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Avaliada em R$ 1,5 bi, Loft quer revolução na habitação

Fundada em 2018, startup atrai fundos do Vale ao usar tecnologia para dar eficiência a reforma e venda de imóveis usados

8 mai 2019 - 05h11
(atualizado às 06h23)
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Toda startup que sonha ser grande precisa resolver bem a dor de um mercado - e o mundo dos imóveis usados está cheio delas. Para quem quer se desfazer de um apartamento, a baixa liquidez e a demora para conseguir compradores pode ser um tormento. Para quem está em busca de um lar, é difícil ter certeza das condições do local. Além disso, determinar um preço justo por um imóvel é uma incógnita - há incertezas demais para saber se alguém está levando vantagem. Para os fundadores da Loft, porém, esses são problemas com dias contados: fundada em agosto de 2018 e avaliada em R$ 1,5 bilhão, a startup paulista quer revolucionar o setor imobiliário.

Instalados em quatro andares de escritórios na rua Augusta, os 135 funcionários da empresa usam tecnologia para dar novo gás a um negócio antigo: comprar, reformar e vender apartamentos. Antes de abrir operações em um bairro, a Loft levanta todas as matrículas de imóveis da região. Depois, insere as informações em um banco inteligente para saber, com precisão, qual seria o preço justo a ser oferecido, à vista, para quem deseja vender seu imóvel.

Na hora da reforma, a empresa trabalha com padronização e eficiência de custos - tem uma linha de parceiros predeterminados nos materiais e busca sincronizar obras próximas; se possível, até nos mesmos edifícios.

É uma tática que Mate Pencz e Florian Hagenbuch, os dois presidentes executivos da Loft, conhecem há tempos: foi a estratégia que usaram para fazer da Printi, sua primeira startup, uma das principais gráficas do País, com faturamento acima de R$ 100 milhões ao ano. Com a reforma, claro, a empresa busca aumentar o valor dos imóveis que vende. "Vamos dar um selo de garantia a um apartamento usado", diz Pencz.

Para o comprador também há vantagens: o custo da reforma, que costuma ser desembolsado a curto prazo, acaba embutido no valor e pode ser incluído num financiamento - a Loft trabalha com parceiros tradicionais, em linha com o mercado.

Para Guilherme Fowler, professor de empreendedorismo do Insper, a empresa precisa consolidar sua marca no mercado para que a ideia dê certo. "A reforma não é como eles ganham dinheiro, mas sim como tornam palpável, para o consumidor, que estão reduzindo a assimetria de informações do setor", diz.

Bairro a bairro

Por enquanto, a Loft está em quatro bairros de São Paulo - Itaim, Jardim Paulistano, Jardins e Vila Nova Conceição. O valor mínimo dos imóveis, que dificilmente são menores que 70m², está na casa de R$ 1 milhão. É uma tática que replica, com casas, o que a Tesla fez com os carros elétricos: vender modelos de luxo para provar o negócio e, assim, ganhar escala. "São bairros com oferta limitada, alta demanda e valor estável - mais simples para quem busca testar um modelo de negócios", afirma Alberto Ajzental, professor s da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Até o fim do ano, o plano da startup é de chegar a 12 bairros, em vizinhanças como Paraíso e Perdizes - a metragem mínima e o preço também devem cair, respectivamente, para 30 m² e R$ 500 mil, acredita a empresa. Até lá, a Loft também planeja triplicar sua execução - hoje, consegue fazer cem reformas simultâneas. Nesta temporada, estima gerar cerca de R$ 2 bilhões em valor geral de vendas. Tem ainda 90 vagas abertas - a meta é fechar 2019 com até 300 pessoas.

Em 2020, a Loft quer chegar a outras capitais, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, bem como metrópoles latinas como Cidade do México. "Temos um negócio global, mas que está sendo construído a partir do Brasil", diz Pencz. Para fazer isso, ele e Florian recrutaram outros cinco cofundadores, com experiências prévias nos mercados financeiro e imobiliário - caso de João Vianna, que tocava a Maison São Paulo, startup de perfil parecido com o da Loft, mas restrita aos Jardins.

A ambição fez a Loft atrair investidores de peso: já levantou duas rodadas de investimento, de US$ 18 milhões e US$ 70 milhões, respectivamente. Entre os apoiadores, estão fundos do Vale do Silício, como o Andressen Horowitz e QED, ou empreendedores do porte de Mike Krieger (cofundador do Instagram), Hugo Barra (vice-presidente do Facebook) e David Vélez (do Nubank). Além disso, a empresa tem um fundo imobiliário vinculado ao Credit Suisse Hedging Griffo (CSHG) - que pode, inclusive, receber investimentos de quem vende um apartamento para a Loft.

Trilho urbano

Mais do que reformar e vender imóveis, a Loft quer acompanhar as pessoas ao longo da vida. Para isso, a empresa estuda uma forma de sair do "preto ou branco" - isto é, comprar ou alugar. "Queremos que a pessoa possa escolher ser dona de um pedaço de seu imóvel, sem precisar ter o ônus de financiar 100%", diz Pencz.

O modelo está longe de ser fechado, mas se assemelha, segundo ele, a um 'leasing' de imóveis - ao fim do contrato, o usuário pode comprar 100% do apartamento ou trocar sua parte por um novo contrato em outro imóvel, mais adequado à sua fase de vida. "As pessoas sempre vão casar, ter filhos ou morrer", diz. "O que queremos é ajudar o usuário a morar com eficiência." Para Ajzental, da FGV-SP, é uma ideia de difícil execução. "Vai ser difícil caber no bolso do usuário a parcela de financiamento e a remuneração deles pelo capital investido."

Outra ideia, já mais perto de se tornar realidade, é oferecer serviços aos compradores de seus imóveis - da mudança à academia ou limpeza doméstica. "As construtoras entregam a chave e vão embora", afirma Hagenbuch. "Para nós, a jornada começa ali."

Para Fowler, a iniciativa mostra que a Loft quer ser um negócio de plataforma. "Se der certo, eles não só podem resolver a dor da habitação, mas de viver numa grande cidade."

Estadão
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