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"Queremos ajudar grandes fundos a navegar pelo ecossistema brasileiro", afirma Maya Capital

Protagonistas da nova geração de fundos nacionais, fundadoras da Maya Capital contam como o atuam no ecossistema

3 nov 2021 - 16h59
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O ecossistema de startups no Brasil está a todo vapor e tem atraído fundos de venture capital com cada vez mais frequência para o mercado de inovação. Uma das protagonistas da nova geração é a Maya Capital, fundo criado em 2019 por Lara Lemann e Monica Saggioro, que já conta com 29 startups investidas.

Em pouco tempo, Lara e Monica entenderam que diversificar o portfólio é a chave para recrutar novos investimentos. E a aposta já deu resultado: a Maya Capital celebrou seu primeiro unicórnio em 2021 — a chilena NotCo, que tem forte atuação no Brasil e que produz alimentos à base de plantas.

Em entrevista ao Estadão, as fundadoras contaram como querem ajudar fundos estrangeiros a navegar por aqui. Além disso, elas anunciaram um comitê de investidoras de venture capital para fomentar o cenário de mulheres no mercado de inovação. Confira os melhores momentos da entrevista:

O ano de 2021 foi de bastante efervescência no mercado de inovação. O que mudou na Maya neste último ano?

Lara: Muita coisa acaba mudando, mas a coisa importante se mantém: a nossa tese. Continuamos liderando a primeira rodada de venture capital, procurando soluções escaláveis e colocando a mão na massa com esses times.

Monica: Tivemos nosso primeiro unicórnio neste ano, que foi a NotCo. Para nós é super importante porque ainda somos um fundo muito novo. Ter um primeiro unicórnio dá muita confiança de que a gente vai conseguir entregar retornos bem acima da média.

Qual a motivação da Maya para fazer investimentos em startups de estágio inicial?

Lara: A gente acredita que inovação é o principal veículo de transformação na América Latina. A tecnologia está mudando como nos comunicamos e compramos. O que tem sido bacana de ver nesses últimos três anos é que a inovação liderada por tecnologia continua escalando mesmo quando o mundo paralelo se mantém estático. Acho que essa é a nossa motivação de estar nesse começo das startups.

O fundo tem apenas três anos e há espaço para crescimento no mercado. Pretendem abordar outros estágios de investimento em startups?

Lara: Temos grandes ambições para a Maya. No futuro, a gente enxerga que a Maya vai ser a principal plataforma de investimento em estágio inicial da América Latina. Isso, eventualmente, vai ser uma série de fundos investindo prioritariamente em estágio inicial, mas, eventualmente, também acoplando outros fundos que podem trazer ainda mais oportunidade de retornos para os nossos investidores.

Criar fundos específicos para setores é uma opção?

Lara: No momento a gente não pensa nisso. A gente enxerga que ainda existe muita oportunidade no investimento em estágio inicial. Ainda tem um espaço de financiamento, de capital qualificado trazendo mais para a mesa dos empreendedores do que só dinheiro. Conforme o ecossistema for evoluindo, eventualmente terão oportunidades para esse tipo de fundo mais focado. Hoje, a gente ainda não acha que o ecossistema tem espaço pra isso, mas em algum momento esperamos que ele esteja maduro o suficiente para comportar esse tipo de fundo mais especializado.

A trajetória de construir portfólio faz vocês investirem em segmentos muito diferentes. Por que olhar para tantos setores?

Monica: A gente quer investir em times muito bons. O que não falta na América Latina são problemas a serem resolvidos. A gente vê ainda muitos problemas estruturais que direcionam e chamam a atenção dos melhores empreendedores. Sempre que encontramos essa combinação estamos abertas a investir, mesmo que seja em setores variados Também, ter um portfólio diversificado em vários setores ajuda a gente na estratégia de aumentar performance.

Existem setores que chamam mais a atenção como opção mais atraente de investimento?

Lara: Tem alguns setores que vemos bastante oportunidade. Fintech é um deles. A gente vê muitas mudanças acontecendo e isso tem levado a uma necessidade de infraestrutura. Quatro negócios no nosso portfólio são fintechs puras, mas nove têm relações com fintechs ou algum braço na área. Agricultura também é um setor com muito espaço para soluções até mais completas para o agricultor. Varejo a gente ainda vê pouca penetração de e-commerce e enxergamos que tecnologia poderia transformar a cadeia toda, desde como o insumo chega no pequeno e médio empreendedor que vai vender esse produto de alguma forma. Por último, educação

e saúde são os grandes problemas que poderiam ser resolvidos por tecnologia na nossa região. Vocês observam o potencial das startups de se tornarem unicórnios na hora de investir?

Monica: Sempre que a gente investe, a gente tem não só uma perspectiva de resolver grandes problemas da América Latina mas também de trazer retornos acima da média para os nossos investidores. Se você tem excelentes talentos, atuando em grandes problemas em mercados muito grandes, a probabilidade de você ter um negócio com uma performance muito boa é enorme. A gente olha sim esse potencial.

A chegada de fundos estrangeiros podem ajudar o ecossistema no Brasil? Qual o papel dos fundos brasileiros nesse cenário?

Lara: Vemos esses fundos como uma grande validação do momento que o ecossistema está passando. Historicamente, existiam dois grandes buracos nesse ecossistema: o de investimento em estágio inicial e em estágios posteriores, onde esses fundos internacionais têm entrado para liderar rodadas maiores. Não acho que eles diretamente ajudam fundos menores. O que eles trazem é uma possibilidade de parceria.

Monica: Conseguimos atuar como parceiros locais para esses fundos estrangeiros. Podemos dar todo o suporte, inclusive no contexto regulatório e local. A gente tem visto muita demanda dos fundos internacionais vendo a relevância do nosso portfólio. Queremos fazer um papel de ser um filtro importante e servindo como um validador local para ajudar esses grandes fundos a navegar pelo ecossistema brasileiro.

Vocês perceberam o aumento de presença feminina entre fundadoras e investidoras?

Lara: Acabamos vendo muitas mulheres, mas gostaríamos de ver muito mais. Cerca de 40% do nosso portfólio tem uma fundadora ou cofundadora mulher. Não estamos nos 50%, mas estamos chegando perto. Nós também temos o Female Force, onde estamos criando uma comunidade que empodera empreendedoras e investidoras. Estamos criando um comitê de investidoras para ter um lugar para trocar ideias, conversar e ter um momento onde nós nos unimos para tentar, de alguma forma, inspirar mais mulheres a se juntarem a nós.

Qual o papel das investidoras mulheres no atual ecossistema de startups?

Lara: A gente precisa muito de investidoras e investidores diversos, que têm experiências de vida diferentes. Não precisa ser apenas homens que vêm do mercado financeiro. Acho esse papel importante porque a tomada de decisão é muito baseada nas crenças. Quanto mais diversidade a gente tem no mercado, mais a gente consegue financiar modelos inovadores que vão fornecer soluções para pessoas diversas também.

O que a Maya espera do mercado de startups para o ano que vem?

Monica: Com certeza ainda mais empreendedores vindo para o ecossistema. Estamos tendo esse looping de rodadas de sucesso e saídas bem sucedidas que atraem novos talentos. Também acreditamos que vai ter muito apetite de diferentes investidores de diferentes perfis, para várias séries de captação, e investidores estrangeiros também. Esperamos que no ano que vem, os fundadores continuem com esse acesso ao capital e ainda com muitas oportunidades para serem resolvidas.

*É estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani

Estadão
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