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Regime vietnamita quer domar as redes sociais

11 mai 2017 - 10h04
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O regime comunista do Vietnã tenta cercear a informação que circula nas redes sociais, já que seu controle dos meios de comunicação tradicional já não é suficiente para frear a propagação de vozes dissidentes.

Após meses de pressões, o governo de Hanói anunciou no final de abril um acordo pelo qual o Facebook se compromete a censurar todo conteúdo que atente contra as leis do país e a apagar contas falsas ou as que publiquem "conteúdo falso" sobre as autoridades.

"O Facebook iniciará um canal separado para se coordenar diretamente com o Ministério de Informação e Comunicação do Vietnã para dar prioridade às petições do Ministério e de outras autoridades competentes do país", dizia o comunicado.

A pressão começou a aumentar em janeiro, quando o Ministério de Informação pediu ao Facebook e às redes sociais locais que colaborassem com as autoridades para bloquear "informação tóxica", ou seja, publicações que questionam as autoridades.

Em março o regime de Hanói pediu às empresas que deixassem de anunciar nestas plataformas e no Youtube até que desapareça o conteúdo "tóxico e ofensivo", ordem seguida pelos principais grupos empresariais.

A lei vietnamita proíbe a difusão na internet de informações consideradas como "antipatriotas", que prejudiquem a segurança nacional ou a unidade do país, mas nos últimos anos este tipo de conteúdo tem se estendido entre os 45 milhões de usuários de redes sociais (metade da população), sobretudo entre os mais jovens.

"Quando se trata de assuntos políticos busco informação diretamente no Facebook e no Twitter, nas contas de blogueiros que contribuem para uma perspectiva diferente", comentou à Efe Giang Pham, um estudante de Jornalismo.

Uma das últimas mostras do poder das redes sociais aconteceu há duas semanas, quando um grupo de camponeses reteve como reféns durante uma semana 30 policiais e funcionários em um conflito pela propriedade de terra.

Embora os meios tradicionais controlados pelo governo tenham apenas informado a situação, milhões de usuários seguiam os acontecimentos através do Facebook e condicionaram o governo, que, segundo alguns analistas, evitou tomar medidas repressivas para não perder a batalha da opinião pública.

O pesquisador da universidade australiana de Monash, Toan Le, afirmou sobre este conflito, em um artigo do portal "The Diplomat", que "as redes sociais estão debilitando a capacidade do governo para controlar a narrativa e a opinião pública".

Outra prova disso é o papel do Facebook na convocação de uma onda de manifestações por causa de um desastre ambiental ocorrido há um ano no norte do país, algo do que não havia precedentes no país.

"A infraestrutura de internet tem se desenvolvido muito mais rápido do que a capacidade do governo de regulá-la e controlá-la", opinou o analista Zachary Abuza no portal "VNExpress".

Diante da dificuldade de manter o Facebook sob controle, algumas vozes do Partido Comunista apostam em substituí-lo por uma rede social própria, à imagem do Weibo na China, mas a popularidade da plataforma criada por Mark Zuckerberg, com 35 milhões de usuários no país, torna a tarefa impossível.

A relação do governo de Hanói com o Facebook foi problemática desde que ele começou a se popularizar no final da década passada.

O regime comunista o censurou durante os primeiros anos de maneira intermitente, mas os internautas encontravam modos de burlar os controles e acabaram ganhando a batalha.

O antigo premiê, Nguyen Tan Dung, reconheceu em 2013 que era impossível proibir o Facebook e que o governo devia utilizá-lo para divulgar sua própria informação.

Embora tenha proposto, Abuza considera que "o governo não pode fazer nada para fechar o Facebook".

EFE   
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