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'Inovação traz uma vantagem quase injusta para empresas', diz CEO da Distrito

Fundada em 2014 como hubs físicos para startups, empresa busca se reinventar de forma digital na pandemia, agora com a varejista ViaVarejo como sócia

18 nov 2020 - 05h10
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Quando foi fundada, há seis anos, a Distrito queria ser um coworking para startups. Depois, começou a criar diferentes espaços focados em diferentes áreas, como fintechs, varejo ou saúde. Ao longo do tempo, a empresa comandada por Gustavo Araujo e Gustavo Gierun percebeu que podia fazer muito mais: realiza investimentos de capital de risco, mapeia dados do ecossistema local e ajuda grandes corporações a realizarem suas transformações digitais. Desde a semana passada, passou a ter um parceiro especial: a ViaVarejo, que comprou 16,7% do capital da Distrito.

De um lado da negociação, a dona de Casas Bahia e Ponto Frio tenta ganhar terreno em uma corrida tecnológica no setor varejista. Do outro lado, a Distrito olha para como pode acelerar seu crescimento, aumentar sua capacidade de suporte e fazer sua própria reinvenção digital - afinal, os espaços de inovação físicos da empresa tiveram de ficar fechados por conta da pandemia e a saída foi correr para o online para continuar atendendo startups e corporações parceiros.

Uma das pontas de lança desse processo são os Digital Hubs, uma plataforma online que pretende aumentar o alcance da empresa tanto para startups quanto para os parceiros tradicionais. "Queremos atender em qualquer cidade do Brasil. Percebemos que o mercado de inovação é muito maior do que a gente pensava e que precisávamos investir muito mais em produto, tecnologia e equipe", diz Gustavo Araujo, CEO da Distrito.

A meta é chegar a atender 1,5 mil startups no ano que vem - hoje, a empresa tem uma rede de 300 novatas. Ao Estadão, Araujo fala mais sobre os planos de sua empresa e explica o porquê da aliança com a ViaVarejo. Para ele, a inovação aberta é o caminho para todos os jogadores desse mercado. "Com ela, é possível dobrar a velocidade de inovação, pegando um empreendedor que vem pensando nisso há anos e já tem o negócio pronto". A seguir, os principais trechos da entrevista.

A Distrito normalmente faz aportes. Por que levantar um?

Até hoje, nós crescemos de maneira orgânica. Somos lucrativos desde a fundação. Nos últimos anos, porém, fomos entendendo nosso papel nesse mercado: transformar o que era analógico no mínimo em algo híbrido, entre analógico e digital. Percebemos que o mercado de inovação é muito maior do que a gente pensava, e que precisávamos investir muito mais em produto, tecnologia e equipe. Foi necessária uma injeção de capital para preparar a empresa para o tamanho que é esse desafio.

Como os novos recursos serão usados?

Queremos aumentar em cinco vezes nossa capacidade de atendimento de startups em 2021, saltando de 300 startups para cerca de 1,5 mil startups no ano que vem. É algo que não conseguiríamos fazer sem investimento — sem aporte, talvez cresceríamos duas vezes, mas não cinco. Também vamos ampliar o número de corporações que atendemos com a nossa plataforma de inovação aberta: o plano é passar de 65 empresas para quase 200. Além disso, investiremos no nosso software para grandes companhias, saindo hoje de um time de 25 funcionários de tecnologia que cuidam desse produto para 80 pessoas focadas só na construção da plataforma.

A Via Varejo hoje enfrenta uma corrida tecnológica no seu setor, disputando espaço com o Magalu, Amazon e Alibaba. Como a Distrito pode mudar o jogo?

Com a Distrito, a Via Varejo vai ter acesso ao ecossistema brasileiro de startups. Se houver uma startup, seja em Recife ou Porto Alegre, que puder lhe agregar valor, vamos fazer a conexão. Por meio de dados, conseguimos conectar as empresas com melhor alinhamento para eles. A velocidade de transformação que a Via Varejo vive hoje só é possível com esse tipo de inovação aberta, e vai além do varejo. Eles também estão olhando para o setor financeiro, com a startup BanQi, atendendo também o consumidor do crediário, que hoje não tem cartão de crédito dos grandes bancos.

O sr. defende muito a inovação aberta. Uma grande corporação não pode fazer sua transformação digital apenas dentro de casa?

