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Moto G9 Plus evoluiu bem, mas o preço 'evoluiu' demais

Responsável por introduzir brasileiro aos smartphones, família da Motorola virou sinônimo de custo benefício; sete anos depois, aparelho cresce em especificações, mas não a ponto de manter fama graças ao preço

2 out 2020 - 09h10
(atualizado às 12h47)
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Lançado pela primeira vez em 2013 por R$ 650, o Moto G, da Motorola, virou sinônimo de celular bom e barato. Por isso, não pegou bem quando, no começo de setembro, a companhia anunciou os preços da nova geração do aparelho - o Moto G9 Plus tem preço sugerido de R$ 2,5 mil, R$ 800 a mais que o antecessor Moto G8 Plus, do final do ano passado. A questão que bate no bolso do consumidor é: é apenas um celular básico com preço de fazer chorar ou o preço evoluiu junto com as especificações?

Antes disso, algumas considerações. A primeira é a que deve acompanhar cada teste de celular daqui para frente: talvez agora não seja hora de comprar celular no Brasil. Se o seu está funcionando, segura a onda. O dólar alto e os reflexos da pandemia na cadeia dos aparelhos deixaram qualquer Palio 98 com preço de Ferrari. Veja bem: o Moto G Play lançado no ano passado custava R$ 1,1 mil - chegou agora por R$ 1,6. O Moto G Plus, que agora custa R$ 2,5 mil, foi lançado em sua geração anterior por R$ 1,7 mil.

A segunda consideração é que o Moto G evoluiu dentro do portfólio da Motorola. Não parece, mas, desde 2014, a fabricante tem a linha Moto E - essa sim dedicada a celulares básicos. Isso promoveu a marca Moto G para aparelhos intermediários. Além disso, a família Moto G não é mais constituída por um único aparelho - são quatro, com o Moto G Plus sendo o mais caro deles. Assim, o Moto G9 Plus é posicionado pela empresa como um "intermediário avançado". Supostamente, ele não representa mais aquilo que consagrou a marca.

Nesse ponto, a equação do Moto G 'caro' fica mais difícil de solucionar. Vamos primeiro para os avanços vistos no G9 Plus: a Motorola conseguiu colocar uma bateria de 5.000 mAh, antes disponível apenas no Moto G Power, que, como o nome indica, é focado em autonomia de bateria. Nos nossos testes, o aparelho entregou suavemente dois dias de carga, mesmo exposto a uma maratona de documentário do festival In-Edit e a horas de jogos - isso sem contar aquele passeio pelo Instagram e algumas linhas desimportantes de autoexpressão no Twitter.

Além disso, ele é acompanhado de um carregador de 30 Watts, que carregou todo a bateria do Moto G9 Plus em apenas 1h20 em nossos testes - é o único da família com o acessório até aqui. A importância de ter uma boa capacidade energética nos leva ao nosso próximo ponto positivo: o processador. O G9 Plus leva um Snapdragon 730G, classificado pela própria Qualcomm como um chip "intermediário avançado". É uma evolução muito bem vinda em relação ao G8 Plus, que tinha um Snapdragon 665. O Snapdragon 730G é voltado para games e aparece em aparelhos muito mais caros do mercado, como o Mi Note 10, da Xiaomi, que custa R$ 7 mil.

Assim, em nossos testes, a performance foi boa tanto nos jogos quanto nos outros usos do aparelho. Contribui para deixar mais leve o fato de que o Android 10 chega quase puro, com pouquíssimas modificações - o trabalho da Motorola nesse quesito continua sendo um dos melhores entre os fabricantes de Android.

Tudo isso não significa que o aparelho deve atravessar uma vida tranquila. Existe uma reclamação bastante comum em relação aos aparelhos da Motorola de que ficam lentos com cerca de 1 ano e meio de vida. O fato do G9 Plus ter apenas 4 GB de memória reforça essa desconfiança.

Existem outros aparelhos "intermediários avançados" ou "intermediários" com o mesmo processador, porém, com mais memória. Entre eles estão o Pixel 4a (Google), indisponível no Brasil, e o próprio Mi Note 10 (Xiaomi). No entanto, a fabricante precisa encontrar áreas para reduzir custo e essa pode ter sido uma delas. Por outro lado, o aparelho caminhou bem no quesito armazenamento: 128 GB - uma quantidade de espaço inédita na família Moto G - e suporte a cartão microSD de 512 GB.

