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Musk promoveu campanha para destruir a reputação de ex-funcionário, diz agência

Entre as técnicas usadas estavam a propagação de notícias falsas e a espionagem de eletrônicos; reportagem cita até atuação de traficantes em fábrica da Tesla

13 mar 2019 - 17h43
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Elon Musk, presidente executivo da Tesla, encabeçou uma campanha para destruir a reputação de um ex-funcionário da companhia no ano passado, segundo uma reportagem da Bloomberg. De acordo com a agência, entre as técnicas aplicadas a mando do executivo estavam espalhar ativamente rumores sobre a vida do funcionário, monitorar em tempo real seu telefone celular e ter investigadores privados vasculhando a vida dele.

Tudo teria começado no ano passado quando Martin Tripp, funcionário da Gigafactory, fábrica de baterias da Tesla, passou a reportar a seus superiores supostas condições ruins nas instalações, como movimentação constante de pessoas e partes de baterias espalhadas por todo o prédio de forma que causava insegurança e desperdício de materiais. Tripp mandou até um e-mail diretamente para Musk alertando sobre os problemas, mas não foi respondido.

O funcionário, então, decidiu levar essa informações para a jornalista Linette Lopez da Business Insider, que publicou em junho de 2018 uma reportagem dizendo que a Tesla perdia até US$ 150 milhões por sua ineficiência ao manusear os componentes das baterias. Segundo ele, a companhia desperdiçava até 40% de sua matéria-prima. Vale lembrar que as baterias são peça fundamental para o sucesso da Tesla, que comercializa apenas carros elétricos.

A Tesla negou as informações da reportagem da Business Insider, mas Musk ficou furioso e mobilizou uma equipe de seguranças e investigadores particulares para identificar o responsável por vazar as informações. Após constatar que Tripp era a fonte de Lopez, a equipe de segurança da Tesla teria confiscado o notebook de Tripp para vasculhar quais dados ele teria acessado e vazado. Um segurança à paisana foi colocado na fábrica para monitorar Tripp.

No dia 14 de junho de 2018, os dois investigadores da Tesla teriam interrogado Tripp - durante o processo a Tesla conseguia até monitorar em tempo real as comunicações que ocorriam no celular do ex-funcionário. Não está claro como isso era feito. Tripp admitiu o vazamento dos dados e foi demitido cinco dias depois, no dia 19.

No dia 20, a Tesla anunciou que processaria Tripp por roubar segredos industriais - a pedida era de US$ 167 milhões. Tripp decidiu procurar quais resultados apareciam no Google relacionados ao seu nome e encontrou um post entitulado "Martin Tripp: cinco fatos que você precisa saber", que tratava dele em tom negativo além de revelar algumas informações sobre a sua vida pessoal. Em seguida, Tripp escreveu para Musk, dando início a um bate-boca virtual. Musk chegou a dizer que Tripp deveria "sentir vergonha" por "armar uma armadilha para alguém" e que o ex-funcionário era um "ser humano horrível".

Horas depois, a Tesla notificou a polícia do Estado de Nevada dizendo que havia recebido uma ligação anonima com uma suposta ameça de um tiroteio em massa nas instalações da Gigafactory. O atirador seria Tripp. A Tesla já havia espalhado cartazes na região com o rosto de Tripp, indicando que se tratava de um indivíduo perigoso.

A polícia localizou Tripp num cassino na cidade de Reno e constatou que ele não era ameaça. Ele não tinha arma nenhuma e estaria chorando por conta da situação na qual tinha se envolvido. Enquanto isso, a Tesla, incluindo Musk, fazia contato com a imprensa para alertar sobre a suposta ameaça de massacre. A polícia decidiu arquivar o caso depois que a Tesla se recusou a revelar quem havia feito a ligação sobre a ameaça de tiros. A reportagem diz que o delegado que tratou do caso estranhou o fato de que a Tesla teria pressionado para soltar um comunicado no qual inflava a situação. O delegado não quis atender a Tesla, mas a companhia divulgou o caso mesmo assim.

Depois dessa situação, Tripp decidiu processar a Tesla.

Seguranças. A reportagem também cita outros dois ex-funcionários da Tesla, um deles gerente de segurança da Gigafactory. Sean Gouthro denunciou a Tesla junto à Securities and Exchange Comission (SEC), órgão regulador do mercado financeiro nos EUA. Segundo ele, a Tesla não atuou eticamente no tratamento do vazamento de informações, hackeando o celular de Tripp, seguindo ele e acionando a polícia com falsa comunicação de crime. Gouthro ainda disse que Tripp não sabotou ou hackeou a Tesla e que a companhia tentou manchar a reputação de Tripp com notícias falsas.

O ex-gerente de segurança ainda cita a fábrica da Tesla como um local fora de controle, com funcionários morando nos próprios carros, funcionários usando cocaína e metanfetamina nos banheiros e gente fazendo sexo em partes da fábrica ainda em construção.

Karl Hansen, outro ex-funcionário da Tesla que aparece na reportagem como personagem que apoia Tripp e Gouthro, vai além: disse que a Tesla ignorou a atuação de traficantes mexicanos dentro da Gigafactory.

A Tesla não se manifestou sobre a reportagem. Musk também não tuitou a respeito. As ações da Tesla variavam positivamente 1,5% até a conclusão deste texto.

Estadão
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