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Maya Capital abre fundo de US$ 100 milhões na contramão da crise das startups

Monica Saggioro e Lara Lemann, fundadoras da firma, dizem que o momento exige 'coragem' dos empreendedores

22 jun 2022 - 23h06
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Em um momento turbulento para as startups, com centenas de demissões realizadas no últimos meses, a Maya Capital anuncia nesta quarta, 22, o lançamento de um novo fundo de investimento de US$ 100 milhões voltado ao segmento. "As melhores empresas do mundo foram criadas durante ou após crises", afirma ao Estadão Monica Saggioro, fundadora, ao lado de Lara Lemann, da Maya, em 2018. Com o novo fundo, a ideia é justamente apoiar os empresários em tempos de capital escasso e bastante oscilação de preços.

Com dois "unicórnios" (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) no portfólio - a chilena NotCo e a mexicana Merama -, a gestora pretende investir em até 30 startups da América Latina em estágio inicial, de segmentos como finanças, varejo, educação e alimentação - mesma proposta do fundo de US$ 40 milhões que elas lançaram em 2018. A diferença é que, agora, Monica e Lara querem liderar as rodadas.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Monica Saggioro (esq.) e Lara Lemann são as fundadoras do fundo de investimento brasileiro Maya Capital
Monica Saggioro (esq.) e Lara Lemann são as fundadoras do fundo de investimento brasileiro Maya Capital
Foto: Divulgação/Maya Capital / Estadão

Por que decidiram lançar um novo fundo?

Lara Lemann: A principal mudança é que queremos liderar as rodadas. Temos o papel de não investir só em ótimos times, mas apoiá-los conforme vão escalando. Isso permite ajudar os fundadores nas nossas três frentes: investir no time de fundadores, ampliar a rede de contatos e levantar capital.

Qual meta do novo fundo?

Lara: Vamos ter um portfólio mais concentrado. Enxergamos que, para agregar valor, precisamos que seja um pouco menor. Vamos investir em cerca de 25 a 30 negócios e nosso período é de cinco anos. Reservamos metade do fundo para fazer investimentos em rodadas subsequentes dessas startups.

Há mais eficiência se a Maya lidera a rodada?

Monica Saggioro: Faz sentido para a Maya e para os fundadores, porque temos essa tese de colocar a mão na massa e ficar perto das startups. E o segundo motivo é que construímos muitos casos de sucesso. Apresentamos cofundadores, como é o caso da Merama, nosso segundo unicórnio. Em introduções comerciais, apresentamos a NotCo para o Starbucks. Houve o caso da Nilo, de cuidados de saúde, que apresentamos para a GNDI, hoje o principal cliente deles. Também apresentamos a EmCasa para o fundo Globo Ventures. Ter esses exemplos fez com que outros fundadores buscassem esse nosso suporte. Queremos nos especializar nisso.

Faz sentido esse movimento no momento em que o mercado está cauteloso?

Mônica: Tudo o que aprendemos com o mercado mostra que não é hora de pisar no freio. Agora é um movimento de baixa, no qual investidores mais recentes do mundo de venture capital talvez se assustem com o problema de liquidez. Mas quem conhece o mercado sabe que os fundamentos estão presentes e muito fortes. Temos muitos dos melhores talentos querendo empreender e ainda existe uma base sólida de capital. Os principais fundos da América Latina estão muito bem capitalizados, com mais dinheiro do que há três ou cinco anos. Continua havendo possibilidades de saídas, com 21 IPOs em três anos, além dos M&As (fusões e aquisições). E há ainda muitos problemas a serem resolvidos na América Latina. Não nos intimidamos nem queremos reduzir o ritmo. Queremos continuar apoiando os fundadores que sejam resilientes e que queiram entrar nesse desafio de resolver grandes problemas. Historicamente, as melhores empresas do mundo foram criadas durante ou após anos de crises. Os empreendedores vão precisar de mais coragem e resiliência.

O que mudou do primeiro fundo para cá no mercado de inovação?

Lara: O mercado evoluiu muito. Enxergamos que as três principais coisas de que o mercado precisa (capital, talento e saídas) têm evoluído. Em termos de talento, nunca antes vimos tantos talentos voltando para a América Latina para trabalhar com startups — e vemos cada vez mais alunos latinos de MBA que querem voltar para a região para empreender. Em termos de capital, apesar do momento, vemos um cenário que tem uma cadeia de investidores razoavelmente completa. A Maya atua muito em startups de estágio inicial, vemos ótimos fundos com série A e, no estágio final, mais fundos locais e gringos com mais capital permanente aqui do que antigamente. Por último, vemos cada vez mais saídas, com ecossistema de fusões e aquisições aquecido. Quando existem essas saídas, existe uma reciclagem de talento. Esse é o círculo virtuoso de que participamos e que também catalisamos.

Cada vez mais falamos sobre mulheres em cargos de liderança nas startups. Estamos melhorando?

Lara: Nunca vai ser no ritmo que a gente quer.

Monica: Mas está melhorando. É o nosso compromisso ter iniciativas voltadas para isso. No nosso portfólio, 40% das startups têm pelo menos uma fundadora mulher. Mas não aplicamos nenhum filtro nem utilizamos isso como critério de investimento. Estamos procurando os melhores times e as melhores teses. Somos criteriosas em nossa seleção e temos uma rede diferenciada. Muitas mulheres nos procuram por se identificarem e acabamos nos conectando com muitas fundadoras. E talvez porque tenhamos um olhar diferenciado para alguns modelos que não passam por aquilo que a gente passa. Porém, essa pergunta deveria ser direcionada também a todas as outras gestoras de VC (venture capital) que não têm mulheres. Não é uma pauta que sozinha vamos conseguir resolver. Todo o ecossistema precisa se mobilizar.

Amadurecemos no aspecto de diversidade?

Lara: Virou um assunto. O primeiro passo é que todos estão falando disso, e 2020 foi o grande ano para isso: a pauta racial também ganhou destaque. Todo mundo está percebendo que é importante e que não é uma questão de ESG ou percepção. Para um time tomar melhores decisões de investimento, precisa haver visões de vida diferentes.

Monica: Eles entenderam que não é contratar mulher para ficar bonito na foto. Isso mudou muito. Nossos fundadores falam que chegaram em porcentuais acima dos 50% de mulheres em cargos de liderança.

Estadão
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