvel. O turista, por sua vez, entendeu que podia viajar, mesmo durante a crise econômica. Fechamos 2018 com 3,7 milhões de chegadas - um crescimento de 640% na comparação com 2016, que teve 500 mil estadias. É uma jornada bem expressiva.

O crescimento do Airbnb seria tão grande sem a crise?

É difícil dizer - sem a crise, haveria mais dinheiro circulando no mercado e mais oportunidades. Por outro lado, em uma pesquisa recente, 27% dos nossos viajantes disseram que não teriam viajado ou não teriam ficado tanto tempo se não fosse a opção do Airbnb. É possível que a crise tenha acelerado muita gente a experimentar nosso modelo de negócios, mas é difícil cravar.

O que o Brasil representa hoje para o Airbnb?

Não podemos revelar números em específico, por conta da preparação para a abertura de capital. Mas nesse estudo recente que fizemos, mensuramos que o Airbnb gerou R$ 7,7 bilhões em impacto econômico no Brasil durante 2018. É um crescimento de 92% sob o ano anterior e o 13º lugar entre os 191 países que estamos presentes. Ao todo, o Airbnb gerou US$ 100 bilhões em impacto no mundo todo. Agora, queremos entender como podemos pulverizar esse impacto econômico pelas cidades do Brasil, indo além dos grandes centros e destinos turísticos.

Ainda tem gente que tem receio de se hospedar no Airbnb?

Todo produto novo tem um ciclo baseado em perfis de usuários. Há quem adota logo cedo, e vai por vários estágios, até gente que nunca vai usar o produto. É algo natural, mas que envolve educação do público. Todos os dias, ainda recebemos novos hóspedes e anfitriões.

Nos últimos tempos, discute-se a regulamentação do Airbnb, seja em nível federal ou municipal. Como o sr. reage a isso?

No mundo, temos mais de 500 acordos com reguladores. Sempre dialogamos, porque fazemos parte de um novo modelo de negócios. A regulamentação não pode olhar o passado, mas sim o futuro. No Brasil, nossa atividade é legal e se enquadra na lei do inquilinato. Cresci com meus pais alugando casas de praia no verão. Qual a diferença de fazer isso ligando para um número ou pela internet? Nós ajudamos a organizar um conceito brasileiro e demos escala e segurança para as partes. Tradicionalmente, os negócios que já estão estabelecidos vão tentar criar barreiras de entrada. O que não vamos aceitar são alegações de concorrência desleal ou de que não pagamos impostos no País.

No Brasil, muitos anfitriões têm optado pelo modelo de colocar seus imóveis na mão de administradores. Como o sr. vê essas iniciativas? É algo ruim, considerando que o Airbnb preza pela experiência de comunidade?

Não é ruim. Percebemos que, em muitas casos, as pessoas querem hospedar, mas não têm tempo para fazer a entrega de chaves, por exemplo. Para nós, os empreendedores de acomodação ajudam anfitriões a disponibilizar o espaço dele e gerar riquezas. E isso não significa que não exista a troca de experiências entre hóspede e anfitrião. É uma evolução natural do nosso negócio.

Em termos de política de governo, qual seria o desejo do Airbnb?

Acredito que falta ao Brasil saber como a gente promove o Brasil. A gente pode contribuir bastante em aumentar o número de estrangeiros aqui. Vimos boa vontade do governo para reduzir barreiras, como o fim da exigência de vistos para turistas de alguns países. Mas precisamos saber receber os turistas, especialmente a conexão digital. Falta infraestrutura, falta gente que fale outros idiomas e isso nos afeta, mas acredito que há grande potencial.

O Airbnb está se preparando para abrir capital. Como o usuário vai sentir isso?

Como nosso presidente executivo global, Brian Chesky, já disse, estamos nos preparando para fazer o IPO. Mas, aqui no Brasil, não há impacto diferenciado. Já vivi isso em outros carnavais e sei que o segredo é continuar tocando o negócio independentemente dos fatores externos.

Recentemente, o Airbnb lançou dois produtos novos, o Adventures, que mescla hospedagem e excursões, e o Luxe, voltado para o mercado de hospedagem de luxo. Qual o potencial do Brasil neles?

O Brasil é um país tão rico que temos um potencial gigantesco no nosso negócio de experiências como um todo, da gastronomia até a cultura. Adventures pode ter uma demanda bem interessante. Quanto ao Luxe, hoje ainda não temos nenhuma hospedagem aqui no Brasil com esse padrão - que tem 300 pontos de checagem diferentes e até um serviço de concierge. No primeiro momento, acreditamos que o potencial do Luxe é do público brasileiro viajar fora do País; depois, vamos trabalhar para ter opções aqui dentro.

Estadão
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