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Empresário conta como deixou a XP e abraçou a inovação

Hoje Marcelo Maisonnave é sócio em sete negócios da 'nova economia', como a empresa de educação StartSe e o robô de investimentos Warren

18 set 2019 - 05h11
(atualizado às 10h47)
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Nos últimos anos, o gaúcho Marcelo Maisonnave mudou seu estilo de vida: fã de carros velozes, agora não tem mais automóvel. Trocou os sapatos de couro pelo tênis e calça jeans, passou a comer menos carne. E saiu do mercado financeiro, no qual ficou conhecido por fundar a corretora de investimentos XP, para abraçar o mundo da inovação. Hoje, ele é dono de sete diferentes negócios da nova economia, como a empresa de educação StartSe e o robô de investimentos Warren, que rivaliza inclusive com sua antiga empresa.

Essa transformação pessoal e profissional é o mote de Empreendedores, livro que ele está lançando com os sócios Pedro Englert e Eduardo Glitz - outros dois ex-XP que também começaram a empreender. "Empreender é tentar fazer diferente, não esperar que a mudança chegue", diz Maisonnave ao Estado. Para ele, pouco importa a fortuna que tem acumulada. "Dinheiro é bom, te dá estabilidade, mas nunca foi o objetivo. O que me dá prazer é trabalhar com gente."

Empresário Marcelo Maisonnave lança livro que conta como deixou a XP e abraçou a inovação
Empresário Marcelo Maisonnave lança livro que conta como deixou a XP e abraçou a inovação
Foto: Pixabay

Na entrevista a seguir, Maisonnave fala sobre sobre sua jornada e aconselha quem precisa passar pelo mesmo processo de transformação "digital". "Não é uma fase que vai passar, é uma inquietação que só vai aumentar", diz. Ele também fala sobre a XP ("não tem o modelo mais atual de investimentos"), a busca por inovação dos grandes bancos e como vê o futuro da tecnologia. "Haverá tanta digitalização que será um desafio mobilizar a massa de pessoas que serão deslocadas por ela", diz.

O título do livro é Empreendedores. Todo mundo nasceu para ser empreendedor?

O empreendedorismo pode se revelar em vários graus e formatos. Não precisa abandonar seu emprego, fundar uma empresa e ir até o final. Empreender é ter iniciativa, juntar elementos e fazer algo diferente. Tem algo errado? Vai lá, conserta, resolve. Muita gente não empreende por estar na zona de conforto, o que eu sou radicalmente contra. Não precisa correr grandes riscos: empreender é tentar fazer diferente, não ficar esperando que a mudança chegue.

Muita gente te conheceu como fundador da XP. Agora, com o livro, você está falando de inovação. O que você tem feito nos últimos anos?

Eu tenho me dedicado como empreendedor a várias ideias: gosto de participar negócios em que acredito. Tenho trabalhado mais com fintechs, pelo background no mercado financeiro e achar que posso ajudar a criar novos negócios. Eu participo de uma empresa de investimentos, a Warren, bem como em negócios de meios de pagamento, créditos, remessas internacionais e serviços. Não sou investidor: eu gosto de participar. Além disso, há a StartSe, um projeto que tem várias faces, mas que basicamente quer mostrar para as pessoas que a economia mudou, existe uma grande oportunidade e também um grande risco para quem não se atualizar.

No começo do livro, você, bem como o Pedro e o Eduardo, vão ao Vale do Silício para se inspirar. Quem não tem recursos para viajar deve fazer como para entender esse novo mundo?

Viajar sempre é bom, mas sei que não é para todo mundo - especialmente em uma viagem dessas, super cara. Para usar um eufemismo, acho que a pessoa pode viajar nas leituras, em estar aberta ao mundo de outras formas. Com uma madrugada no Google, dá para ir longe.

E é possível se inspirar com exemplos do que ocorre no Brasil?

Sim. Temos empreendedores fantásticos por aqui. Não são só unicórnios, como 99 e Nubank, mas vejo o Brasil florescendo empreendedorismo, com aceleradoras em muitas cidades e uma sensibilização dos governos.

Quando você deixou a XP, tinha uma fortuna no bolso. Por que empreender e não curtir esse dinheiro?

