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Com aporte de US$ 700 mi, Kavak se torna a segunda startup mais valiosa da América Latina

Empresa mexicana desembarcou no Brasil em 2021 e conta com mil funcionários no País; startup tem colhido bons frutos tanto do mercado de carros usados quanto do setor de inovação

22 set 2021 - 18h05
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Há um novo cheque gigante entre as startups da América Latina. A mexicana Kavak, que atua na compra e venda de automóveis seminovos e usados online, anuncia nesta quarta-feira, 22, uma rodada de investimento de US$ 700 milhões. Com isso, a empresa chega ao valor de mercado de US$ 8,7 bilhões, consolidando-se como a segunda startup mais valiosa da região, atrás apenas do Nubank, avaliado em US$ 30 bilhões.

O aporte foi liderado pela firma americana de capital de risco General Catalyst, que já investiu em empresas como Airbnb e Snapchat - a rodada também contou com a participação de outros investidores como SoftBank, Tiger, Spruce House, D1, SEA, Founders Fund e Ribbit. O cheque chega apenas cinco meses após a última rodada de investimentos da Kavak, que envolveu US$ 485 milhões e fez a empresa atingir avaliação de mercado de US$ 4 bilhões.

A Kavak foi a primeira startup mexicana a alcançar o título de "unicórnio" (nome dado a empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão). Fundada em 2016, a startup é uma espécie de Loft do mercado de automóveis: ela compra e vende carros usados em uma plataforma digital. Com uma oficina própria, a empresa recondiciona completamente o automóvel antes de colocá-lo à venda no site - o comprador pode fazer o financiamento no mesmo sistema. Além disso, o carro tem dois anos de garantia e manutenção. Em julho, a mexicana, que também opera na Argentina, oficializou sua chegada ao Brasil.

A nova captação tem como objetivo colocar mais gasolina no tanque da Kavak, que opera em um mercado aquecido. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), foram vendidos de janeiro a agosto 7,6 milhões de automóveis e comerciais leves (picapes e vans) usados no Brasil, 48,8% a mais em relação ao mesmo período de 2020 - o volume também é 6,6% maior na comparação com 2019.

Crescimento

Os recursos da rodada serão usados para sustentar a expansão global da Kavak. "Nosso negócio é muito complexo de ser escalado. É uma solução de ponta a ponta: não só resolvemos a parte transacional com o cliente, mas também atuamos do lado do dono do carro. Com a aceleração do mercado de carros usados, estamos tendo mais demanda do que podemos atender", afirma Roger Laughlin, cofundador e presidente executivo da Kavak no Brasil, em entrevista ao Estadão.

Ele explica que o capital ajudará a alavancar o produto da Kavak na América Latina e também em novos países - o executivo não revela quais outros lugares receberão a operação da startup, mas diz que o mercado asiático é um dos possíveis destinos.

Com o reforço no caixa, as fichas colocadas no Brasil também vão aumentar. Em julho, ao oficializar sua chegada ao País, a Kavak revelou um investimento inicial de R$ 2,5 bilhões. Sem dar detalhes de valores, Laughlin confirma que esse número vai crescer com o novo cheque.

A operação brasileira da Kavak está ganhando tração. A empresa iniciou as atividades com 500 funcionários no País e chegou a mil pessoas neste mês - a princípio, essa era a meta de equipe para dezembro. A cidade de São Paulo tem atualmente sete lojas da startup e o plano é dobrar esse número nos próximos dois meses. A Kavak deve chegar a Campinas e Sorocaba ainda neste ano.

"Ficamos mais de 4 anos focados na cidade do México para entender nosso produto, o consumidor e estratégias de escala. O fato de agora lançarmos novos países não significa que perderemos o foco nos mercados em que já atuamos", diz Laughlin. "Não queremos decidir entre dar recursos para um lugar ou outro. Por isso captamos essa nova rodada".

Congestionamento

A Kavak não é a única startup que aposta no mercado de compra e venda de carros usados. O unicórnio brasileiro Creditas adquiriu em julho a Volanty, startup voltada a compra e venda de veículos fundada em 2017. Em agosto, outra startup brasileira do setor, a InstaCarro, recebeu aporte de R$ 115 milhões. Há também a Carupi, criada no fim de 2019, e a plataforma argentina Karvi, que chegou ao Brasil no ano passado para vender carros novos, seminovos e usados de forma integrada com o estoque de mais de mil concessionárias e lojas independentes do País.

Na visão de Gilberto Sarfati, professor da FGV, o novo cheque da Kavak deve chacoalhar o segmento: "Os concorrentes brasileiros vão sofrer bastante com o tamanho do caixa e da operação da Kavak, que é a maior do setor atualmente", diz.

Para a Kavak, porém, haverá um desafio que é comum na dinâmica das startups: mostrar que o negócio é rentável. Por investir pesadamente em acelerar o crescimento, a empresa ainda não tem lucro. A Kavak enxerga que isso é parte do processo.

"Nossos custos fixos hoje são maiores do que podemos diluir, mas não conseguiríamos captar as rodadas que levantamos se não tivéssemos um caminho claro para o lucro", afirma Laughlin.

'Rayando el Sol'

Além do crescimento do mercado de carros usados, a mexicana tem colhido frutos de um momento favorável no mercado de inovação. Essa combinação tem criado uma avenida de oportunidades, afirma Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) e colunista do Estadão. "Com a pandemia e a valorização do câmbio, o preço dos carros aumentou muito, favorecendo o crescimento dos veículos usados. Ao mesmo tempo, os valores de investimentos em startups latinas estão cada vez maiores, evoluindo para as chamadas megarrodadas", diz.

As megarrodadas, que têm sido protagonizadas principalmente pelos unicórnios, atingiram um novo patamar em 2021. Em 2018, o maior aporte levantado por uma startup latino-americana foi do iFood, com um cheque de US$ 400 milhões. Neste ano, o Nubank abocanhou um investimento de US$ 1,15 bilhão, o maior da história na região. Além disso, o aporte de US$ 525 milhões levantado pela Loft em abril também está entre as maiores rodadas da América Latina. A Kavak ocupa agora o terceiro e o quinto lugar do ranking, segundo dados da empresa de inovação Distrito.

As startups latino-americanas têm se favorecido de fatores como a presença de mais investidores com capital disponível para investimentos de risco, a alta adoção de tecnologia (turbinada pela pandemia) e, claro, a maturidade do ecossistema de inovação da região.

Estadão
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