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#spanishrevolution: da internet para as ruas e para o mundo

29 mai 2011 - 18h32
(atualizado às 18h40)
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Emily Canto Nunes

Retrospectivas são mais comuns no final de um ano, mas em se tratando do mundo virtual, onde o tempo parece passar mais rápido,já é possível fazer uma prévia do que marcará 2011. O poder da internet e das redes sociais de fortalecer movimentos políticos, sociais e culturais certamente será um dos destaques. No Egito, onde a população derrubou o presidente Hosni Mubarak - até então, há quase 20 anos no poder - após 18 dias de protestos em praça pública, a revolta começou online. Não por acaso, um executivo egípcio do Google na época, Wael Ghoneim, tornou-se um dos representantes dos jovens ativistas. No Twitter, a luta do povo contra o regime de Mubarak era representada pela hashtag #jan25. Na Espanha, onde desde o dia 15 de maio a população, especialmente os jovens, tomou conta das ruas para pedir reformas de cunho político, econômico e social, as hashtags se proliferaram, saíram do Twitter e ganharam o Facebook, o YouTube, o Vimeo, o Flickr e muitos blogs e sites.

Redes sociais fizeram com que mais de 4 mil pessoas armassem acampamento em quatro dias
Redes sociais fizeram com que mais de 4 mil pessoas armassem acampamento em quatro dias
Foto: Érica Chaves / Especial para Terra

Nas redes sociais, a movimentação começou com a discussão da Lei Sinde, aprovada em 15 fevereiro deste ano e que dá ao governo o direito de fechar sites ou exigir a retirada de conteúdos que não estejam de acordo com as leis de propriedade intelectual, os chamados downloads "ilegais", "piratas". Irritados com a "censura" à internet, com a situação econômica e habitacional do país e diante da proximidade de eleições locais - realizadas no último domingo, 22, e na qual os socialistas do chefe de governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, sofreram um duro golpe do opositor Partido Popular (PP) - os espanhóis iniciaram na web a articulação de um protesto. E foi a partir da repressão ao acampamento realizado desde o dia 15 de maio na praça Puerta Del Sol, no coração de Madri, que a população foi convocada, por meio do Twitter e do Facebook, a acampar por tempo indeterminado em busca de melhores condições de trabalho e moradia, entre outras reivindicações.

Em quatro dias, as redes sociais fizeram com que 4 mil pessoas montassem suas barracas. Hoje, quase duas semana depois, são dezenas de milhares. No Twitter, as hashtags se multiplicam: #15m, #spanishrevolution, #acampadasol, #yeswecamp, #democraciarealya e #bcnsinmiedo são algumas delas. Na Espanha, os protestos virtuais e reais se alastram por todo o país, em cidades como Valência e Barcelona, ganhando também algumas localidades da Europa. Para este domingo, 29, às 18h (no horário local) são esperadas manifestações em vários países da União Europeia que enfrentam problemas econômicos, políticos e sociais similares aos da Espanha. Coimbra, em Portugal, é um exemplo de cidade que abraçou a ideia e onde os jovens foram às ruas protestar, e também às redes sociais, Facebook e Twitter. A página da comunidade European Revolution tem mais de 15 mil fãs. No dia 23, foi criado o grupo francês Opération Révolution France, que já conta com mais de 5 mil fãs (http://www.facebook.com/Op.Revolution.France).

Durante esta semana, palavras de apoio ao movimento espanhol que recebeu o nome de 15M lideraram os Trending Topics (ranking dos assuntos mais comentados do Twitter) espanhóis. A hashtag #spanishrevolution teve mais de 165 mil menções nos últimos sete dias, enquanto #15M aparece logo atrás, citado cerca de 125 mil vezes. Na última sexta-feira, as hashtags #bcnsinmiedo e #indignados, como são chamados os manifestantes acampados pelas praças do país, lideraram o ranking de assuntos mais comentados na rede social. Durante a tentativa de retirada dos manifestantes de Barcelona, também na sexta-feira, o nome da cidade foi parar nos TT mundial. Desde o dia 15 de maio, diversos países se solidarizaram com a ação e criaram hashtags de apoio. O Brasil foi um deles, com #brazilianrevolution, ainda pouco utilizada, mas também a França, a Alemanha e a Itália: #frenchrevolution, #germanrevolution, #italianrevolution, e até tem até uma "Revolução Mundial" #worldrevolution.

Além de hashtags, o movimento espanhol tem diversos perfis no Twitter, como o @acampadasol, que tem mais de 56 mil seguidores e alimenta o site http://madrid.tomalaplaza.net/, páginas no Facebook para cada cidade em que estão acontecendo protestos, além de páginas gerais como http://www.facebook.com/SpanishRevolution, http://www.facebook.com/pages/Acampada-en-Sol/197969816913812, http://www.facebook.com/democraciarealya e muitas e muitas outras.