É o espírito da coisa. Dinheiro nunca foi o objetivo. Se você falar com os empreendedores, eles não trabalham pelo dinheiro. Talvez eu fosse empreendedor antes de saber que isso é um conceito, um estilo de vida: gosto de conectar coisas, trabalhar com pessoas e tentar ideias novas. Dinheiro é bom, claro, te ajuda a conquistar sonhos e estabilidade, mas o que me dá prazer é trabalhar com gente.

Muita gente hoje já entendeu que precisa passar por uma transformação digital, mas não sabe por onde começar. Que conselho você dá?

De fato, já está claro que bate à nossa porta algo diferente. A gente não imaginava que a concorrência pode vir de onde menos se espera, que um aplicativo como o Uber ia impactar a venda de carros. É uma inquietação que só vai aumentar, não é uma fase que vai passar. É preciso estar de cabeça aberta, não é uma transformação que se faz sozinho. É difícil ser uma voz isolada pedindo mudança em uma grande corporação. O desafio é trazer mais pessoas nesse movimento. É um desafio para o País: não é só transformar as organizações, isso afeta a competitividade de todo o Brasil. Os ciclos econômicos afetam o empreendedorismo - as startups que hoje estão bem cresceram em períodos mais difíceis, trabalhando com tecnologia e ligados aos novos hábitos dos consumidores. Há outras oportunidades, é só abrir os olhos.

Vemos uma primeira onda de grandes fintechs no País. Onde há espaços para inovar nesse setor?

Há muitas oportunidades. É preciso saudar a atuação do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que tiveram abertura para criar essa flexibilidade regulatória, estão ouvindo o mercado e promovendo competição. O mercado de meios de pagamento está muito avançado. Crédito tem grandes oportunidades. Seguros também, mas por ser um setor bastante regulamentado, ele pode ter algum nível de flexibilização para que as oportunidades de inovação apareçam. É muita coisa: o que estamos vendo é só uma primeira onda de digitalização da economia.

Boa parte das fintechs é bem sucedida ao fazer bem uma parte do que os bancos faziam. Ao crescerem, elas também começam a oferecer cada vez mais produtos - e perigam ir pelo mesmo caminho que os rivais. Há uma armadilha aí?

Há uma diferença: quando um Banco Inter ou Nubank criam algo novo, eles buscam fazer produtos sensacionais. O banco é muito mais centrado no produto que no cliente final. A quantidade de agências, a presença forte dos bancos na vida das pessoas, isso gerou uma certa zona de conforto. A lógica é diferente, mas existe sempre a armadilha da startup perder sua rebeldia com o mercado. Não é algo que está acontecendo. O que estamos vivendo é a quebra do status quo - você vê a guerra das maquininhas, a busca por transferências instantâneas, a flexibilização do crédito. Antes, investimento era só nos bancos, depois nas plataformas. Agora, vai ser tudo gerenciado digitalmente. Acredito que muitos modelos de negócios vão surgir.

Como o sr. vê a busca por inovação dos grandes bancos?

Eles estão evoluindo, buscam uma linguagem mais aberta e flexível. Mas são estruturas grandes, pesadas: trazer essa mudança do centro até as pontas, até o consumidor, é difícil.

A XP se uniu a um grande banco. Como o sr. vê sua antiga empresa?

Tenho uma grande admiração por quem está lá, meu legado segue lá. Mas o modelo da XP não é o modelo mais atual, baseado em transparência, em um jeito novo de investir, sem conflito de interesses.

Que Brasil você imagina em cinco anos?

Tenho grande expectativa de que vamos colher frutos com a reforma da Previdência. Vamos ter um ciclo bom de Brasil, oportunidade de voltar a crescer. Tomara que usemos isso para fazer mudanças estruturais, melhorar educação e infraestrutura, entrar num ritmo de crescimento. Estou otimista.

Dá para fazer tudo isso com inclusão social?

Claro que dá. Crédito, conta corrente a custo mais baixo, acesso à informação. O YouTube hoje é uma plataforma de educação fácil e barata. Claro que nem todo mundo tem internet, é uma das mudanças necessárias, mas isso é extremamente inclusiva.

E qual o futuro da tecnologia?

Essa é uma pergunta mais complicada. Teremos um grande desafio com o futuro do emprego: vai haver tanta digitalização que será um desafio mobilizar essa massa de pessoas que serão deslocadas. Mas acredito que vamos achar uma saída: é uma discussão que já aconteceu na Revolução Industrial e na Revolução dos Computadores. Vai dar tudo certo.

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