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'É preciso pensar a educação do ponto de vista do aluno', diz ex-ministro britânico

Responsável por serviço para treinar professores, Lorde Jim Knight crê que inovação pode ajudar educação em país de escala como Brasil

23 mar 2019 - 05h11
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Uma plataforma online para treinar professores à distância, com mais de um século de tradição em educação. Trata-se do serviço britânico TES Institute, utilizado por mais de 11,5 milhões de educadores no mundo, com foco especial em países de língua inglesa. Seu chefe é o britânico Lorde Jim Knight, ex-ministro da educação no governo de Gordon Brown. Desde 2015, ele tem a tarefa de comandar o braço digital da TES Global, uma revista de educação criada em 1910.

"Damos às escolas a chance de construírem talentos e materiais próprios, em vez de importar conhecimentos", diz Knight ao Estado. Sua experiência na área, com a capacidade de resolver problemas complexos da educação do País, chamou a atenção de estudantes brasileiros da Universidade Stanford. Ele será um dos convidados da Brazil at Silicon Valley, conferência prevista para os dias 8 e 9 de abril, na Califórnia - o evento é apoiado por nomes como Jorge Paulo Lemann e Luciano Huck.

Em Stanford, Knight discutirá como a inovação pode ajudar a treinar professores em qualquer lugar e melhorar a eficiência do ensino. Na plataforma, além de receber orientação, os educadores podem também divulgar seus trabalhos - como provas, exercícios e apresentações - e oferecê-los a colegas.

Ao Estado, Knight já deu pistas de como pretende "atacar" o problema: "O Brasil é um país de escala - e quanto mais professores se tem, mais faz sentido usar uma plataforma online, de grande alcance", diz ele. Mas ele evita respostas fáceis. "Cada país tem uma realidade e é importante pensar a educação do ponto de vista do estudante."

Como o sr. define o TES Institute?

Nosso papel é manter os professores informados, colocando-os em contato com materiais escolares e facilitando a conexão entre eles. Começamos essa relação quando eles entram na profissão. Acreditamos no poder da educação de qualidade - e o treinamento de profissionais é responsável por pelo menos metade desse resultado.

Como foi criar um braço digital em uma empresa centenária?

Tivemos uma grande jornada para abraçar as tecnologias necessárias e passar de uma publicação no papel para um negócio de software. É uma enorme transição. Hoje, temos a maior coleção de treinamento online em língua inglesa e uma relação estreita com as escolas, dando a elas a chance de construírem talentos e materiais próprios em vez de importar conhecimentos prontos de universidades.

A criação da plataforma digital conseguiu aumentar a qualidade da educação?

Hoje, temos 11,5 milhões de usuários e temos muito orgulho disso. Também passamos por inspeções escolares regulares e fomos reconhecidos como uma boa instituição. Além disso, o fato de ser um serviço online e em inglês nos permite explorar nossa capacidade com mais eficiência - já ajudamos professores em Zâmbia, na África, a desenvolverem suas técnicas de ensino.

O Brasil tem estatísticas ruins em educação. Como plataformas digitais podem aumentar a eficiência do País na área?

Estive no Brasil algumas vezes. Tenho como verdade que o que funciona em um país não necessariamente funciona em outro: temos diferentes pontos de partidas, apesar dos conhecimentos e desafios serem universais, como a retenção de professores. É importante pensar a educação do ponto de vista do ponto de vista do estudante. Os alunos têm diferentes históricos e isso faz com que as classes tenham panos de fundo diferentes. Por isso, a importância do treinamento dos professores. O Brasil é um país de escala - e quanto mais professores se tem, mais faz sentido usar uma plataforma de grande alcance. Outra vantagem é que o conteúdo online pode ser constantemente atualizado, não é algo imutável como uma apostila impressa. Por enquanto, nossa plataforma só está disponível em inglês, mas estamos conversando com a Fundação Lemann, temos uma boa relação.

Qual é o maior desafio de um professor hoje?

Vivemos uma época de mudanças sem precedentes. Quando eu ia à escola, o que já faz um tempo pois tenho 54 anos, era diferente: se você se dedicasse e passasse nas provas, teria uma vida estável. O sistema de educação ainda é baseado nesse modelo, mas hoje a única certeza é a incerteza: não sabemos como serão as profissões do futuro.

Muita gente critica o uso de tecnologia nas salas de aula. O que sr. acha disso?

É uma ferramenta. A partir da experiência que temos todos os dias, sabemos que a tecnologia tem grande potencial. É necessário garantir que as pessoas saibam que hora devem se desligar. Também precisamos garantir um ensino feito de um humano para outro humano - como ferramenta, a tecnologia deve ser usada de forma estratégica.

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas

Estadão
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