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Editora espanhola faz financiamento coletivo para amplificar a voz dos sírios

17 out 2016 - 09h59
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Amplificar a voz dos próprios sírios para que eles mesmos expliquem o conflito em seu país é o objetivo de uma editora espanhola, que lançou uma campanha na internet para arrecadar fundos destinados a publicar a "crônica popular da revolução síria".

Com este fim, a editora Bósforo Libros pretende compilar, traduzir e imprimir em um único volume vários artigos selecionados do "Enab Baladi", um dos principais jornais sírios em papel e em formato digital, formado por ativistas da cidade de Daraya, na periferia de Damasco.

"Será um livro voltado para o público ocidental e, concretamente, para as pessoas que não sabem o que está acontecendo na Síria, queremos que seja simples e direto", explicou à Agência Efe por Skype o diretor-executivo do "Enab Baladi", Amre Mahdi Doko.

Para isso, o livro fará um percurso pela "história do levantamento sírio" através dos artigos do "Enab Baladi", cujo nome significa "uvas de meu país", em referência a Daraya, que é conhecida pela produção da fruta.

"A publicação incluirá textos de todo tipo sobre o que aconteceu, como aconteceu e seus efeitos no Estado árabe", detalhou Doko.

Por trás desta iniciativa está Sergio Pérez, diretor e fundador da editora espanhola Bósforo Libros.

Até agora, sua empresa tinha se dedicado a publicar, principalmente, sobre o conflito palestino, mas Pérez se deu conta do vazio bibliográfico existente sobre a Síria e quis dar sua contribuição.

Em sua opinião, o conflito sírio representa um ponto de inflexão "pelo nível arrasador das atrocidades que estão acontecendo e que não tinham sido vistas anteriormente".

Além disso, Peréz afirmou que, "em nível pessoal", o conflito o fez "refletir sobre o papel de muita gente que se autodenomina progressista ou de esquerda", em entrevista por telefone à Efe.

Para o editor, "grande parte da esquerda está legitimando o que fazem (o presidente sírio) Bashar al Assad e os russos por conta de uma agenda geopolítica". No entanto, Pérez também reconhece que há pessoas que defendem reivindicações populares e é aí que ele quer se situar.

Por isso, sua meta é debater a sociedade civil síria, e que sejam os próprios sírios a narrar o que está acontecendo em seu país através de suas próprias histórias.

"Conheci o 'Enab Baladi' há alguns meses, já que foi no último ano que comecei a me informar a fundo sobre a Síria pela internet e me deparei com este jornal e o trabalho que ele desenvolve", destacou o editor espanhol.

O diretor-executivo do "Enab Baladi" esclareceu que a publicação, que conta com uma revista em papel, dois sites de notícias - um em árabe e outro em inglês - e um arquivo de mídia, surgiu em 2012, no rastro das demandas do povo sírio, que exigia liberdade e dignidade.

"Nesse contexto, surgiram novos veículos de comunicação, porque os sírios foram silenciados durante 50 anos, e isto representou uma oportunidade para que suas vozes fossem ouvidas, tanto dentro como fora da Síria", lembrou o diretor-executivo do "Enab Baladi".

Sobre o tema do livro, Pérez adiantou que a ideia é começar com este primeiro projeto e depois continuar. "Quero que a Bósforo (Libros) seja uma humilde plataforma da voz dos sírios, é o que meu corpo e meu senso de moral estão pedindo", garantiu.

Há duas semanas, a editora iniciou uma campanha de financiamento popular pela internet através do site (http://namlebee.com/enab-baladi-cronica-ciudadana-de-la-revolucion- siria?np=proyecto&pro=186) para arrecadar fundos para publicar o livro, que se chamará "Enab Baladi - As uvas de meu país - Crônica popular da revolução síria".

Pérez, que conta com a colaboração da escritora e ativista hispano-síria Leila Nachawati para coordenar este projeto, pretende editar uma versão em inglês, para a qual serão necessários cerca de 6 mil euros, e outra em espanhol, se a arrecadação chegar a 8 mil euros.

Um terço do que for recebido pelo financiamento coletivo irá para o "Enab Baladi", outro terço para a tradução dos artigos do árabe para inglês e espanhol, e outro terço para a produção impressa do livro e sua promoção.

O volume estará disponível na internet de forma gratuita, enquanto a versão em papel será vendida em livrarias e pela rede.

Se tudo der certo, e a editora conseguir arrecadar o dinheiro necessário, Pérez espera que o livro seja lançado em até seis meses.

EFE   
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