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Gympass: 'Tivemos mais inovação nos últimos 15 meses do que nos anos pré-pandemia'

Startup de ginástica teve de suar para contornar o fechamento das academias durante a covid-19, mas já vê luz no fim do túnel com pico de clientes e aporte de US$ 220 milhões

7 jul 2021 - 05h10
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Todas as empresas, incluindo as startups altamente digitalizadas, tiveram de trabalhar duro para se adaptar a todos os desafios trazidos pela pandemia. A Gympass, startup de ginástica e bem-estar, suou muito para oferecer alternativas digitais em tempos de academias fechadas, seu principal filão até então. Ao todo, foram lançados 50 diferentes produtos, apostando em áreas como meditação, nutrição e exercícios de concentração.

"Tivemos mais inovação nos últimos 15 meses do que nos anos pré-pandemia", afirma em entrevista ao Estadão o CEO da Gympass, César Carvalho. Na semana passada, a startup anunciou que recebeu investimento de US$ 220 milhões de gigantes do mercado: Softbank, General Atlantic, Moore Strategic Ventures, Kaszek e Valor Capital Group. Para a empresa, trata-se de um aporte que olha para os anos vindouros, sem pandemia e com o tema do bem-estar individual em alta pós-covid-19. "Esse cheque é a entrada nesse novo contexto", afirma.

Para a startup, que já acompanha a reabertura de mercados adiantados na vacinação, como Estados Unidos e Reino Unido, já existe luz no fim do túnel - a Gympass está presente em 10 países, além do Brasil. Em maio deste ano, a empresa teve o melhor mês da história da companhia, quando observou crescimento de 10% ao mês.

A Gympass crê que a reabertura das academias não deve significar o abandono dos novos produtos digitais. Pelo contrário, a aposta para o futuro é na combinação, com um cliente cada vez mais interessado em misturar modalidades conforme o apetite. "O futuro vai ser o mix de experiências com pessoas e experiências digitais", afirma Carvalho.

Abaixo, leia trechos da entrevista:

A rodada de US$ 220 milhões é uma espécie de "cheque de entrada" para o "novo normal"?

Não existe descrição melhor. Construímos uma solução digital muito forte em todas as verticais de bem-estar: atividade física, meditação, terapia, nutrição, ajuda no sono. Com a reabertura das academias e o avanço da vacinação nos EUA e no Reino Unido, vimos que as pessoas continuaram usando os recursos digitais dessas verticais, mas adicionaram as visitas às nossas academias parceiras conforme forem reabrindo. Em maio, tivemos mais visitas a esses parceiros do que antes da pandemia. E a empresa cresce mais de 10% mensalmente. O cheque de US$ 220 milhões é a entrada nesse novo contexto.

A pandemia abriu o olhar da Gympass para novos segmentos?

Foram três coisas. A primeira é o reconhecimento da importância do bem-estar, tanto pelas empresas quanto pelos funcionários. Isso veio de todos estarem mais estressados ao misturar as vidas pessoal e profissional. A segunda coisa é a flexibilidade, de trabalhar de diferentes lugares, estar muito mais perto dos vizinhos e da sua comunidade local do que navegando em volta do escritório. A terceira coisa é que o bem-estar nunca é só o jeito que você come, como se exercita nem a saúde emocional. É holístico. E sempre fomos muito fortes em atividade física, mas tínhamos pilotos de parcerias que estavam começando nas outras verticais. Na pandemia, vimos a necessidade dos clientes e das empresas para entrar nesse aspecto. A solução que hoje entregamos é muito melhor do que antes da pandemia.

A Gympass está no mercado há 9 anos. Na história da empresa, o ano de 2020 foi o mais difícil?

