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Com inteligência artificial, web pode ajudar a prevenir suicídios

Qualquer sinal de comportamento suicida em redes sociais deve ser interpretado como um pedido de ajuda, diz psiquiatra

9 jul 2013 - 12h12
(atualizado às 12h37)
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Uma iniciativa chamada de Durkheim Project vai usar Inteligência Artificial para identificar palavras e frases comuns entre as pessoas que estão pensando em tirar a própria vida, em uma tentativa de prevenir o suicídio. Monitorando redes sociais como Facebook, Twitter e LinkedIn, o projeto enviará as informações para um banco de dados médicos, em que um algoritmo interpreta essas informações em tempo real, recolhendo padrões que possam levar ao suicídio.

Lançado no começo deste mês, o projeto tem como alvo inicialmente veteranos de guerra americanos, que possuem taxas de suicídio mais altas que a da população em geral. O último estudo, lançado em fevereiro por um órgão de apoio a veteranos, aponta 22 mortes por dia. Os voluntários do projeto têm instalados em seus computadores ou dispositivos iOS e Android, que também armazena as informações dos aparelhos dos usuários. 

"O estudo que iniciamos com os nossos parceiros de pesquisa irá construir uma base de conhecimento rica que, eventualmente, poderia permitir intervenções oportunas por profissionais de saúde mental", afirmou em comunicado Chris Poulin, pesquisador principal do projeto. "A capacidade do Facebook para divulgação é incomparável", disse.

Onde buscar ajuda
Centro de Valorização da Vida (CVV) é a maior organização brasileira de prevenção ao suicídio
Por telefone, pelo número 141
Por e-mail, chat ou Skype no site da instituição
O sigilo e o anonimato de quem busca apoio emocional são garantidos pelo CVV

Atualmente, empresas de internet como Google e Facebook já possuem medidas para tentar prevenir o suicídio. Para o professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e ex-coordenador da equipe de transtornos mentais e neurológicos da Organização Mundial da Saúde (OMS), José Manoel Bertolote, o assunto precisa de deixar de ser tabu para que as pessoas procurem ajuda ou se disponham a ajudar.

"Em inglês, se você buscar por suicídio na internet, vai encontrar mais sites que ensinam a se matar do que sites de prevenção ao suicídio", disse o psiquiatra. "Existe uma banalização do suicídio, que deixa de ser uma tragédia, como é, para se tornar algo que vende. Não é de surpreender que os jovens que estão conectados na internet comentem disso, falem disso", afirmou.

No Google, buscas relacionadas ao suicídio orienta usuários que precisam de ajuda
No Google, buscas relacionadas ao suicídio orienta usuários que precisam de ajuda
Foto: Terra

Prevenção na internet

É por isso que o Google, em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), principal instituição na prevenção do suicídio no Brasil, coloca um alerta desde 2010 nos resultados da busca relacionados ao assunto mostrando aos usuários onde eles podem buscar ajuda: o número 141, uma das formas de contato da ONG, que atende também por chat, e-mail ou Skype. 

"Quem liga está precisando conversar e não tem com quem falar. É uma forma alternativa de ter um amigo", afirma a voluntária Adriana Rizzo, uma das 2 mil pessoas que trabalham no atendimento do CVV. O órgão já conversou com mais de 1 milhão de pessoas nos últimos seis anos. "O fato de a pessoa simplesmente ser ouvida por alguém já ajuda. Pode ter um efeito de mudar completamente aquela ideia", diz o psiquiatra.

No Brasil, 25 pessoas morrem vítimas de suicídio por dia e ao menos outras 50 tentam tirar a própria vida, de acordo com o CVV. De todos os casos, mais de 90% poderiam ser evitados. Segundo Bertolote, um estudo realizado em Botucatu com pessoas próximas a vítimas de suicídio - chamada de autópsia psicológica - aponta que em 40% dos casos havia sinais claros da intenção de dar cabo à própria vida, mas nenhuma dessas pessoas recebeu ajuda. 

No Facebook, formulário permite denunciar comportamento suicida
No Facebook, formulário permite denunciar comportamento suicida
Foto: Terra

O Facebook possui um formulário em que o usuário pode denunciar conteúdo suicida. No Brasil, cada relato é analisado e, em seguida, é enviado ao usuário em questão informações sobre a parceria com o CVV e de que forma pode obter ajuda. Em outros países, como o Reino Unido, o Facebook pode acionar a polícia imediatamente caso seja reportado algum caso de intenção de suicídio. Caso não seja necessária uma ação imediata, as informações são encaminhadas à ONG The Samaritans, que poderá entrar em contato com a pessoa para oferecer aconselhamento.

"Em um debate recente que eu participei, apareceu a preocupação de que a rede social permite uma desresponsabilização do indivíduo. Um jovem que não consegue falar aos pais ou amigos que está mal, acaba colocando na internet", disse o psicólogo. E é aí que os amigos devem ficar em alerta. 

Segundo Bertolote, não há um comportamento padrão a ser observado, mas os sinais de que alguém possa ter a intenção de cometer suicídio são mais evidentes do que as pessoas pensam. "O comportamento padrão é a pessoa anunciar o suicídio, e isso acontece com uma frequência preocupante", afirma. Para Bertolote, ao identificar uma situação em que há indícios de um comportamento suicida, a pessoa deve sempre deve agir. 

"Toda vez que uma pessoa falar no assunto, isso deve ser levado a sério, isso tem que ser interpretado como um pedido de ajuda. Traz em si um grito de alerta, não podemos deixar passar em branco", afirma. "O simples ato de conversar com a pessoa e se colocar à disposição para ajudar é um comportamento que pode evitar o suicídio", diz.

"O importante é saber que todo suicida é ambivalente, e a minoria deseja realmente morrer. A maioria tem o desejo de mudar uma situação", afirma o psiquiatra. "O suicídio é um tabu, mas não podemos ter medo de falar sobre isso. É dramático, pode ser evitado, mas temos que falar disso."

Fonte: Terra
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