Não adianta apenas colocar milhares de desenvolvedores em um galpão. Construir produtos e serviços internamente é algo que está limitado ao número de desenvolvedores que se tem. A inovação aberta é um segundo passo: ela dobra a velocidade de inovação, pegando um empreendedor que vem pensando nisso há anos e já tem o negócio pronto para ser integrado. Investir em inovação aberta traz uma vantagem competitiva tão grande que é quase injusta para com os concorrentes. Nessa fase, você passa a contar com todos os desenvolvedores do mercado a seu favor e com toda a força de desenvolvimento de qualquer startup do Brasil. É muita coisa.

Agora com a Via Varejo como sócia, como ficam possíveis parcerias com outras empresas, incluindo varejistas concorrentes? A Distrito vai continuar atendendo companhias de diferentes setores?

Só fizemos essa rodada de investimento porque ela não muda em nada nossa independência. Continuamos atendendo outras varejistas e outros diversos setores, incluindo o setor farmacêutico, de logística, de energia, o financeiro e seguradoras. Inicialmente, a Via Varejo seria só uma parceira da Distrito, mas eles tiveram uma visão avançada. Sabemos que certas parcerias acabam inibindo outras empresas, mas cada projeto é tratado com total privacidade. Existe governança com relação a dados. Hoje atendemos empresas concorrentes de diferentes setores.

A pandemia afetou bastante a Distrito, fechando seus espaços físicos. O que 2020 ensinou para a empresa?

Tínhamos quatro prédios físicos, em Sâo Paulo e Curitiba. Para as parcerias de inovação aberta, as empresas tinham que de alguma maneira estar frequentando esses ambientes para encontros e reuniões. Antes da pandemia, tudo o que fazíamos no digital era suporte para o físico. Agora, o nosso negócio é primariamente digital - e o físico é que dá apoio para o outro lado. Não foi só a pandemia, mas também a própria ideia de atender empresas. Como é que a gente ia atender a ViaVarejo, uma empresa com 46 mil funcionários e espalhada pelo Brasil inteiro? Foi aí que percebemos que em vez de investir milhões em prédios, deveríamos investir em código. Criamos os Digital Hubs para atender empresas em qualquer cidades do Brasil. E o mesmo acontece com as startups no programa Distrito for Startups.

A Distrito nasceu como um coworking. Hoje quer estar em todo lugar. Como o sr. avalia essa transformação?

Uma coisa foi levando à outra. Começamos pensando em um coworking, já que as startups precisavam de um lugar para trabalhar e poderíamos ajudá-las com propósito. Depois, resolvemos abrir um braço de investimento porque o empreendedor precisa de alguém que financie a ideia. Tendo ajudado os empreendedores, passamos, então, a olhar para corporações. Vimos que poderíamos ajudar conectando-as com as startups, porque elas precisavam fazer inovação. Mas conectar com quais startups? Com essa necessidade de informação, nasce nossa parte de inteligência de dados, para ser a plataforma de dados que viabiliza toda a inovação aberta, oferecendo um radar de entendimento de todo o ecossistema ao redor. O negócio foi crescendo naturalmente de acordo com a própria maturidade nossa, do mercado, dos empreendedores e das empresas.

A Distrito tem se tornado uma referência em pesquisas de dados do setor. Essa divisão de dados ajudou a impulsionar os outros braços da empresa?

Com certeza. Criamos essa divisão de dados para mostrar para o mercado a verdadeira maturidade do mercado, com informação real, checada e com qualidade em primeiro lugar, em vez de quantidade. Esse cuidado tem sido reconhecido. Cada uma das startups mapeadas, apesar de ter três camadas de tecnologia com algoritmos, é checada por olhos humanos. É nessa última camada humana que evitamos inconsistências e que criamos inteligência em cima dos dados.

Quais são os planos da Distrito para 2021?

Além de aumentar nosso suporte a empreendedores e também a capacidade de atendimento corporativo, será o ano de consolidarmos o Distrito no mercado brasileiro, que ainda tem bastante potencial, e começarmos a colocar o pé na América Latina. Nos pedem há muito tempo para expandir a inteligência de dados para países latinos: começamos a mapear o primeiro país, a Colômbia, e se estivermos satisfeitos com o resultado, devemos ampliar para outros.

Estadão
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