Foi. Muita coisa mudou e foi o ano mais desafiador. O primeiro aspecto é que operamos em 10 países, com escritórios em todos eles. Nunca tínhamos tido uma situação em que os nossos parceiros de repente são obrigados a fechar as portas. O nível de complexidade é que isso não aconteceu em todos os lugares simultaneamente. Houve lockdowns, saída de lockdowns, lockdowns de novo. Isso gera um estresse extraordinário na organização. E nossos parceiros tiveram muita dificuldade. O setor de academias recebeu pouca ajuda do governo, diferente de outros setores. Houve também muita inovação. E toda gestão de mudança dói. Assinamos contratos com os 50 maiores apps globalmente de bem-estar: Strava, Calm, Meditopia, Fabulous. Por si só, esses apps seriam projetos de 4 a 5 meses para lançar e comunicar ao usuário — tivemos 50 deles. Ainda, no começo da pandemia, criamos uma plataforma digital para as academias oferecerem aulas aos alunos. Tivemos mais inovação nesses últimos 15 meses do que nos anos pré-pandemia. A rodada marca esse reconhecimento.

A Gympass chegou a demitir 20% da equipe em todo o mundo. Como foi essa decisão?

No começo da pandemia, não tínhamos visibilidade de quanto tempo nem quão severo seria o impacto. Naquele momento, tivemos de nos preparar para o pior. Hoje, olhando para trás, fico feliz de estarmos contratando e expandindo o time. Estamos com 1,1 mil funcionários e devemos chegar a 1,6 mil até o final deste ano. Contratamos principalmente na área de tecnologia e produto, pensando na expansão de novos negócios.

Daqui para a frente, a Gympass vê um uso mais intensivo de soluções digitais ou o cliente vai voltar a adotar somente os espaços físicos?

No futuro, o uso dos produtos digitais só cresce, mesmo com a abertura das academias em todos os mercados hoje. E não vai diminuir. O futuro vai ser o mix de experiências com pessoas e experiências digitais, que são mais convenientes a depender do momento. Mas todo mundo precisa dessas conexões sociais e essa vai ser a jornada. Não vamos diminuir os produtos digitais. Investimos bastante nisso e as visitas aos nossos parceiros vão aumentar muito, dada essa importância com o bem-estar. Estamos muito empolgados com os dois.

Houve queda de receita ao longo de 2020? Quando voltaram a crescer?

O negócio sofreu muita pressão no ano passado, e teve momentos diferentes. Teve momento em que todas as academias estavam fechadas e outras com restrição de capacidade. Foi um ano heterogêneo. O pior mês foi em abril de 2020, porque nenhum mercado estava aberto e estávamos construindo boa parte das soluções digitais. Mais ou menos em março de 2021, quando a vacinação dos EUA e Reino Unido cresceu muito, começamos a ver o efeito composto desses produtos digitais em visitas aos parceiros. Foi aí que começou uma onda de crescimento sem precedentes na nossa história. E o recorde de visitas foi em maio, quando tivemos mais visitas do que no pico pré-pandemia.

A retomada tem sido diferente em cada país, embora todos os mercados entraram na pandemia quase que simultaneamente. Existe relação com a vacinação?

Acompanha totalmente a vacinação. Como tem correlação muito grande entre vacinação e redução de casos severos de covid-19, o impacto positivo é muito grande. As pessoas têm mais confiança e segurança para voltar aos hábitos.

No Brasil, como tem sido a retomada? Desde agosto do ano passado, estamos em uma reabertura intermitente e passamos por uma segunda onda neste ano.

Quando há lockdowns, as visitas reduzem, naturalmente. O uso dos produtos digitais continua crescendo, mas a demanda retorna quando os parceiros reabrem. O Brasil também está em patamares maiores em termos de visita às academias, mas ainda temos várias medidas de capacidade que não existem mais nos outros mercados. Também aqui, superamos o pico pré-pandemia em maio passado.

Para especialistas, aqui no Brasil a reabertura das academias foi precipitada. Qual é a sua opinião?

Não sei comentar sobre o timing da decisão, não cabe a mim dizer o que foi correto ou não. Não julgo política pública, mas acredito que estamos em um setor muito bonito porque ajuda as pessoas a viver melhor.

Estadão
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