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Redes sociais: um novo nicho para o tráfico de imigrantes

19 jun 2017 - 17h05
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Marta Borrás.

Bruxelas, 19 jun (Minds/EFE).- As máfias que traficam imigrantes descobriram nas redes sociais, em particular no Facebook, um nicho ideal para fazer propaganda de seus serviços e obter novos clientes, uma tendência que se consolidou em 2016 e que causa muita dor de cabeça para as autoridades da Europa.

O Centro Europeu contra o Contrabando de Migrantes (EMSC) da Europol recebeu informações sobre 1.150 contas suspeitas nas redes sociais em 2016 contra 148 do ano anterior, de acordo com o relatório anual do órgão divulgado neste ano.

"Levando em consideração as dinâmicas da migração, o EMSC espera que, em 2017, as redes sociais consolidarão ainda mais sua posição como plataforma para divulgar seus serviços", indicou o relatório.

Em uma recente conversa com jornalistas da Espanha em Catania, a especialista da Europol, Lara Alegría, disse que o uso das redes sociais por parte dos traficantes é uma das prioridades de trabalho para a polícia europeia neste ano.

"Vimos que há um amplo espectro de serviços que estão sendo anunciados nas redes sociais, desde alojamento a transporte, passando por documentos falsos de identidade, vistos, casamentos simulados, o que quer que seja", explicou.

Outra fonte da Europol consultada pela Agência Efe também disse que existe um número cada vez maior de redes sociais que divulgam pacotes de imigração completa. "Incluem a entrada em um país, a residência e até licenças de trabalho, além de casamentos e educação para as crianças", afirmou.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) constatou que um número elevado de imigrantes que chega à Itália ou à Grécia foi "recrutado" por meio de redes sociais, sobretudo o Facebook.

O diretor da OIM para a União Europeia, Noruega e Suíça, Eugenio Ambrosi, explicou à Efe que essas páginas oferecem uma ampla gama de serviços, como transporte, documentação, contratos de trabalho e promessas que, muitas vezes, acabam sendo falsas.

É uma atividade difícil de ser rastreada. As contas, segundo Ambrosi, são criadas e desaparecem em poucos dias. Além disso, as atividades são extremamente lucrativas, exigindo um investimento mínimo dos traficantes.

Segundo o EMSC, além do Facebook, os agentes detectaram um movimento rápido para outros aplicativos, como o Telegram.

"Publicar qualquer conteúdo que sirva para coordenar o tráfico ou o contrabando de pessoas é contrário aos padrões da comunidade do Facebook e isso será retirado do ar quando formos comunicados", respondeu um porta-voz da rede social consultado pela Efe.

Além das redes sociais, as máfias se escondem em plataformas como redes P2P para o alojamento de pessoas ou para páginas que as colocam em contato com possíveis clientes.

A maioria dos traficantes que se anunciam online mantém suas bases na Turquia, mas a Europol também identificou que parte das contas está na Europa.

Esses criminosos, segundo o órgão, oferecem documentação europeia falsa de grande qualidade e viagens por terra para chegar à União Europeia. Muitas vezes, o bloco serve como "zona de passagem" para a América do Norte.

Transporte - inclusive por cruzeiros, aviões ou cargueiros - e documentação falsa são os principais serviços oferecidos pelas máfias no site.

"A variedade desses serviços cresceu muito e inclui hoje em dia ofertas que sugerem que os grupos criminosos tentam corromper funcionários de embaixadas e consulados europeus em legações diplomáticas fora da União Europeia", indica o relatório.

"Às vezes, os traficantes argumentam que têm conexões com embaixadas europeias credenciadas em terceiros países", revelou a fonte policial consultada pela Efe.

De fato, segundo a fonte, diferentes países-membros da União Europeia investigam se funcionários de algumas de suas delegações em terceiros países foram subornados pelas redes dedicadas ao tráfico de imigrantes para conceder vistos de entrada.

"O EMSC recebeu contribuições de investigações feitas nos países-membros onde foram obtidos vistos de entrada autêntica utilizando falsos documentos de apoio", disse a fonte da Europol.

"Em alguns casos, as autoridades competentes suspeitam do envolvimento de funcionários consulares, que são empregados locais dessas delegações", acrescentou.

A Europol se recusou a fazer mais comentários sobre esse assunto porque isso afetaria "investigações em curso".

Uma das dificuldades para a detecção dessas atividades criminosas online é que ela ocorre em diferentes regiões e continentes, o que envolve um esforço simultâneo através das fronteiras.

O acompanhamento das redes sociais na busca de traficantes já deu resultado: a prisão de membros de um grupo criminoso organizado da Turquia que levou imigrantes ilegais à Eslovênia a bordo de um barco de carga. Doze imigrantes também foram detidos.

EFE   
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