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Brasil precisa de modelo sólido de inovação, diz especialista em tecnologia

Apesar do bom momento das startups, País não avançará se não houver métodos e regras definidos, defendeu Martha Gabriel em painel do evento 'Estadão Summit Brasil - O que é poder?'

30 out 2019 - 16h51
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Embora o cenário brasileiro de startups atravesse um bom momento, com direito a uma geração de unicórnios (startups avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão), o Brasil ainda precisa construir um modelo nacional sólido para gerar inovação. Esse foi o tom do painel O Poder da Tecnologia e da Inovação, apresentado durante a conferência Estadão Summit Brasil - O que é poder?, realizada nesta quarta-feira, 30, em São Paulo.

"Quem tem tecnologia tem poder. Atualmente, está acontecendo uma guerra fria por causa da tecnologia", disse Martha Gabriel, autora de livros como Você, Eu e os Robôs: Pequeno Manual do Mundo Digital. Para ela, é necessário não apenas dinheiro, mas também regras e métodos definidos para que o Brasil se transforme num importante ator do mundo tecnológico. Na visão da especialista, isso deveria partir do governo, num amplo plano que contemple educação e adaptação da sociedade.

Como exemplos de países que embarcaram num amplo plano tecnológico, ela cita Canadá, China, Índia e Israel. Já entre as áreas tecnológicas com alto poder transformador, ela aponta inteligência artificial, internet das coisas, big data, robótica, nanotecnologia, impressão 3D, blockchain e computação quântica. Em todas elas, o Brasil tem talentos que acabam deixando o País por falta de melhores condições nacionais.

"Quando você gera regras e métodos, você contamina o ambiente, e mantém as pessoas no País. Do contrário, vamos continuar perdendo talentos para fora", avaliou Martha. A fuga de cérebros é uma preocupação constante no Brasil - no último final de semana, o físico mineiro Fernando Brandão, que participou do computador quântico do Google, tocou nesse assunto em entrevista ao Estado.

O papel da economia de modo mais amplo na sustentação do ambiente para a inovação também foi citado. "Nos EUA, se uma startup der errado, a pessoa consegue arrumar um emprego no dia seguinte. Aqui, o empreendedor morre de fome", argumentou Eduardo Glitz, cofundador da empresa de educação continuada Startse. Durante o painel, Martha citou ainda iniciativas de países como Israel, onde o governo faz empréstimos a investidores que só são pagos de volta caso a empresa atinja um determinado nível de sucesso.

Informação não é poder; pensamento crítico é

"A tecnologia distribuiu ou concentrou poder?", provocou Pedro Doria, colunista do Estado e mediador do painel. Para Glitz, a tecnologia democratiza o acesso, mas não necessariamente gera mais igualdade social ou distribuição de renda.

A própria informação que o acesso à tecnologia gera também já não tem mais tanta importância quanto antigamente."A informação só era importante quando era escassa. Agora, quase todos têm acesso. O que importa a partir de agora é o pensamento crítico. Sem ele, é impossível saber o que fazer com as informações", argumentou Martha. "Isso é ainda mais crítico numa era que transitam informações feitas para confirmar aquilo que acreditamos."

Por conta disso, a dupla ressaltou o papel da educação e da inclusão de mulheres e minorias no desenvolvimento de tecnologia. "Infelizmente, esse não é um processo que acontece da noite para o dia", disse Glitz. "As empresas tecnológicas, que estão ficando sem mão de obra, também vão precisar investir". O executivo da StartSe também se mostrou bastante cético em relação ao papel do governo para fomentar a educação e mais animado com aquilo que as empresas e investidores podem fazer.

O Estadão Summit Brasil é inspirado na série de artigos e debates intitulada The Big Ideas, do jornal The New York Times. De maio a junho deste ano, o jornal publicou 14 textos de pensadores, ativistas, escritores e ensaístas sobre o tema "poder".

Estadão
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