Para além das redes sociais, as manifestações invadiram sites de compartilhamento de vídeos como YouTube (http://www.youtube.com/democraciarealya) e o Vimeo (http://vimeo.com/channels/democraciarealya), e ganharam até páginas próprias para transmitir os protestos na praça Puerta Del Sol ao vivo através do serviço Ustream, como é o caso do Sol Tv(http://www.soltv.tv/soltv2/index.html).Em Madri, os manifestantes ligado à comissão de comunicação do acampamento se ocupam em preencher as redes sociais com cada nova proposta de solução e com a programação de assembleias e atividades locais. "Cada país tem seus problemas e particularidades, não seria possível chegarmos todos a um consenso", afirma Fernando Gimenéz, um dos integrantes da comunicação do 15-M. "Não importa o que aconteça com os acampamentos na praça tanto aqui como em outras cidades da Espanha ou mundo afora, tudo isso já está fervendo nas redes", disse ele.

De #spanishrevolution a #brazilianrevolution

A psicóloga brasileira Juliana Iglesias, 25, está morando em Madri desde abril e contou que ficou sabendo das manifestações via internet, primeiro pelo Facebook, depois pelos jornais locais, como o El País. "Estive na Puerta Del Sol em Madri em alguns dias de manifestação. O pessoal que está nos acampamentos é muito pacifico e organizado, há cartazes pedindo para que as pessoas não consumam álcool de maneira irresponsável, há locais para reciclar o lixo, e como aqui faz muito calor nessa época do ano, os manifestantes distribuem até água mineral", afirma ela em conversa por e-mail com o Terra. dizendo também que muitos dos acampados estão munidos de smartphones, câmeras fotográficas e alguns com laptops.

"Nas redes sociais, me uni à página do Democracia Real Ya no Facebook e acompanho as fotos de alguns amigos pelo Flickr", conta Juliana. "Foi bem interessante poder seguir minuto a minuto o que estava acontecendo na praça via Facebook e Twitter, e perceber como nas vezes que a policia tentou intervir, levou uma 'chuva de flashes' das câmeras fotográficas e dos celulares", disse Juliana.

Sobre a repercussão desse tipo de manifestação que começa virtual e se torna real, Juliana acha que elas deveriam sim inspirar o Brasil. "Na Espanha, o voto não é obrigatório, as pessoas protestam e votam pela mudança por que querem. A forma de protesto que vimos no Brasil nas últimas eleições está equivocada no momento que alguém como o Tiririca é eleito. Devíamos voltar um pouco no tempo, pintar as caras, sair nas ruas, dar um basta na corrupção, e não votar em alguém que com certeza não vai contribuir em nada com o País, e depois de braços cruzados reclamar de como esta o panorama político", afirma Juliana.

Vivendo em Barcelona há cinco anos, Camila Jesus Sanches, 23, estudante de comunicação, está na mesma linha de pensamento que Juliana, mas foi ainda mais além. Ela criou no Facebook a página do Brazilian Revolution e administra o Twitter do @Br_Rv, por meio do qual ajuda a divulgar a hashtag #brazilianrevolution. "Sou de uma família em que os jovens sempre protestaram por seus direitos, meus pais saíram nas ruas para pedir o impeachment do Collor, então eu carrego um pouco disso dentro de mim. Ao morar fora do Brasil, a vontade de querer protestar foi crescendo, principalmente por ver as diferenças enormes do nosso País", disse ela em conversa por e-mail com o Terra.

"Aqui na Europa os jovens são super interessados em política e se eles não estão de acordo com algo, eles saem às ruas. Com tudo isso, pensei, porque nós brasileiros não protestamos pelos nossos direitos também? Nós, brasileiros, somos um povo pacífico. Não temos o costume de ir protestar nas ruas, por nada. Ou se vamos, somos poucos. Mas acredito que com as redes sociais é bem mais fácil de nos unirmos. Até porque podemos divulgar o movimento mais rapidamente", acredita Camila.

A Página do Brazilian Revolution no Facebook e o perfil no Twitter foram criados nesta semana e, de acordo com Camila, a ideia é buscar um administrador para a página que more no Brasil, "para assim fazermos um trabalho conjunto". Segundo a estudante, a média de adesão à página que criou no Facebook são de seis a oito pessoas por dia, enquanto o perfil do Twitter, ainda pouco ativo, conta com cerca de dez seguidores. Já a hashtag que Camila está ajudando a divulgar contava, na tarde de sexta-feira, com 168 menções.

Em tempo: no sábado, a hashtag #marchadaliberdade, referente ao protesto chamado de Marcha da Liberdade que saiu da avenida Paulista em direção à praça da República, em São Paulo - consequência do veto judicial que proibiu a Marcha da Maconha na semana passada - apareceu, por vezes, associada à hashtag #brazilianrevolution e/ou #worldrevolution. "#marchadaliberdade em todo Brasil! Dia 18 de junho! #18jun #worldrevolution #brazilianrevolution", postou uma usuária do Twitter no sábado. Será um começo?

Com colaboração de Érica Chaves (Direto de Madri) e Roberta Lemes

Fonte: Terra
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