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Startups de saúde recebem mais investimentos, mas ainda não emplacaram no mercado

Crescimento do setor foi de 402% na comparação entre os anos de 2021 e 2020

8 abr 2022 - 17h46
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As healthtechs, startups com foco em solução para saúde, ganham cada vez mais espaço na pauta de investimentos e aquisições de grandes empresas. No ano passado, elas receberam aporte total de US$ 530,6 milhões, crescimento de 402% em relação a 2020, segundo dados levantados pela Distrito, plataforma de inovação aberta e transformação digital.

Porém, diferentemente de ramos desenvolvidos como as fintechs (financeiro) e as retailtechs (varejo), as empresas ligadas à saúde ainda têm um grande caminho a percorrer, tanto em termos de escala quanto de desenvolvimento de tecnologia. Na visão de especialistas, falta um gatilho para que essas startups promovam verdadeiras transformações nos modelos de negócios.

"As fintechs estão há uma década no mercado, e as healthtechs basicamente começaram em 2019 o que as fintechs começaram em 2012. Temos sete anos de gap entre um mercado e outro. Claro que a maturidade das healthtechs deve ocorrer mais rápido, porque a tecnologia vai ficando mais barata e as barreiras de entrada vão caindo, mas ainda falta tempo de maturidade", afirma Gustavo Araujo, cofundador da Distrito.

Exemplo disso é que, no "fantástico" mundo das startups, o segmento de saúde ainda não tem um unicórnio, título dado às startups com avaliação de valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Alguns nomes são apontados como possibilidades próximas, como a gestora de saúde Alice e a empresa de atendimento domiciliar Beep Saúde, mas isso só deve ocorrer no fim do ano em diante, segundo a Distrito.

Maior interesse

Movimentos recentes mostram que tanto grandes empresas de saúde quanto de educação têm apostado em healthtechs para renovar seus negócios. Nesta sexta-feira (8), o Bradesco Saúde fechou um aporte de R$ 60,5 milhões ao fundo Kortex, formado em conjunto por Fleury e Laboratório Sabin em 2020 para investir em healthtechs. Com o investimento, a Bradesco Saúde e a Sabin terão uma participação de 23% cada no fundo, enquanto o Fleury detém 54%.

Ao mesmo tempo, a Ânima Educação recebeu investimento de R$ 1 bilhão em seu braço de medicina, Inspirali, da DNA Capital. Além de fortalecer os cursos de Medicina, a empresa quer se tornar um "hub" de transformação na educação, no qual haverá espaço para startups.

"Há uma oportunidade muito grande como algumas healthtechs podem ajudar nessa transformação da área de medicina. Provavelmente faremos algumas aquisições, como foi o caso da Medroom", disse o presidente do conselho de administração da Ânima, Daniel Castanho, após o fechamento da transação.

Em 2021, o Distrito contabilizou 18 fusões e aquisições de startups do tipo no Brasil. No primeiro trimestre deste ano, a plataforma aponta quatro operações, além de investimento total de US$ 40,979 milhões, ritmo que deve continuar ao longo de 2022.

"Prevemos que as aquisições vão continuar em um ritmo acelerado, mesmo com todas essas instabilidades globais (pandemia, eleições, guerra na Ucrânia)", aponta Araujo, do Distrito. "Isso na realidade traz mais oportunidades para essas aquisições, porque os grandes players conseguem se sustentar nesses momentos de crise e devem acelerar aquisições, já que as healthtechs, que têm menos caixa e escala, estarão mais baratas."

Para Guilherme Stuart, sócio da RGS Partners, embora as healthtechs ainda não tenham o mesmo poder de fogo que as fintechs, elas têm um prato cheio de problemas para solucionar, tanto em relação ao alto custo de produtos e serviços de saúde, quanto em melhorias de atendimento.

"Justamente por esse desafio, há muitas ineficiências a serem aproveitadas no setor de saúde, e aí surgem oportunidades de baixar custos. Temos dispositivos cada vez mais eficientes, mas a integração do negócio como um todo ainda é pequena", avalia.

Entre as soluções mais desejadas, os especialistas apontam que três categorias são mais cobiçadas pelas empresas: gestão de dados, tanto do paciente quanto dos profissionais de saúde; acesso e marketplace, que mira os dois terços da população que não têm plano de saúde; e aprimoramento da telemedicina.

Paciência

Para que as healthtechs emplaquem de vez no mercado, um elemento é apontado como essencial: o tempo. "O setor de saúde ainda precisa de mais exemplos de unicórnios, como houve com as fintechs, porque os mercados de fintechs são escaláveis de forma mais rápida do que em healthtechs. É uma questão de maturação", avalia Guilherme Vieira, sócio da área de fusões e aquisições do escritório Demarest.

Segundo Stuart, ainda falta uma solução-chave que permita um avanço significativo para todo o setor de saúde. "Se não houvesse GPS no celular, não haveria Uber. Qual é a tecnologia que vai surgir embarcada em seu celular que vai fazer com que efetivamente se tenha redução no custo e melhoria na qualidade de saúde de maneira brutal?", indaga.

Araujo aponta que, com o tempo, as startups conseguirão ganhar mais espaço para implementar suas soluções. "A saúde é muito tradicional, então é supernormal que a inovação não venha dos grandes players, porque não existe cultura de inovação. Por isso que as aquisições têm acontecido. Porém, as principais startups captaram rodadas recentes, então precisam gastar muito bem esse dinheiro para que consigam escalar seus produtos."

Quanto tempo até isso ocorrer? Na visão de Stuart, pode ser preciso uma década. "Não tenho dúvida de que, assim como olhamos hoje para o mercado de e-commerce dos anos 2000, e que parecia uma piada, acredito que será a mesma coisa com saúde: será uma década para efetivamente enxergarmos a healthtech como uma mudança de melhoria de saúde e custo."

Estadão
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