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Quando todos perdem

Com o caso Huawei, fala-se de guerra fria em tecnologia. Espero que não se chegue a tal ponto.

29 mai 2019 - 05h10
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A proibição de vendas da chinesa Huawei nos Estados Unidos é notícia há vários dias. Muito se fala sobre o impacto que a falta do sistema operacional Android fará nos aparelhos da Huawei e sobre o efeito dominó na cadeia de fornecedores. Também vejo um sinal amarelo que impacta a inovação em toda a indústria de tecnologia.

Para contextualizar: EUA e China estão protagonizando uma guerra comercial em que existe aumento de tarifas de importação em ambos os lados. Além disso, a Huawei foi duramente golpeada ao ser proibida de vender no mercado americano sob alegação de riscos de segurança, uma vez que vende equipamentos que podem ser usados para espionagem chinesa, segundo o governo Trump.

Do lado do consumidor, o sinal mais óbvio é interrupção do fornecimento do Android para a Huawei em suas novas versões. Com isso, os aparelhos da chinesa - hoje vice-líder do mercado global de smartphones - perderão muita atratividade.

Para o Google, o baque financeiro será sentido com a redução gradual dos usuários na Ásia. Não apenas por fornecer o Android, mas por perder um braço importante de receita que vem da Play Store no país, onde a recorrência de compra gera muito dinheiro. Nada impede a Huawei de criar sua própria plataforma. Mas não se trata só de software e sim do ecossistema inteiro, dos apps ao amadurecimento do hábito de uso de quem adota.

Não vou entrar no mérito do grau de risco que as tecnologias da Huawei podem ou não trazer, mas falo sobretudo do retrocesso em que movimentos como esse podem causar à inovação de maneira geral. É um efeito cascata que pode retardar desenvolvimento de novos produtos e comprometer avanço de novas tecnologias. Além disso: não há ganhos, ao menos até agora, de nenhum dos lados.

Após o Google, várias empresas também anunciaram interrupção de fornecimento para a Huawei, como a ARM, britânica de chips que hoje pertence ao Softbank. Especialistas em tecnologia já indicam que esse movimento pode ameaçar o futuro do design dos chips, uma vez que a ARM fornece arquitetura para que a Huawei desenvolva suas tecnologias.

Empresas americanas também adiaram seus planos, como a americana Pelco, fabricante de câmeras de segurança com sede na Califórnia. Usuária de componentes da HiSilicon, divisão de chips da Huawei, a empresa já revisou para baixo sua meta de lançamentos e de vendas no ano.

O movimento pode ser crítico também para a Apple: se a China endurecer sua política e proibir a empresa de vender no país, os prejuízos podem chegar a US$ 15 bilhões por ano. É um passo atrás no mercado de tecnologia, comprometendo a política de intercâmbio de tendências, criada nas últimas décadas e que fomentou inovação global. Fala-se de guerra fria em tecnologia. Espero que não se chegue a tal ponto.

É INVESTIDORA ANJO E PRESIDENTE DA BOUTIQUE DE INVESTIMENTOS G2 CAPITAL

Estadão
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