Gigantismo

Agora é hora de falar dos atributos físicos. O G9 Plus cresceu em relação ao seu sucessor - a tela saltou de 6,3 polegadas para 6,8 polegadas. É um baita espaço para consumir vídeos e jogos, ainda que o painel de LCD de 2.400 x 1.080 pixels não se destaque muito. Assim, o G9 Plus é enorme: são 17 cm de altura. É bem maior que o iPhone 11 Pro Max, que já é um monstrengo de 15,8 cm. Para o meu gosto, é grande demais.

No resto do corpo, alguns componentes muito bem vindos: no topo, há a tradicional entrada para fones de ouvido - uma prova de que a indústria ainda tem bom senso. Na lateral direita, está o sensor digital, migrando da traseira do aparelho, onde estava na geração anterior. É interessante essa nova localização. Sugiro cadastrar dois dedos para que o desbloqueio seja ligeiro: o dedão da mão direita e o indicador da mão esquerda. Normalmente, são esses dois que aterrissam na região quando você pega o telefone.

Para melhorar a ergonomia de um aparelho grande, a Motorola criou também um comando específico no sensor. Com dois toquinhos na região, ele abre uma espécie de atalho onde é possível personalizar com os seis apps que você mais usa. É uma boa sacada, mas o resultado é médio. É comum encostar involuntariamente na região enquanto se manuseia o dispositivo, o que acaba acionando aleatoriamente o atalho.

No restante, ele tem um entalhe discreto para a câmera frontal, no estilo furo. O G9 Plus está disponível em duas cores: rosa e azul. A unidade enviada para testes é azul e segue a tendência dos smartphones atuais de imitar os óculos escuros espelhados dos anos 90. Na parte inferior, ainda há espaço para o falante (grita bem ele) e para a entrada USB-C.

E a câmera?

O conjunto de câmera traseira conta com quatro lentes (grande angular de 64 MP, ultra angular de 8 MP, macro de 2 MP e sensor de profundidade de 2 MP). Vamos tirar logo do caminho aquilo que não muda a vida: a lente macro tem pouca utilidade e os resultados não empolgam. É até divertido ter foco com apenas 2 cm de distância em vez de 10 cm, mas os poucos casos de uso, as cores obtidas e a resolução da imagem tornam dispensável a ferramenta.

O sensor principal, de 64 MP, deve vir como tendência na próxima geração de aparelhos intermediários avançados com Android. Por padrão, a câmera tira fotos de 16 MP - o modo 64 MP precisa ser acionado na câmera. Em ambos os casos, os resultados são bons, principalmente em locais de boa iluminação. O aparelho satura as cores na medida. No modo 64 MP, obviamente, é possível obter mais detalhes, mas os arquivos crescem - o que justifica o espaço maior de armazenamento.

No modo ultra angular, a resolução nitidamente cai, mas pode ser um bom recurso para fazer caber mais gente na sua foto - mas sem aglomeração, por favor. Já o modo retrato, que trabalha com o sensor de profundidade, obteve resultados diversos. Em algumas fotos, o desfoque foi elegantemente feito. Em outras, nem tanto. Há outros aparelhos no mercado, como o Nova 5T, da Huawei, com resultados mais interessantes.

A câmera ainda tem o modo noturno, o que já foi uma pedra no sapato da Motorola. Nessa geração, ele funciona - é nítido que há uma combinação entre hardware e software no trabalho. Você poderá obter fotos em locais bastante escuros, mas há dispositivos com resultados melhores no mercado. Já em ambientes com iluminação baixa, porém não escuros, o trabalho nas cores não agradou.

É namoro ou não é?

O Moto G9 Plus abandona de vez a ideia de que a linha Moto G é só para aparelhos básicos. Ele evoluiu bem a família: processador, bateria e câmera principal são alguns dos bons atributos. Claro, ele faz algumas concessões para tentar controlar o preço - memória e performance do conjunto completo de lentes estão entre eles. O problema é que o preço veio 'descontrolado'. Ele 'evoluiu' numa velocidade muito maior do que a do aparelho.

Nesse sentido, só há dois caminhos. Segurar um pouco a onda para ver os descontos aplicados pelo varejo. Ou olhar para outros aparelhos no mercado - talvez, os topos de linha do ano passado, com especificações similares (ou melhores) e preços mais atraentes.

Estadão
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