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Especialista: "IA não vai aposentar as pessoas precocemente"

Para Kimberly Ross, PhD pela Universidade de Princeton e executiva da Manhattan Associates, tecnologia “nos ajuda a trabalhar mais e melhor”

2 out 2019 - 09h00
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O uso de softwares de inteligência artificial (IA) já é uma realidade no mercado. Pesquisa feita pela consultoria Gartner com mais de três mil executivos de TI (Chief Information Office - CIOs), em 89 países, mostra que 37% das empresas entrevistadas estão investindo na tecnologia, um aumento de 270% na comparação com os anos anteriores. O relatório também aponta que 70% dos CIOs planejam introduzir novas ferramentas de IA em suas companhias até 2021.

Diante deste cenário, muitos profissionais questionam seu futuro no mercado de trabalho. Afinal, as máquinas podem substituir grande parte do trabalho humano e criar uma situação de desemprego permanente? Na opinião de Kimberly Ross, PhD em investigação operacional pela Universidade de Princeton e vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Manhattan Associates, a inteligência artificial não vai fechar portas no mundo corporativo. Pelo contrário. A executiva acredita que a inovação “nos ajuda a trabalhar mais e melhor”, complementando o trabalho humano.

Kimberly Ross, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Manhattan Associates.
Kimberly Ross, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Manhattan Associates.
Foto: Divulgação

Em entrevista ao Terra, Kimberly fala sobre o impacto da IA na vida das pessoas e na indústria de logística – onde a Manhattan atua e para qual criou um software que ajuda empresas na gestão de armazéns e estoques –, além de analisar o perfil de colaborador cada vez mais cobiçado pelo mercado.

Diretor comercial da Manhattan no Brasil, Marco Antonio Beczkowski também participou da conversa e comentou, no final da conversa, sobre o uso da inteligência artificial no País. Confira.

Terra: Como a inteligência artificial afeta nossas vidas?

Kimberly Ross: A inteligência artificial, especialmente no que diz respeito ao machine learning (aprendizado da máquina, na tradução para o português), está nos afetando de várias maneiras. Quando você recebe uma propaganda via celular, seja de produtos ou sugestões de filmes com base no seu histórico de pesquisa, a inteligência artificial está agindo. Esse processo também afeta nossa indústria, de logística, com os armazéns cada vez mais automatizados e operados por outro tipo de profissional, que sabe manejar essa tecnologia. No campo do marketing, o uso de amplas bases de dados (big data) se torna indispensável para desenvolver campanhas bem-sucedidas. Tudo tem mudado com essa onda de inovação.

Como devemos lidar com essas mudanças e usá-las em nosso favor?

Acredito que essas ferramentas novas nos completam e fazem de nós profissionais melhores. Somos beneficiários desse avanço, que aumenta nossa produtividade, nosso conhecimento e fornece insights para resolver problemas do dia a dia. Penso que, mais do que substituir mão de obra, a inteligência artificial nos ajuda a trabalhar mais e melhor. Ela não vai necessariamente aposentar as pessoas precocemente, mas complementá-las e mudar sua forma de trabalhar.

Você não vê risco de vivermos um desemprego estrutural, como é dito por alguns especialistas?

Creio que a forma de trabalhar está mudando, mas não diria que vamos criar menos empregos no futuro. No nosso mercado, a automação dos armazéns já ocorre há muito tempo e ganhou fôlego com a inteligência artificial e o machine learning, mudando a característica dos funcionários que contratamos. Porém, sempre haverá pessoas dentro dos armazéns para supervisionar os processos e aumentar a eficiência das máquinas. A inovação também abre espaço para desenvolver uma nova força de trabalho, voltada à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico.

Mas você não enxerga nenhum efeito negativo?

Na minha opinião, os efeitos positivos superam os negativos na maioria do tempo. É óbvio que cada indústria tem sua particularidade, mas a capacidade das máquinas de reunir uma vasta quantidade de dados e automatizar processos são aspectos muito positivos dessa evolução. 

Isso muda a maneira como as pessoas se preparam para o mercado de trabalho?

Com certeza. Eu, por exemplo, tenho um filho na faculdade, onde todos falam em ciência dos dados, inteligência artificial e machine learning. As pessoas estão realizando treinamentos, aprendendo esses conceitos nas escolas e aumentando seu conhecimento através de comunidades abertas de desenvolvedores. Não é obrigatório ter educação formal na área para atuar nesse mercado, as técnicas e algoritmos estão disponíveis na rede. O número de profissionais com essas habilidades tende a crescer muito nos próximos anos.

Quais são as habilidades que um profissional deve desenvolver para trabalhar no meio?

A ciência de dados tem uma base matemática muito forte, com estatística e informática sendo fundamentais. O indivíduo pode buscar cursos específicos para desenvolver essas habilidades, mas a experiência pessoal também conta muito. Hoje, existem vários canais para você aprender coisas novas e se desafiar, como disputas e “jogos” online entre desenvolvedores e programadores, que desenvolvem os melhores algoritmos para resolver um problema. Pensando nos mais velhos, também é preciso ter vontade de aprender e uma mente aberta ao novo. Muitos profissionais trabalham da mesma forma há tempos e não veem necessidade de mudar.

Existe um déficit de mão de obra qualificada na área?

Acho que não, porque isso tudo ainda é muito novo. Se pensarmos na indústria de logística, a maioria dos armazéns ainda é analógica – os que têm um grau maior de automatização fazem parte de um serviço premium. Contudo, é difícil, sim, achar colaboradores prontos para esse tipo de tarefa. Quem se preparar vai ter espaço, sem dúvidas. O ritmo de contratações no meio não vai diminuir em um futuro próximo.

Qual é o perfil do profissional que vocês costumam recrutar?

Esse é um dos assuntos mais quentes do momento, pois a demanda por esse profissional é alta. Temos muitos recém-formados em ciência dos dados e engenharia, focados em software e técnicas avançadas de machine learning. São recém-graduados, mas com algum grau de experiência em processamento de grandes quantidades de dados, com capacidade para resolver problemas complexos em pouco tempo.

E como as empresas devem se preparar?

Os dados são o elemento mais importante da nova economia. Armazenar a maior quantidade possível de informações, dentro dos limites legais, é primordial – mesmo sem ter, em um primeiro momento, uma estratégia definida para usá-los. Quem souber guardar e interpretar os dados da melhor maneira possível terá uma vantagem competitiva considerável.

Qual é o erro mais comum das companhias no uso dos dados?

Ser muito ambicioso no tipo de problema que quer resolver, mas sem os dados disponíveis para tal. Você precisa de muitas informações para utilizar bem ferramentas como inteligência artificial e machine learning. Grande parte das falhas ocorre pela falta de dados. Não adianta os nossos clientes pedirem, por exemplo, uma estimativa precisa do tempo de viagem de um carregamento sem dados sobre as condições climáticas e o trânsito, essenciais para a resposta.

E como você vê a questão da privacidade nesse debate?

Precisamos ser muito cuidadosos e transparentes. Toda informação de um indivíduo precisa ser protegida pelo anonimato, sem revelar sua identidade. Nós não podemos usar informações pessoais nos algoritmos, como localização e dados de pagamento. É permitido guardar informações sobre o comportamento de cada consumidor, mas sem a sua identidade no pacote. Como empresa, é importantíssimo seguirmos essas regras. Afinal, espero que os sistemas que eu uso como consumidora também sejam seguros. Por outro lado, os usuários também precisam ter cuidado e se informar sobre os dados que eles estão disponibilizando na internet.

Países como a China não têm as mesmas barreiras de nações democráticas para coletar informações dos seus cidadãos. Isso dá a eles uma vantagem competitiva?

Provavelmente, eles estão coletando mais dados do que qualquer um no mundo. Com certeza estão usando essa base para fazer coisas que nem imaginamos. Mesmo que não tenham acesso a ferramentas como Facebook e Google, eles têm outros meios para armazenar informações.

Voltando a falar mais especificamente em inteligência artificial, como o Brasil está posicionado nesse cenário?

Marco Antonio Beczkowski: Ainda estamos atrasados em relação aos países desenvolvidos. Existe um hype nas empresas locais, com muito marketing em torno do tema. Acho que ainda vai demorar um pouco para colocarmos os pés no chão e passarmos a resolver os problemas reais. Nossos clientes já estão querendo superar o hype e saber especificamente como podemos ajudá-los com as novas tecnologias. 

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Fonte: Redação Terra
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